Esportes

Ex-zagueiro vê Brasil como favorito

Fabiana Teófilo
| Tempo de leitura: 9 min

O bauruense Júlio César da Silva, ex-zagueiro da Seleção Brasileira de futebol, afirma que o Brasil é um dos favoritos para a Copa do Mundo deste ano. O ex-jogador, porém, não quis dar nomes de jogadores que ele considera os ideais alegando que é apenas um torcedor. Ele acredita que o atual técnico, Luiz Felipe Scolari, é um ótimo profissional, capaz de convocar os jogadores que serão as alavancas do time na disputa. Para ele, há vários jogadores competentes e cada um tem o seu momento.

Júlio César contou que seu primeiro contato com o futebol foi como gandula (pegador de bolas) do Noroeste, em 1976. Nessa época ele disputava campeonatos juvenis em Bauru. Em seguida, o jogador foi fazer um teste no time do Guarani, em Campinas. Aprovado, ele ficou dez anos no Bugre. Depois dessa experiência, Júlio César foi para a Seleção e para o Exterior, onde ficou por 16 anos. Atualmente, ele é empresário. Possui uma loja de artigos esportivos, a Premier, e é da direção executiva do Noroeste.

Sobre o Norusca, apesar de ser o diretor executivo do clube, Júlio César afirmou que não tem nenhum trabalho nessa área, atestando que seu irmão, Cássio, é quem trabalha no Noroeste.

JC - Como você iniciou sua história no futebol? Qual foi sua trajetória? Júlio César - Em 1976, eu era gandula do Noroeste e depois eu jogava o campeonato juvenil aí em Bauru. Aí eu recebi um convite para vir a Campinas fazer um teste e fui aprovado. Fiquei no clube dez anos, depois fui para a seleção e da seleção para o exterior, onde fiquei 16 anos.

JC - Você acha que na época o Noroeste poderia ter te dado uma oportunidade? Um talento de Bauru, acabou sendo descoberto em outra cidade... Júlio César - Isso faz parte. Eu acho que é questão de momento, de oportunidade, então é difícil saber. Há muitos jogadores que passam despercebidos.

JC - O que você acha dos jogadores até agora convocados pelo Felipão? Júlio César - Eu acho que o Brasil tem que aproveitar o momento de cada um porque futebol é momento. Os jogadores que estão bem preparados para defender o Brasil devem ser convocados mesmo. São jogadores experientes, preparados, de nível internacional, então eu acho que tem que aproveitar mesmo.

JC - E, na sua opinião, quem deve realmente ficar e quem deve sair da seleção? Júlio César - Não sou eu quem deve dizer isso. Eu acho que o Felipão é um treinador capacitado e eu tenho certeza de que ele vai fazer o melhor possível para fazer uma excelente campanha junto a seleção para a Copa do Mundo?

JC - Você como técnico, qual seria sua escalação? Júlio César - Ah, eu não sei... É difícil...

JC - Cita pelo menos alguns nomes que você considere imprescindível. Júlio César - Não, não, eu acho que tem jogadores que estão no exterior, outros que estão aqui no campeonato brasileiro que podem formar um excelente time.

JC - Você convocaria o Romário? Júlio César - É, eu acho que sim. Como eu falei para você, futebol é momento. Tem que aproveitar o momento bom de cada um. Eu acho que ele está fazendo aí um campeonato excelente, marcando gols e, portanto eu acho que é um jogador que deve participar sim.

JC - E por que o Felipão resiste nessa convocação? Júlio César - Ah, isso é problema deles lá, né. Eu não sei. Eu como torcedor, gostaria que o Romário participasse sim.

JC - Essa resistência na convocação do Romário pode ter alguma relação com o patrocínio da Nike para a seleção, enquanto o Romário é garoto propaganda da Coca-Cola? Júlio César - Isso aí é coisa interna, fica difícil comentar. Eu estou de fora, olho apenas como torcedor.

JC - O Romário é uma pessoas um tanto temperamental. Você já jogou com alguém que também tenha essa característica? Júlio César - Eu não acho não que ele seja temperamental. Ele é um jogador que tem suas idéias, sua personalidade. Ele fala e faz o que ele acha que está certo. Vai das pessoas aceitarem ou não. A resposta ele dá dentro do campo. Ele está ali para jogar futebol e corresponder às expectativas de todos.

JC - E sobre a convocação do Ronaldinho. Você acha que é uma decisão acertada? Júlio César - Se ele estiver bem, por que não? Se ele estiver em condições, acho que ele deve participar. Ele é o melhor do mundo!

JC - Mas você acha que ele está apto para participar da Copa? Júlio César - Não sei. Isso daí a gente não fica sabendo. Não sei sobre a avaliação física dele. Não tenho essa informação.

JC - Não poderia ser uma jogada de marketing da Nike essa contratação? Júlio César - Essa parte político-administrativa eu não posso opinar nada. Eu olho como torcedor.

JC - Mas, você já esteve na seleção, sabe como as coisas acontecem. A força da Nike não pode ameaçar a autonomia do Scolari. Não seria a própria Nike quem definiria o time? Júlio César - Não sei. Isso eu não posso responder porque eu não sei.

