Até pouco tempo, o orgasmo era tido como direito só do homem. Agora ele passa a ser o objeto de desejo das mulheres, que não aceitam mais ter uma vida sexual apenas para cumprir a tarefa de esposa e querem também qualidade de vida na cama, para que se sintam plenas.
Segundo uma pesquisa feita pelo Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP), de cada 100 mulheres atendidas pelo programa, 35 não estão contentes com a vida sexual que levam.
A psicóloga e terapeuta sexual Maria Lúcia Bien explica que as mulheres de hoje querem sair da passividade, temem a traição e não têm o menor pudor em buscar o ginecologista para falar sobre seus problemas. No consultório, muitas vezes, ela descobre que a falta do desejo não é orgânica e sim fruto da própria repressão que marca a história feminina.
Mas a terapeuta diz que nesta nova revolução sexual, que busca a liberdade de fazer sexo e com prazer, a mulher moderna leva vantagem em relação aos homens por ser aberta e corajosa. Diferentemente da mulher dos anos 60 e 70, que conquistou a liberdade sexual, ainda cerceada pelos tabus da educação rigorosa dos pais conservadores. “Ela passa a fazer tratamentos, reposições hormonais, lê muito e não tem vergonha de buscar o conhecimento da sua própria sexualidade.â€
Muitas vezes, elas buscam o prazer, mas relutam em trabalhar com seus conflitos e vão ao consultório para buscar todas as formas e reverter essa situação, seja com 20 e poucos ou 50 e muitos anos.
“A gente nota que quando a mulher se sente bem e feliz, ela passa a se apaixonar por muitas outras coisas na sua vida. Uma mulher sexualmente feliz não quer dizer que ela precisa ter um parceiro e estar transando, mas sim estar bem com a sua sexualidade, com o seu corpo, com a sua posição na sociedade.â€
Maria Lúcia aponta que existem mulheres que estão separadas ou viúvas e que foram felizes sexualmente durante o casamento e não têm mais vontade de buscar outro parceiro por estarem bem com sua sexualidade. “O que elas tiveram bastou e hoje elas se bastamâ€, define a terapeuta. Entretanto, cada caso é um caso e Maria Lúcia revela que tem notado que as mulheres estão cada vez mais fogosas.
Isso ocorre porque, quando chegam no climatério (término de menstruação) elas, geralmente, já estão com sua realização profissional, descansadas da criação dos filhos, o compromisso com os netos já é outro e elas se voltam para si mesmas. São ativas, fazem caminhada, vão aos clubes da terceira idade... Se estão sozinhas, se apaixonam novamente e as que estão acompanhadas mostram um gás muito grande para seus companheiros.
“Aquele estigma de que a mulher mais velha perdia sua sexualidade está acabando. Ela está buscando manter a sua atividade sexual. Ela se faz mulher não só como mãe, profissional e dona de casa, mas mulher no sentido também da essência do seu ser.â€
Maria Lúcia defende a prática de que hoje as mulheres, quando o assunto é sexo, não exigem mais quantidade, mas sim qualidade. “Ela quer emoção e tem necessidade de que, numa relação, fique algo além da vagina. A mulher de hoje busca o antes, o durante, mas principalmente, o depois.â€
TPM é o mal do século da prevenção
O novo século trouxe informação e mudança no comportamento da mulher. Hoje, ela não procura o atendimento do ginecologista apenas para a prevenção dos problemas orgânicos, como câncer de colo de útero ou doenças sexualmente transmissíveis. Ela busca prevenir o sentimento e o prazer.
Muitas vezes, o sintoma é só esse. A paciente, segundo a ginecologista e obstetra Carla Lambertini Bonjorno, já traz os exames básicos, como o papanicolau e a mamografia, prontos e sem alterações. “A única queixa é a de não estar correspondendo ao parceiro ou não estar sentindo prazer durante o contato sexual com uma pessoa que ela gosta e isso interfere na sua vidaâ€, aponta.
Entretanto, mais que a falta de prazer, o grande problema feminino da mulher deste século é causado pela tensão pré-menstrual, a TPM, que não é frescura, mas uma doença desencadeada por alteração hormonal, ou seja, o aumento da taxa de progesterona na segunda fase do ciclo mentrual, que faz com que a mulher sofra distúrbios orgânicos e psicossomáticos.
Além do inchaço, do conseqüente aumento de peso, das dores nas mamas, ela começa a ter uma mudança de comportamento e passa a ficar muito mais sensível, chorosa e mal-humorada. “Na maioria dos casos, a mulher perde todo o juízo crítico da realidadeâ€, comenta a médica.
Ao contrário dos sintomas físicos, que duram poucos dias e que a mulher já está biologicamente preparada para enfrentá-los, os sintomas psicossomáticos começam 15 dias antes da menstruação e acabam chegando a um mês inteiro. Isso porque, a única semana sem alteração, ela não consegue perceber, já que as tarefas de mãe e de mulher no casamento e trabalho, dentro e fora de casa, fazem com que ela nem sinta o alívio desses sete dias.
