Regional

Cursinho oferece vagas para negros

(*) Cristiane Gercina
| Tempo de leitura: 3 min

São Carlos - O cursinho pré-vestibular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está oferecendo 100 vagas exclusivamente para afro-descendentes. Além dessas, outras 220 vagas estão sendo oferecidas pela universidade, de acordo com o professor doutor Valter Roberto Silvério.

Ele é professor de Sociologia, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (EAB) e do projeto Novas Cores no Ensino Superior Brasileiro, diretor do Centro de Educação em Ciências Humanas, negro e defensor do chamado “acesso diferenciado” nas universidades públicas.

De acordo com ele, as 100 vagas destinadas aos afro-descendentes surgiu a partir de um edital da Fundação Ford que premiaria com R$ 2,5 milhões até 40 projetos dentro de um programa de políticas de ação firmativa.

A prova aconteceu no último dia 3 de março e cerca de 105 alunos participaram. Foi uma prova de conhecimentos básicos e, segundo o professor, as inscrições eram destinadas a qualquer pessoa.

Os alunos classificados para a segunda fase deverão passar por uma entrevista e somente nessa fase, serão escolhidos os afro-brasileiros mais carentes. Silvério não soube dizer como será essa seleção, mas garante que um loiro de olhos azuis não entrará.

O professor contou que os aprovados serão distribuídos em cinco salas. Ele chama o projeto de “discriminação positiva” e acredita que é uma forma de combater a segregação social e racial no País.

Indicadores do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) apontam que a diferença dos níveis de escolarização entre brancos e negros no Brasil, entre os anos de 1924 e 1974, são piores que os da África do Sul em pleno regime de Apartheid. “Qualquer projeto que tente combater isso é um bom projeto”, afirma o professor.

Silvério acredita que vivemos num momento decisivo, onde devemos reconhecer que mulheres, negros e índios no Brasil são efetivamente impossibilitados de mobilidade social.

Dados da própria universidade são um bom exemplo da desigualdade social. De acordo com o professor, menos de 1% dos alunos que ingressam na UFSCar são negros e no corpo docente o número de negros também é muito reduzido.

Privilegiados

Silvério diz que a estrutura de seleção dos privilegiados é uma constante. Apenas 8% dos alunos que entram na UFSCar vêm de família com renda mensal entre um e cinco salários mínimos. Ou seja, 92% têm renda acima de 20 mínimos mensais.

A taxa de evasão é muito alta, chega a 30 %, o que eqüivale a dizer que uma boa parte dos 8% mais pobres que conseguiram passar pelo difícil processo vestibular não conseguem se formar.

Números relacionados ao ensino Superior no Brasil também são assustadores. O professor revela que existem 30 milhões de jovens entre 16 e 24 anos no País. Somente 11% completam o ensino médio e uma minoria de 2% consegue formação superior. São 450 mil alunos cursando a graduação, o equivalente a 1,5% dos 30 milhões.

Silvério acredita que uma das formas de amenizar essa desigualdade é o “acesso diferenciado”. Ele explica que a crítica a esse sistema de acesso está na idéia de que vivemos numa sociedade justa. Portanto, todos têm as mesmas oportunidades.

“Não vivemos em uma sociedade justa. A universidade é universal e prima pela democracia. Em toda e qualquer sociedade estratificada as pessoas têm chances diferentes. Portanto, está na hora de ser um reflexo da sociedade e buscar o acesso diferenciado”, completa.

Diversidade

São Carlos - Em 21 de fevereiro de 2002, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, assinou uma portaria determinando que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário só poderão realizar contratos e licitações com empresas que mantenham a diversidade de raça e gênero no seu quadro de funcionários.

O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB), assinou no início de março um decreto garantindo aos negros e pardos 40% das vagas dos cursos de graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense.

Tribuna Impressa / Especial para o JC

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