JC - Você é um empresário, tem uma loja de material esportivo. Você acredita que a Copa do Mundo é um evento que alavanca as vendas desse segmento? Júlio César - O Brasil vive do futebol, né. A partir do momento que o futebol está em alta, eu acho que melhora sim. Agora com a Copa do Mundo devem aumentar as vendas sim.

JC - Sabe-se que a camisa da seleção estará sendo vendida a um custo maior que o salário mínimo. Você acha que isso desanima a torcida que costuma vestir a camisa para torcer a favor do Brasil? Júlio César - Não sei, mas eu acho que a CBF deve ter feito uma pesquisa de mercado e colocado um preço que eles acham que deve ser. Cabe a nós de fora decidirmos se podemos ou não comprar.

JC - E quanto aos horários de transmissão dos jogos da Copa? Isso pode acabar inviabilizando que a torcida acompanhe as partidas? Júlio César - Isso sim, porque é um horário inconveniente, na madrugada. Isso quebra o clima da torcida.

JC - E também devido ao horário, os investimentos podem ser menores? Júlio César - Futebol é uma coisa mundial, então tem muito interesse político, financeiro. Eu acredito que possa dar uma caída sim, mas não será coisa absurda não.

JC - Você carregou ou ainda carrega o estigma de ter perdido um pênalti num jogo da seleção... Júlio César - Isso já foi há tanto tempo, faz parte. Nós, quando estamos jogando, somos pessoas públicas estamos sujeitos a elogios, pressões.

JC - Os jogadores recebem algum tipo de orientação para lidar com essa pressão que vem de diversos lados? Júlio César - Isso a gente adquire com o tempo, a experiência, situações...

JC - Você foi zagueiro da seleção e, atualmente, esse é um ponto fraco da equipe. Quem você colocaria na zaga? Júlio César - Eu não tenho preferência por ninguém. Eu só acho que o Brasil tem excelente jogadores que podem corresponder ao time.

JC - Mas cita quais são ou foram os melhores zagueiros na sua opinião. Algum que tenha marcado. Júlio César - O Brasil teve muitos jogadores. Cada um tem seu momento. O passado já foi, cada um viveu o seu momento.

JC - Quais seriam outros pontos fracos da seleção? Júlio César - Eu como torcedor acredito na seleção e acredito no trabalho do Felipão. Não gosto de apontar nada.

JC - O Pelé disse que, para ele, o Brasil não é favorito para essa Copa. Ele cita outras seleções como da França, Argentina, Inglaterra e Portugal como os melhores. Você concorda? Júlio César - Eu acho que o Brasil é favorito. Acredito na seleção, nos jogadores que são os melhores do mundo, na tradição. Eu acredito muito.

JC - A chave do Brasil é considerada fraca. Apesar de você acreditar na equipe, você acha que a seleção corre algum risco? Júlio César - Não existe chave fraca. O futebol evoluiu muito, todos os times têm capacidade de superar. Para mim, o Brasil é o favorito da chave.

JC - Quando você participou da Copa, em 1986, o técnico era o Telê Santana. É possível traçar um paralelo entre ele e o Felipão? Júlio César - É diferente, difícil fazer uma comparação, um foi um excelente treinador, fez um ótimo trabalho e o outro é o do momento que também tem condições de fazer um grande trabalho na seleção.

JC - Quais foram as principais transformações do futebol de 1986 para 2002? Júlio César - Os interesses políticos, talento dos jogadores, reformulações de atletas, tudo faz parte das mudanças, tudo evolui, moderniza. Há que ter paciência e acreditar no trabalho que está sendo feito.

JC - Dos atuais jogadores da seleção, na sua opinião, quem são líderes natos? Júlio César - A liderança cada um decide dentro do grupo. Tem muitos jogadores que poderiam ser o líder. Depende também do relacionamento com o grupo.

JC - Sobre a intervenção do Ministério dos Esportes na CBF que foi concluída pela CPI do futebol, o que você acha? Júlio César - Não sei viu. Eu gosto muito de futebol e não misturo com política. Não tem nada a ver. Eu não gostaria de falar sobre isso.

JC - Só uma pergunta: você acha que essa CPI ajuda a moralizar o esporte? Júlio César - Eu não sei o que realmente está acontecendo. Só acompanho através dos jornais, da televisão.

JC - Realmente é difícil sabermos o que se passa na verdade. A máfia que controla o futebol é ainda muito obscura, mas você acredita que isso tudo pode ser responsável pela queda do desempenho dos jogadores? Júlio César - É tudo isso é complicado. Não fica claro. São as dificuldades.

JC - Essas dificuldades externas influenciam os jogadores dentro do gramado? Júlio César - Lógico. Isso influencia.

JC - Qual o trabalho que você vem desenvolvendo no Noroeste? Júlio César - Não, eu não faço nenhum trabalho junto ao Noroeste. Quem cuida disso é meu irmão, o Cássio.

JC - Mas você não colabora de alguma forma. Não tem nenhuma ligação? Júlio César - Não.

JC - E o Roger, já foi vendido? Júlio César - Eu não sei. Se você quiser saber sobre isso, terá que falar com meu irmão.

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