Segundo a ginecologista, isso é grave e acaba levando à depressão e à síndrome do pânico. Hoje hoje em dia, grande parte dos casos é provocada por distúrbios hormonais durante a tensão pré-menstrual.
As causas
Dentre os principais fatores que levam a mulher a sofrer de TPM está a responsabilidade. Ela não cuida mais só da casa e dos filhos, mas também trabalha fora e precisa colocar dinheiro em casa. Às vezes, até mais que o marido. A médica Carla aponta que, numa pesquisa feita em seu consultório, mais de 50% das pacientes são as “donas da casa†e bancam a maior parte ou a totalidade do orçamento familiar. Além disso, precisam cumprir horários, ser amante e mulher. Mas neste ciclo não encontram tempo para elas e acaba “se esquecendo†de descansar, ler um livro, ter atividade física...
“Isso é coisa do mundo moderno e a tendência é piorarâ€, adverte Carla Bonjorno. Este prolongamento da TPM já começa a ser atribuído, entre outros fatores, à comida e à poluição. “Cada vez mais estamos respirando um ar ruim e comendo alimentos com conservantes, corantes, congelados, que geram radicais livres e levam a mulher a ter problemas até de memória, piorando assim, o quadro depressivo.â€
Os médicos estão concluindo que, além de ser um problema hormonal e psicológico, a depressão ganha um fator ambiental e pode ser ainda desencadeada em maior grau se a paciente tiver na família pessoas com tendência depressiva.
O tratamento
Além do acompanhamento médico, o melhor remédio é se dar um pouco de tempo. “Que sejam 15 minutos diários, mas exclusivos para que a mulher só pense nela. Ela também precisa ter uma atividade física e eliminar da alimentação a maior quantidade possível de alimentos processados industrialmente. Hoje se come caixinhasâ€, diz Carla. A médica aponta que este conjunto de medidas pode melhorar em até 40% o quadro, minimizando as doses de hormônios e ansiolíticos que a mulher deverá ingerir no tratamento. Ela conta que, em casos muito graves, até a suspensão temporária de menstruação é feita na tentativa de sanar o problema.
Menos filhos
A vida moderna e todos os seus problemas também trazem mudanças na esfera da reprodução. Segundo a ginecologista, é crescente o número de mulheres com apenas um ou dois filhos que buscam métodos para evitar o aumento da prole. Também cresce o número de casais inférteis, que buscam tratamento para conseguir ter filhos.Nesse universo, as mães que participaram da primeira revolução sexual estão mais conscientes e levando mais cedo suas filhas ao consultório para uma orientação sexual. Com isso, tem reduzido o número de partos em adolescentes. Mas ainda falta o fortalecimento de uma mentalidade para prevenir doenças sexualmente transmissíveis.
Todas estas mudanças transformaram também o papel do ginecologista. Agora, ele assume ainda mais a missão de orientador de sexualidade. A primeira lição da médica Carla é a de que as mulheres precisam dos homens. “Para ajudar quando precisam, para terem paciência, o que é uma necessidade, e para dividir carinhos. Na atualidade, quando tiver tempoâ€, brinca.
Depoimento
Inexperiência
“Considero a minha história comum. O que aconteceu comigo, tenho certeza, já deve ter acontecido com muita mulher pelo mundo. Me casei com o meu primeiro parceiro sexual. Já tinha tido muitas intimidades, trocado carícias, com outros namorados, mas a minha primeira relação pra valer foi com ele. Não doeu, não foi aquela loucura, mas foi bom. Passados alguns meses ficamos noivos e depois de um ano estávamos casados. Com o tempo, fui percebendo que ele estava sempre no comando da relação sexual. O fato de eu ter casado virgem é como se fosse um troféu. Durante os momentos íntimos, ele diz que eu sou só dele. Sou mesmo. Nunca o traí, nunca transei com outro antes dele. Às vezes, penso que só perdi com isso. Perdi experiência, maturidade, malícia e um certo traquejo de como se comportar na cama. Se é que existem regras para isso. Mesmo depois de cinco anos juntos, tenho vergonha de dizer onde e como quero ser acariciada. Estou tentando mudar isso. Optei pela terapia. Não é que eu não esteja satisfeita com a minha vida sexual. É que eu sinto que ela poderia ser muito melhor. Também não sinto desejo de transar com outro homem. Queria apenas que meu marido se importasse mais com as minhas vontades. Parece que ele não presta atenção nas posições que me dão mais prazer. Nos lugares onde gosto de ser tocada. Mas ele é o homem que escolhi pra mim. Nem por isso acho que devo ficar parada, sem fazer nada para deixar nossa relação melhor. A terapia tem me ajudado a superar a timidez e a me soltar mais. Ele não sabe que fui procurar ajuda. Acho que ficaria inseguro em relação aos meus sentimentos. E não é nada disso. Eu acho que sou eu que tenho que aprender a me impor mais na cama. Só não sei como. Por isso, fui buscar ajuda.â€
R.B.S., 30 anos, professora