Até o final de seu mandato, o prefeito Nilson Costa (PPS) quer corrigir por meio do trabalho em equipe os efeitos negativos de anos de cultivo da representação da “cidade sem limitesâ€. Esses efeitos, avalia, refletem uma expansão sem respeito às estruturas municipais, cuja desorganização resultou em bairros sem equipamentos mínimos, como postos de saúde, iluminação, água, esgoto e luz.
Para Nilson, a imagem ideal é da cidade desenvolvida de maneira organizada. Imagem esta que deseja reverter em causa própria. Quando sair, o prefeito quer ser lembrado como alguém que colocou uma “casa em frangalhos†no caminho certo. “Com determinação, coragem e diria até, sem falsa modéstia, com sabedoriaâ€, completa.
Durante a entrevista ao JC, no qual Nilson conversa sobre imagem e auto-imagem da cidade e de si próprio, não sobram críticas aos opositores, os quais define como “minoria inconseqüenteâ€. Apesar das farpas desferidas, o prefeito nega ser um “reclamãoâ€, como a oposição o define. “Sou, sim, alguém com muita paciênciaâ€, afirma.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Jornal da Cidade – O que o senhor entende por “Cidade sem limitesâ€? Nilson Costa – É uma expressão poética. E “Cidade sem limites†poeticamente é bonito. Como todas as cidades têm seus slogans, o de Bauru era “Capital da terra brancaâ€. Depois Euzébio Guerra usou essa expressão “Cidade sem limitesâ€. Significa uma cidade sem limitações e isso às vezes tem efeito negativo, porque os horizontes vão se expandindo, os bairros vão surgindo – isso no passado – sem o respeito às estruturas da cidade e sem as condições de acompanhar esse crescimento. O ideal não é o crescimento, mas o desenvolvimento, que é o acontecimento com estrutura, organização, técnica. E nós estamos procurando agora colocar Bauru dentro de seus limites e temos de levar até esses bairros distantes todos os benefícios, bem-estar.
JC – Esse slogan criado na década de 50 ainda reflete a realidade de Bauru? Nilson Costa – Claro, é só você dar uma volta pela periferia e você encontra centenas de novas moradias em locais que não dispõem de infra-estrutura.
JC – O senhor acha que a população se enxerga nesse slogan? Nilson Costa – Esse slogan foi muito usado no tempo de Avallone Jr. Ele o usou muito, porque era uma administração cheia de lances fantásticos, como asfaltar a rua Batista (de Carvalho) em 24 horas, essas coisas. Surgiu um bairro que se chamava, e se chama, Tangarás, isso há meio século, e até hoje não tem infra-estrutura pela distância, pela dificuldade. Às vezes, você tem um conglomerado de casas muito distante do último recurso do município, como água, esgoto, iluminação. As pessoas já começam a reclamar desses benefícios. Queria dar um exemplo: no momento nós estamos terminando de socorrer uma enorme erosão na Pousada da Esperança e a outra, estamos lá com a equipe, fazendo galerias de águas pluviais para que se elimine a possibilidade dessa erosão continuar. Apesar disso, alguns setores da comunidade, instigados pela associação de moradores, realizam manifestações contra a prefeitura e é exatamente nesta administração que estamos socorrendo e eliminando esse grave problema, que vem de anos e anos atrás.
JC – O senhor não me respondeu. A população se enxerga no slogan? Nilson Costa – Eu diria que Bauru é uma cidade sem limites em termos de consciência filantrópica, em termos de desenvolvimento, de expansão. Nós temos uma população muito ativa, as classes empresariais estão sempre presentes, nossos trabalhadores têm boa qualificação. E acima de tudo, o movimento filantrópico é sem limites.
JC – A filantropia, então, é um traço comum à cidade? Nilson Costa – Bauru é uma cidade que as pessoas que vêm de fora a consideram maravilhosa, limpa, espaçosa e esse traço comum leva muita gente a vir morar aqui. Vêm para passar a temporada e acabam achando um jeito de permanecer. A gente vê muito isso no setor do funcionalismo, como Polícia Militar, funcionários federais e estaduais. Realmente, as famílias quando chegam se estabelecem, acabam se incorporando e se recusam a sair. Esse é o segredo da expansão permanente de Bauru, em que pese nós termos perdido aqui milhares de postos de trabalho com a decadência das ferrovias. Nós perdemos a Noroeste do Brasil, a Sorocabana, a Paulista; o Departamento de Estradas de Rodagem está reduzido ao mínimo; a Cesp. Apesar de todo esse desfalque, a cidade vai encontrando respaldo nos empresários de ensino superior, caso da Unip, que tem mais de 1.000 funcionários, e as pessoas geralmente não prestam atenção nisso.
JC – E em relação ao passado, a população presta atenção à história de Bauru? Nilson Costa – Dentro do razoável sim. Há pouco tive acesso a levantamentos estatísticos, publicados na Folha de S. Paulo ou no Estadão, demonstrando que parcela substancial da população não lê jornais ou revistas, se limitando a ver televisão. Acho que aqui, no sistema de ensino municipal, há um apelo permanente por essa memória. Hoje um setor que está se dedicando muito a isso é a secretaria de Cultura. Ainda agora nós estamos restaurando a locomotiva, vagões do passado. O Museu Ferroviário está muito bem organizado. O Museu Histórico de Bauru está em instalações novas e tem tido muita fluência de pessoas.
