Bauru 106 anos

ICMS aponta para perfil industrial

Daniela Bochembuzo
| Tempo de leitura: 6 min

Com produção responsável por 45,81% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no município, a indústria gerou R$ 50 milhões dos R$ 109,8 milhões arrecadados no ano passado na cidade, de acordo com o Centro de Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) - Regional Bauru. Apesar disso, o perfil industrial ainda é negado pela população e por parte de lideranças políticas.

“A população não conhece esse perfil, ainda acredita na vocação comercial, mas isso foi alterado pelos rumos da história. A privatização de empresas estatais contribuiu para a mudança. Nossa característica é industrial”, afirma José Luiz Miranda Simonelli, diretor do Ciesp - Regional Bauru.

Para conscientizar a sociedade bauruense sobre a vocação industrial do município, o Ciesp tem divulgado dados que demonstram essa característica a formadores de opinião e poder público.

Entre esses dados, o de que a indústria emprega 21 mil pessoas, distribuídas em 550 empresas. No comércio, o número de empregados seria 11 mil de acordo com o Ciesp, citando informações do Sindicato do Comércio (Sincomércio) e Sindicato dos Trabalhadores no comércio de abril de 2001.

“Desconheço os dados, mas afirmo que o comércio é extremamente importante para Bauru e região. É forte, organizado e alavancado pela prestação de serviços. Não é igual às décadas de 70 e 80, sofreu desaquecimento tanto quanto o País como um todo, mas tem recebido muitas empresas”, assegura Francisco Alberto Franco De Bernardis, presidente da Associação das Empresas do Calçadão (AEC).

Segundo De Bernardis, a comunidade apóia os setores comercial e de prestação de serviços. “E uma das razões disso é que esses setores dão mais emprego que a própria indústria”, argumenta.

Juntos, de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) elaborada pelo Ministério do Trabalho, comércio e prestação de serviço foram responsáveis por 30.454 e 14.823, respectivamente, dos 63.029 empregos ocupados em 2000 no município. Já a indústria respondeu por 16.742 postos.

Para o Ciesp, os números são diferentes. “A construção civil deve ser entendida como indústria, não como prestação de serviços”, defende Simonelli.

Assim sendo, mais 10 mil empregos poderiam ser contabilizados no setor industrial. Os trabalhadores estariam em 33 empresas, segundo fontes do Sindicato da Construção Civil de Bauru (Sinduscon) e do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil.

E a indústria passará a ser mais influente ainda, acredita o Ciesp, com a inauguração do Aeroporto Internacional de Bauru em 2003. “Será um marco, tendo um impacto tão forte como quando a ferrovia chegou à cidade”, prevê Simonelli.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Roberto Rufino, também acredita nisso. “Isso reforça a idéia de que Bauru está numa situação privilegiada em termos de transporte e telecomunicações”, diz.

Situação que, segundo Rufino, fez da região a sexta colocada no ranking de investimentos anunciados no estado de São Paulo em 2001, de acordo com levantamento da Fundação Estadual de Análise de Dados (Seade).

Do total de US$ 23 bilhões investidos no estado em 2001, a região administrativa de Bauru recebeu US$ 622 milhões, US$ 165 milhões a mais do que o registrado pela Fundação Seade em 2000. “Há no ar um processo de interiori-zação dos investimentos”, analisa Rufino.

De olho nisso, a secretaria, em parceria com a Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan), está desenvolvendo projeto de expansão do Distrito Industrial 2 em 58 mil metros quadrados, o qual incluirá terminal de cargas.

O trabalho do poder público municipal é acompanhado de perto pelo Ciesp, mas o diretor do órgão desobriga a prefeitura da responsabilidade de atrair novas indústrias.

“Hoje, a decisão envolve decisões mais profundas do que aceitar a doação de um terreno. Envolve logística, investimentos e análise da conjuntura mundial. Daí a necessidade de termos uma comunidade unida para pressionar positivamente nossos representantes no Legislativo a cobrar repasses estaduais e federais para o município”, salienta Simonelli.

Ciesp quer mostrar Bauru como pólo de exportação

Além de estar localizada em meio a um expressivo entroncamento rodo-hidroferroviário, o Ciesp - Regional Bauru quer apresentar a região como pólo exportador. Para tanto, o órgão elaborou um catálogo de exportadores.

O material, que inclui indústrias de Bauru e região, será lançado em agosto. A edição terá 5 mil exemplares, entre material impresso e CD-ROM, e será distribuída pela Confederação Nacional da Indústria.

“Pretendemos que esse catálogo seja o primeiro de uma série, com veiculação anual”, aposta José Luiz Miranda Simonelli, diretor do Ciesp - Regional Bauru.

Produzido dentro das normas internacionais e acompanhado de fotos e ilustrações coloridas, o catálogo circulará em outros países no segundo semestre. “Isso incentivará a busca de novos mercados”, afirma Simonelli.

Atualmente, 30 empresas bauruenses exportam. Os principais produtos são cadernos, máquinas, baterias automotivas, carne bovina processada, suco em pó, confeitos, massa alimentícia, cintos, bolsas e utilidades plásticas.

Do total exportado, 80% destinam-se a países da América do Sul. O restante é distribuído entre nações da América do Norte (10%), Europa (5%) e outros continentes (5%).

Entre os fomentadores desse perfil exportador, aponta o órgão, está a Estação Aduaneira do Interior (Eadi) e o serviço de emissão de origem para exportação prestado pelo Ciesp.

Secretaria aposta em trabalho conjugado

Para atrair investimentos e benefícios a Bauru, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico tem apostado no trabalho conjugado com diretorias de indústria e do comércio e outras secretarias e órgãos públicos.

“Temos obtido avanços”, garante Roberto Rufino, secretário de Desenvolvimento Econômico, que lista pelo menos 131 milhões de investimentos feitos no município no ano passado.

O discurso não é totalmente digerido pelas lideranças do comércio. “Faltam mecanismos que fomentem o crescimento do comércio local. A prefeitura precisa vender a idéia de que a cidade é próspera, saneada. Todo mundo já sabe que ela faz parte de um entroncamento rodoferroviário importante”, diz Francisco Alberto Franco De Bernardis, presidente da Associação de Empresas do Calçadão (AEC).

A Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico quer colocar esses predicados no papel, mas de maneira exata. Para tanto, está propondo uma parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru.

A idéia é que estudantes de relações públicas, orientados por professores, levantem os dados socioeconômicos por meio de pesquisas de campo. “Dessa maneira, teríamos um documento do que realmente Bauru é e oferece”, explica Rufino.

Por enquanto, o projeto ainda está no campo teórico. O secretário quer formalizar a idéia até o final do ano e colocá-la em prática o mais breve possível.

A conjugação de forças não pára por aí. Em colaboração com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Turístico e a Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan), Rufino pretende formatar um plano de metas e turismo.

“A conjugação de forças é necessária porque um turista não virá a Bauru para ver buracos e andar por ruas mal sinalizadas. Precisamos nos unir para checarmos pontos em que seja possível alavancar, e não impedir, o desenvolvimento econômico municipal”, defende.

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