Bauru 106 anos

48% estão empregados em serviços

Daniela Bochembuzo
| Tempo de leitura: 4 min

O setor de serviços emprega hoje o maior contingente de trabalhadores bauruenses: 48,32%. São 30.454 pessoas, trabalhando em 2.301 estabelecimentos, de acordo com dados da mais recente Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho.

A importância do setor de prestação de serviços é atestada por Roberto Rufino, secretário municipal do Desenvolvimento Econômico. “Assim como no estado de São Paulo, a parte de prestação de serviços está crescendo e representa, sem dúvida, um perfil expressivo da cidade de Bauru.”

Depois de serviços, o setor industrial é quem mais emprega trabalhadores formais. São 16.742 funcionários (26,56%), distribuídos por 891 estabelecimentos. Do restante de 63.029 empregos cadastrados no Rais, 14.823 (23,52%) estão ocupados no comércio e 1.010 (1,6%) em demais empregos.

Apesar dos dados relacionados ao trabalho formal serem expressivos, o peso do assalariamento com carteira de trabalho assinada vem diminuindo em Bauru, a exemplo do que ocorre no interior paulista. A tendência foi verificada na Pesquisa de Condições de Vida (PCV) realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de 1998.

Nesse ano, os pesquisadores detectaram que do total de trabalhadores do interior paulista 38,1% tinham carteira assinada, contra 40,7% registrados no PCV de 1994. Em contra-partida, o número de trabalhadores assalariados sem carteira subiu de 11% para 13,4% entre 1994 e 1998.

Na região Central, da qual faz parte Bauru, esse índice é de 13,2%. Já o de trabalhadores assalariados com carteira é de 37,5%, quase três pontos percentuais abaixo da média registrada no interior no PCV de 1994.

Perdas

Casado e pai de um filho, Valdir de Souza Messias, 39 anos, era um dos trabalhadores que em 1998 tinha carteira assinada. Um ano depois, ele se viu sem essa segurança ao ser demitido da função de operador de empilhadeiras. Desde então, engrossa as estatísticas de desemprego da cidade.

“Só faço bicos e não trabalho mais como operador de empilhadeira. Agora, faço de tudo, qualquer coisa, já fui até ajudante de obras”, conta Messias, cuja renda familiar vem do filho de 16 anos, que trabalha como office-boy.

Sabendo da dificuldade em encontrar emprego com carteira assinada, a estudante de análise de sistemas Ana Paula do Nascimento Leitão, 24 anos, procura uma vaga como estagiária.

Por meio de uma entidade que realiza a ponte entre empresas e universidades, Ana Paula chegou ao seu último emprego, no qual permaneceu por dois anos. O trabalho lhe garantiu experiência profissional e verba para pagar a faculdade, mas não direitos trabalhistas.

“Como é um contrato de estágio, não há registro em carteira e direitos trabalhistas. A única coisa que contou foi a experiência. Agora, vou tentar a recolocação, mas sei que é um tiro no escuro. Tenho amigas desempregadas há tempos”, diz Ana Paula.

Enquanto isso, a estudante contará com ajuda da mãe, autônoma, para pagar a faculdade. O grupo de autônomos, aliás, é o único que se manteve estável nas PCVs realizadas pelo Seade nos anos de 1994 e 1998, com 16,7% e 16,9%, respectivamente, em relação à posição ocupacional.

Na região central, os autônomos representam 16% da força trabalhadora ocupada, um dos índices mais baixos entre os agrupamentos pesquisados pela Fundação Seade.

A PCV de 1998 foi a terceira e última pesquisa realizada pela instituição no estado. Entre junho e novembro daquele ano, a fundação levantou dados referentes a 83% da população paulista na área urbana, sendo esta dividida entre os agrupamentos central, leste, região metropolitana de Santos, norte, oeste, Vale do Paraíba e região metropolitana de São Paulo.

Na região central foram pesquisados dados de Bauru, Avaré, Botucatu, Itapetininga, Itapeva, Itu, Jaú, Salto, Sorocaba, Tatuí e Votorantim.

Oferta de vagas não vem acompanhada de benefícios

A oferta de empregos nem sempre vem seguida de benefícios. Somado à diminuição do número de trabalhadores sem carteira assinada, outro problema é a redução no oferecimento de benefícios.

Em Bauru, acompanhando a tendência verificada na região central pela Pesquisa de Condições de Vida (PCV) da Fundação Seade, a proporção de assalariados que tinham convênio médico era de 29,1% em 1998, quatro pontos percentuais abaixo da média do interior do estado. Em comparação a 1994, essa redução foi de 13 pontos.

No mesmo período, também reduziram-se as parcelas de trabalhadores que recebiam vale-transporte. Em 1998, esses benefícios atingiam 26% dos trabalhadores assalariados, de acordo com a Fundação Seade.

Paulo Vieira Lima, coordenador da sub-sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Bauru, confirma a perda de benefícios. “Isso é resultado direto da flexibilização e é um problema generalizado, sentido por trabalhadores de todos os setores. Em Bauru não é diferente”, comenta.

No momento, segundo Vieira, as perspectivas são negativas. “Salvo se mudar o governo. Por isso é preciso mobilizar a sociedade para a luta por uma política de geração de empregos e respeito aos direitos trabalhistas conquistados”, defende.

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