JC – Voltando à questão da imagem. No ano passado, em ocasião pelo aniversário da cidade, o senhor disse que iria fazer uma pesquisa para saber como a população o enxergava. O senhor o fez? Nilson Costa – Não. Independente de pesquisa, este ano com recursos orçamentários nós estamos fazendo o que a população reclama. Tanto que estamos fazendo 620 quarteirões de asfalto novo e recape asfáltico, em todos os setores da cidade. Estamos modernizando quatro avenidas que são as principais entradas e saídas da cidade. Na medida em que a população viu que valeu a pena um período de restrições financeiras, boa aplicação do dinheiro público e honestidade nas licitações, a cidade foi abrindo as comportas para retribuir junto à população do dinheiro pago em impostos e taxas. Isso está refletido aí e em muitos anos não se via.
JC – E isso reflete na sua imagem? A população o vê como uma pessoa honesta, um bom administrador? Nilson Costa – Eu creio que o homem público deve fazer sempre aquilo que a consciência lhe recomenda. Porque, às vezes, há um grande movimento da opinião pública em sentido contrário a coisas boas. Às vezes você vê a população se levantando contra iniciativas de grande alcance social, por falta de informação, por direcionamento negativo por parte de pseudolíderes populares. Então, eu acredito que o homem público para ser bem-sucedido deve fazer aquilo que a consciência lhe diga que é correta, independente de ter aplausos ou condenações momentâneas. Ainda agora estamos fazendo a regulamentação de trabalho de ambulantes autônomos, os camelôs, no Centro da cidade. É um trabalho que está durando dois anos e chegamos finalmente no ponto de colocar os ambulantes naqueles lugares que eles fazem jus pelo tamanho da família, por se tratar de pessoas com deficiências físicas, e é isso o que a cidade recomenda. Nós estamos fazendo, mas certamente haverá críticas de descontentes. Em compensação teremos, para quem ficar, o seu compartimento já demarcado, como um direito. Para chegar a isso, a Seplan estabeleceu as normas em comum acordo com o sindicato da categoria, lojistas, população e o interesse público.
JC – O senhor diz que podem haver vozes contrárias. O senhor se sente sempre assim contrariado? Nilson Costa – Quando o julgamento reflete uma ampla maioria favorável, não importa que minorias insignificantes sejam contrárias. Porque a unanimidade, já dizia Nélson Rodrigues, é burra. Nós sabemos que ao longo da história da humanidade ninguém conseguiu unanimidade. Às vezes, vultos famosos da humanidade foram sacrificados por má compreensão momentânea da realidade.
JC – O senhor, então, não pretende a unanimidade? Nilson Costa – Não. Seria uma pretensão absurda e inconseqüente.
JC – Qual é a marca que o senhor gostaria de deixar? Nilson Costa – Gostaria de ser lembrado como alguém que encontrou a casa em frangalhos e com determinação, coragem e diria até, sem falsa modéstia, com sabedoria soube direcioná-la no caminho certo. E a gente fazendo isso colhe os frutos da cidade. Às vezes, fico intrigado com pessoas que são pródigas em aplausos ao Mário Covas, achando que ele recolocou São Paulo no seu devido lugar ao longo de seis anos, e nós fizemos isso em Bauru ao longo de dois anos e alguns me chamaram de tartaruga.
JC – Para o senhor, então, a imagem da tartaruga foi eliminada? Nilson Costa – As pessoas pararam de falar nisso principalmente depois que surgiu esse personagem na publicidade, a tartaruga que foi à Copa do Mundo e voltou como heroína, semeando otimismo. A imensa maioria da população na acreditava nem no Felipão nem na seleção.
JC – O senhor avalia que as pessoas não acreditavam no senhor? Nilson Costa – Essa minoria inconseqüente não acreditava e fez o máximo se valendo da boa fé da mídia para transmitir isso à população.
JC – Uma outra marca que atribuem sempre ao senhor é de chorão, que reclama muito. O senhor se vê como reclamão? Nilson Costa – Eu? Primeiro lugar, a minha presença na mídia é muito rarefeita. Eu agüentei três anos e meio de ataques injustos por parte, felizmente, de uma minoria na Câmara Municipal e muito raramente eu parti para o revide, só quando a coisa se tornou insuportável. Então, eu sou alguém com muita paciência, levei 11 anos para conseguir a sede própria do Lar Rafael Maurício. Foram muitos anos como diretor do Jornal da Cidade para colocá-lo na liderança da imprensa, claro, graças à equipe que nós sempre tivemos. No setor sindical passei pelo Sindicato dos Ferroviários e o que eles têm de material foi resultado de um ano e meio que permaneci lá. Então, só tenho a agradecer a Deus por ter me dado paciência, perseverança, para perseguir os objetivos e alcançá-los.