Depois de atravessar o ano 2000 enfrentando uma das piores crises da sua história, a avicultura brasileira conseguiu se recuperar e abriu as portas do mercado externo. No ano passado, foi comercializado um volume 57% maior que em 2000, com uma receita de US$ 1,3 bilhão, cifra recorde para o setor.
Em um ano e meio, o número de países consumidores dos produtos brasileiras cresceu quase 100%, passando de 42 para 80. “Entre os mais novos compradores estão países da Europa e da Áfricaâ€, destaca Célio Terra, presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA).
Para o presidente do Sindicato Rural de Marília e avicultor Yoshimi Shintaku, o recorde foi favorecido pelo mal da vaca louca, doença que atingiu principalmente os pastos da Inglaterra e interferiu no comércio de carne bovina.
De acordo ele, neste ano a meta dos produtores é a busca pelo equilíbrio. “A exportação está caminhando muito bem, mas não podemos nos esquecer do mercado internoâ€, diz.
Segundo o avicultor, o crescimento nas vendas domésticas foi pouco significativo, ficando na casa do 0,2% em 2001. “O consumo no Brasil é muito pequeno comparando-se com outros países do mundoâ€, ressalta. De acordo com cálculos de entidades do setor, atualmente o consumo de carne de frango é de 30 quilos per capita por ano.
Como a lei da oferta e da procura é implacável, se a produção aumentar muito e as vendas não acompanharem esse ritmo, o resultado será a redução do preço. “Não podemos investir no incremento da produção sem antes aquecer as vendas para o mercado internoâ€, ressalta Terra.
Dados da União Brasileira de Avicultura (UBA) mostram que, no ano passado, a produção de carne de frango no Brasil cresceu 12,7%, chegando a 6,7 milhões de tonelada. Desse total, apenas 1,2 milhão de toneladas foi destinada à exportação, que está crescendo, mas ainda não é o principal destino do produto.
Pequenos produtores
De acordo com Yoshimi Shintaku, a abertura do mercado externo ainda é restrita a poucos produtores. “Só os grandes exportam. Os pequenos continuam enfrentando as dificuldades do mercado internoâ€, explica.
O preço é uma delas. Com fartura de produto no mercado, os valores não estão atingindo o patamar desejado pelos avicultores. Silvio Groto, supervisor da Fábrica de Ração do Frigorífico Rei Frango, de São Carlos, diz que o preço de venda está muito aquém do que o setor deseja. “O quilo do frango vivo está custando R$ 0,95, sendo que o custo dele para o criador é de R$ 1,00â€, explica. Ele acredita que, se o valor chegasse a R$ 1,10 já começaria a ser considerado satisfatório.
De acordo com o Sindicato Rural de Marília, no ano passado o preço médio pago aos avicultores paulistas foi 6,6% superior ao praticado no ano anterior. Mesmo assim, não há o que comemorar. â€œÉ importante lembrar que no primeiro semestre de 2000 a avicultura de corte viveu uma das piores crises dos últimos tempos, o que torna esse aumento de preços pouco expressivoâ€, diz.
Para este ano, as expectativas são positivas, apesar da quantidade de matrizes de corte - cerca de 29 milhões de cabeças - estar bem próxima ao que foi registrado no final de 1999, um dos pontos que levou à crise de 2000. “O que diferencia os dois períodos é que as condições do mercado são mais promissoras neste ano, com baixo crescimento da oferta interna e aumento das exportaçõesâ€, salienta.
Para completar a boa perspectiva, a UBA prevê que o consumo per capita brasileiro atinja 33,775 quilos, crescendo 6,13% em relação ao índice atual.