Com produção responsável por 45,81% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no município, a indústria gerou R$ 50 milhões dos R$ 109,8 milhões arrecadados no ano passado na cidade, de acordo com o Centro de Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) - Regional Bauru. Apesar disso, o perfil industrial ainda é negado pela população e por parte de lideranças políticas.
“A população não conhece esse perfil, ainda acredita na vocação comercial, mas isso foi alterado pelos rumos da história. A privatização de empresas estatais contribuiu para a mudança. Nossa característica é industrialâ€, afirma José Luiz Miranda Simonelli, diretor do Ciesp - Regional Bauru.
Para conscientizar a sociedade bauruense sobre a vocação industrial do município, o Ciesp tem divulgado dados que demonstram essa característica a formadores de opinião e poder público.
Entre esses dados, o de que a indústria emprega 21 mil pessoas, distribuídas em 550 empresas. No comércio, o número de empregados seria 11 mil de acordo com o Ciesp, citando informações do Sindicato do Comércio (Sincomércio) e Sindicato dos Trabalhadores no comércio de abril de 2001.
“Desconheço os dados, mas afirmo que o comércio é extremamente importante para Bauru e região. É forte, organizado e alavancado pela prestação de serviços. Não é igual às décadas de 70 e 80, sofreu desaquecimento tanto quanto o País como um todo, mas tem recebido muitas empresasâ€, assegura Francisco Alberto Franco De Bernardis, presidente da Associação das Empresas do Calçadão (AEC).
Segundo De Bernardis, a comunidade apóia os setores comercial e de prestação de serviços. “E uma das razões disso é que esses setores dão mais emprego que a própria indústriaâ€, argumenta.
Juntos, de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) elaborada pelo Ministério do Trabalho, comércio e prestação de serviço foram responsáveis por 30.454 e 14.823, respectivamente, dos 63.029 empregos ocupados em 2000 no município. Já a indústria respondeu por 16.742 postos.
Para o Ciesp, os números são diferentes. “A construção civil deve ser entendida como indústria, não como prestação de serviçosâ€, defende Simonelli.
Assim sendo, mais 10 mil empregos poderiam ser contabilizados no setor industrial. Os trabalhadores estariam em 33 empresas, segundo fontes do Sindicato da Construção Civil de Bauru (Sinduscon) e do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil.
E a indústria passará a ser mais influente ainda, acredita o Ciesp, com a inauguração do Aeroporto Internacional de Bauru em 2003. “Será um marco, tendo um impacto tão forte como quando a ferrovia chegou à cidadeâ€, prevê Simonelli.
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Roberto Rufino, também acredita nisso. “Isso reforça a idéia de que Bauru está numa situação privilegiada em termos de transporte e telecomunicaçõesâ€, diz.
Situação que, segundo Rufino, fez da região a sexta colocada no ranking de investimentos anunciados no estado de São Paulo em 2001, de acordo com levantamento da Fundação Estadual de Análise de Dados (Seade).
Do total de US$ 23 bilhões investidos no estado em 2001, a região administrativa de Bauru recebeu US$ 622 milhões, US$ 165 milhões a mais do que o registrado pela Fundação Seade em 2000. “Há no ar um processo de interiori-zação dos investimentosâ€, analisa Rufino.
De olho nisso, a secretaria, em parceria com a Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan), está desenvolvendo projeto de expansão do Distrito Industrial 2 em 58 mil metros quadrados, o qual incluirá terminal de cargas.
O trabalho do poder público municipal é acompanhado de perto pelo Ciesp, mas o diretor do órgão desobriga a prefeitura da responsabilidade de atrair novas indústrias.
“Hoje, a decisão envolve decisões mais profundas do que aceitar a doação de um terreno. Envolve logística, investimentos e análise da conjuntura mundial. Daí a necessidade de termos uma comunidade unida para pressionar positivamente nossos representantes no Legislativo a cobrar repasses estaduais e federais para o municípioâ€, salienta Simonelli.
Ciesp quer mostrar Bauru como pólo de exportação
Além de estar localizada em meio a um expressivo entroncamento rodo-hidroferroviário, o Ciesp - Regional Bauru quer apresentar a região como pólo exportador. Para tanto, o órgão elaborou um catálogo de exportadores.
O material, que inclui indústrias de Bauru e região, será lançado em agosto. A edição terá 5 mil exemplares, entre material impresso e CD-ROM, e será distribuída pela Confederação Nacional da Indústria.
“Pretendemos que esse catálogo seja o primeiro de uma série, com veiculação anualâ€, aposta José Luiz Miranda Simonelli, diretor do Ciesp - Regional Bauru.
Produzido dentro das normas internacionais e acompanhado de fotos e ilustrações coloridas, o catálogo circulará em outros países no segundo semestre. “Isso incentivará a busca de novos mercadosâ€, afirma Simonelli.
Atualmente, 30 empresas bauruenses exportam. Os principais produtos são cadernos, máquinas, baterias automotivas, carne bovina processada, suco em pó, confeitos, massa alimentícia, cintos, bolsas e utilidades plásticas.
Do total exportado, 80% destinam-se a países da América do Sul. O restante é distribuído entre nações da América do Norte (10%), Europa (5%) e outros continentes (5%).
Entre os fomentadores desse perfil exportador, aponta o órgão, está a Estação Aduaneira do Interior (Eadi) e o serviço de emissão de origem para exportação prestado pelo Ciesp.
Secretaria aposta em trabalho conjugado
Para atrair investimentos e benefícios a Bauru, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico tem apostado no trabalho conjugado com diretorias de indústria e do comércio e outras secretarias e órgãos públicos.
“Temos obtido avançosâ€, garante Roberto Rufino, secretário de Desenvolvimento Econômico, que lista pelo menos 131 milhões de investimentos feitos no município no ano passado.
O discurso não é totalmente digerido pelas lideranças do comércio. “Faltam mecanismos que fomentem o crescimento do comércio local. A prefeitura precisa vender a idéia de que a cidade é próspera, saneada. Todo mundo já sabe que ela faz parte de um entroncamento rodoferroviário importanteâ€, diz Francisco Alberto Franco De Bernardis, presidente da Associação de Empresas do Calçadão (AEC).
A Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico quer colocar esses predicados no papel, mas de maneira exata. Para tanto, está propondo uma parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru.
A idéia é que estudantes de relações públicas, orientados por professores, levantem os dados socioeconômicos por meio de pesquisas de campo. “Dessa maneira, teríamos um documento do que realmente Bauru é e ofereceâ€, explica Rufino.
Por enquanto, o projeto ainda está no campo teórico. O secretário quer formalizar a idéia até o final do ano e colocá-la em prática o mais breve possível.
A conjugação de forças não pára por aí. Em colaboração com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Turístico e a Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan), Rufino pretende formatar um plano de metas e turismo.
“A conjugação de forças é necessária porque um turista não virá a Bauru para ver buracos e andar por ruas mal sinalizadas. Precisamos nos unir para checarmos pontos em que seja possível alavancar, e não impedir, o desenvolvimento econômico municipalâ€, defende.