Pesca & Lazer

Lambari substitui sardinha

Por (*) Cristiane Gercina | Tribuna Impressa
| Tempo de leitura: 5 min

Uma nova espécie de lambari pode substituir a sardinha e revolucionar a piscicultura nacional, de acordo com resultados de uma pesquisa realizada na Serra da Mantiqueira pelo Departamento de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em parceria com o Museu de Zoologia do Rio de Janeiro. A pesquisa é coordenada pelo professor doutor Orlando Moreira Filho, da UFSCar, e por Paulo Buckup, do Museu de Zoologia. Moreira Filho trabalha com genética de peixes desde a década de 1970.

Em 1986 iniciou pesquisas nas bacias dos rios Sapucaí e Paraíba do Sul, região serrana de São Paulo, próximo a Campos do Jordão. De 1986 até agora foram descobertas cerca de 16 espécies de peixes pela pesquisa do DGE.

O novo lambari foi encontrado nesta época, mas os estudos intensificaram nesse peixe há aproximadamente dois anos. A divulgação dos resultados finais só foi feita no último dia 15 de março. A nova espécie de lambari tem dorso esverdeado e nadadeira transparente, diferente das espécies mais conhecidas na região de Araraquara, que têm rabo vermelho ou amarelo. Mas não é somente nesse aspecto que os dois tipos de peixe diferem.

O novo lambari, ainda sem nome definido, é muito mais resistente que os peixes de sua família e de outras espécies também. A capacidade de adaptação é grande e apresenta outras vantagens, de acordo com Moreira Filho, o que pode ser positivo para a produção ecomercialização.

Segundo o professor, o peixe é de fácil criação e reprodução, já que não apresenta piracema, período em que a maioria dos peixes se reproduz. Essa espécie desova durante todo o ano e se reproduz através de fotoperiodismo, ou seja, basta o ambiente ser iluminado para que os machos fecundem as fêmeas. As fêmeas da nova espécie representam cerca de 75% e os machos apenas 25% de um bando.Elas também são maiores e mais pesadas.

Os machos têm espermatozóides desenvolvidos durante todo o ano, quando o mais freqüente nos peixes é que eles amadureçam depois de um período de tempo e sirvam para reprodução apenas uma vez por ano. Essa é uma forma de atender todas as fêmeas, já que elas se alternam no período de reprodução.

O professor conta também que esses peixes podem ser criados em pequenos tanques, contribuindo muito para a piscicultura e auxiliando os pequenos produtores. Além do mais, eles suportam grande densidade populacional. Moreira Filho explica que a maioria dos peixes não convive bem em locais muito cheios e acabam se matando.

Alimentação

A forma de alimentação do novo lambari também é uma vantagem para a piscicultura. Ele come qualquer coisa e não precisa de ração especial. As diferenças podem ser notadas quando se alimenta um lambari da nova espécie e um de espécie já conhecida. O novo lambari cresce muito mais rápido.

“As vantagens na alimentação podem também baratear a ração”, diz o professor. Atualmente, esse é um grande problema para a piscicultura, pois a ração dada aos peixes custa, em média, R$ 0,90 o quilo.

O novo lambari pode comer até mesmo subprodutos da agricultura.

Moreira Filho ressalta que o peixe tem as escamas mais resistentes e apresenta uma maior aderência à pele. Isso facilita o manuseio, o transporte, o congelamento e o processamento. O normal é que os outros peixes fiquem com a carne mole após três horas fora da água, o que não acontece com o novo lambari.

Por causa dessas vantagens é que o professor e toda sua equipe formada por aproximadamente 15 pessoas acreditam que o lambari poderá substituir a sardinha ou pelo menos disputar o mercado alimentício com ela. O professor pensa em estabelecer parcerias com pisciculturas da região e provar que é possível produzir lambari em grande escala. Ele acredita que, em aproximadamente, dois anos os resultados desta nova fase da pesquisa serão concluídos. Ele enfatiza que as descobertas da pesquisa prestam um serviço social à comunidade, pois pode provocar queda no preço da sardinha e oferecer ao consumidor mais pobre alternativa de alimentação barata.

Vantagens da criação

- é de fácil criação e fácil reprodução

- pode ser criado em tanques pequenos

- apresenta rápido crescimento

- suporta grande densidade populacional em espaços menores

- atinge maior peso em menos tempo

- maior rendimento da carne aproveitada para consumo

- alimenta-se com qualquer tipo de comida

- tem escamas mais aderidas à pele, o que significa maior resistência

- tem corpo mais robusto e é mais carnudo, pode atingir até 14 centímetros e pesar 60 gramas

Descobertas

Além do lambari, a equipe do Departamento de Citologia e Genética (DGE) descobriu uma nova espécie de peixe na pesquisa realizada na região da Serra da Mantiqueira.

Ela é da família paradontidae, mais conhecida como canivete e foi provisoriamente batizada como “paradon sp”. A descoberta é resultado da pesquisa “Análise da Biodiversidade de Ictiofaunas Isoladas por um Divisor de Águas: Citogenética e Sistemática” e está dentro dos estudos de doutorado de Liano Centofante. Ele contou que os estudos apresentaram um peixe fisicamente parecido com o paradon tortuosus, o peixe canivete já existente, mas geneticamente diferente. Centofante explica que essa diferença está nos cromossomos sexuais, o que garante a diversidade e o isolamento genético, evitando peixes híbridos e o desaparecimento da espécie. Para ele a descoberta é uma possibilidade de preservação da nova espécie, pois no passado muitos peixes desapareceram por falta de uma política de preservação do meio ambiente no local.

(*) Especial para o JC

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