Foice, facão, peixeira, martelo, porrete, cassetete e balaústre são algumas das armas que os “guardiões do Parque Santa Edwirges†estão utilizando com o objetivo de proteger suas casas contra roubos e furtos. Eles alegam descaso da Administração Municipal e da polícia em relação ao bairro. Os dados da Polícia Militar (PM) não indicam aumento de violência na região. Os moradores, no entanto, afirmam que deixaram de fazer o registro das ocorrências por descrédito em relação à instituição policial.
O sentimento de abandono entre moradores do Parque Santa Edwirges está impulsionando as pessoas a procurar seus próprios recursos na tentativa de combater o crime.
Desesperados, proprietários de onze casas do bairro uniram-se para montar uma vigília noturna. Armados de pedaços de pau, foices e facões, entre outros objetos, eles instalam-se no cruzamento das alamedas Marte e Alexandria das 23h30 às 3h30 da madrugada do dia seguinte.
Entre os novos “vigias†do Parque Santa Edwirges, está um casal de idosos de 70 e 64 anos. Eles preferem juntar-se ao grupo a ficar em casa com medo de invasões, apesar do cansaço no dia seguinte pela falta de uma noite bem dormida.
“Não se dorme mais neste bairro! Isso não é vidaâ€, reclama a moradora Maria Tereza de Fátima, que na última semana teve sua casa invadida duas vezes. Ela conta que os ladrões não escolhem hora nem dia para entrar nos imóveis. Furtam casas vazias ou roubam na presença de pessoas. Ameaçam idosos, crianças, mulheres e homens. Os casos - que eles contam em detalhes - são inúmeros.
A comunidade afirma que os furtos e roubos têm aumentado no bairro, ainda que os registros policiais não indiquem. “Da primeira vez, registrei um boletim de ocorrência, mas não adiantou. Da última vez, não procurei mais a políciaâ€, diz Natalino da Silva, cuja casa foi furtada três vezes no último mês.
“Cada dia é uma casa. E agora eles deixam avisado que vão voltarâ€, preocupa-se Jaqueline Aparecida Damázio. Na manhã de terça-feira, ela surpreendeu-se ao ver os vidros de sua casa estourados - sinais da tentativa de furto.
Entre outros moradores, Adalino da Silva, 76 anos, reclama da demora da polícia para chegar no local do crime após o chamado através do 190. “Dá tempo do vagabundo fazer café, bolinho, tomar café com as duas mãos e sair com calma. A gente não dorme mais. O que é isso? Queremos a polícia mais presente. Não vamos enfrentar os bandidos com as mãosâ€, enfatiza.
Para o morador J.G.S., 36 anos, que preferiu preservar seu nome, a solução é a instalação de bases móveis da PM nas imediações dos bairros da área Noroeste. “Precisamos de viaturas rodando pelo bairro. Na minha casa, se entrar bandido eu corto os dois pulsos deleâ€, afirma.
Outra reclamação dos moradores é a precariedade da iluminação pública, que facilitaria os assaltos, e o mato alto, em que os ladrões escondem-se. “Já reclamamos, mas a Prefeitura não toma iniciativaâ€, pontua Mauro Pereira, 33 anos.
Buracos prejudicam patrulhamento da PM
Não só as casas, os estabelecimentos comerciais, as redes de água e esgoto são prejudicados pelos buracos das vias públicas de Bauru. Policiais militares reclamam que as más condições de ruas e avenidas são fatores que dificultam o patrulhamento, colocando em risco a segurança da população.
De acordo com o tenente Renato Ramos, comandante interino da 3.ª Cia da Polícia Militar, os policiais estão enfrentando dificuldades no patrulhamento de muitos bairros, entre eles o Santa Edwirges, devido aos inúmeros buracos das ruas.
“Tem ruas intransitáveis e não há como chegar ao local. Estamos com dificuldades tremendas de entrar nos bairros. Nós sofremos isso 24 horas por dia porque rodamos o tempo todo por esses locais. A segurança pública sofre com os buracos e com a falta de pavimentaçãoâ€, salienta.
Entre os bairros em que as ruas estão em más condições, Ramos cita o Parque Santa Edwirges, Jardim Vânia Maria, Parque Jaraguá, Fortunato Rocha Lima, Parque Roosevelt, Jardim Petrópolis e Alto Alegre.
O problema gera gastos adicionais com manutenção de veículos também para a PM. “O desgaste das viaturas é imenso. Temos muitas baixas de viaturas em função dissoâ€, frisa.
Ocorrências
Baseado nos registros da PM, o tenente Ramos afirma que o índice de violência nos 25 bairros da região Noroeste, entre eles o Parque Santa Edwirges, tem se mantido estável.
Ele cita o número de furtos e roubos em janeiro deste ano, que caiu em relação ao mesmo mês do ano passado. “Hoje, conseguir estabilizar uma área é um bom sinal, já que a população está aumentando. Os números não mudaram muito e ainda estão dentro do aceitável. Mas o ideal seria zeroâ€, expõe.
Quanto ao mês de fevereiro, cujas estatísticas apontam uma alta na criminalidade registrada, Ramos explica que geralmente é um mês atípico. Ano a ano, os crimes aumentam bastante - acredita-se que, em parte, devido ao Carnaval.