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Por que Heraldo Pereira provocou espanto?


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No último sábado e na segunda-feira, o Brasil viu pela primeira vez um apresentador negro dar o tradicional “Boa Noite!” para milhões de brasileiros em um dos mais antigos telejornais do País, o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. O apresentador era Heraldo Pereira, repórter que cobre Política, setorista em Brasília, que entra com freqüência nos principais telejornais da emissora, inclusive no próprio Jornal Nacional.

Mas se Heraldo Pereira já é um repórter tão presente no vídeo, por que, então, se criou uma celeuma ao anunciar a sua presença na bancada do Jornal Nacional? Não há dúvidas que o fato de ser afro-descendente, um homem negro, foi o motivo de tanta agitação.

O “Boa Noite!” de Heraldo, no Jornal Nacional, reacendeu a discussão que vem tomando corpo nos últimos tempos, a representatividade da população negra nos meios de comunicação e as políticas afirmativas. Heraldo é um jornalista capaz e tem realizado jornalismo de peso. Ele é freqüentemente escalado para cobrir o presidente em viagens internacionais e entrevistar a cúpula do poder de Brasília. Mesmo assim, depois de quase duas décadas trabalhando na emissora, só agora ele chega à bancada.

O que pretendia demonstrar a Rede Globo de Televisão? Os números demonstram que a Globo é a emissora brasileira que concentra o maior número de repórteres negros, totalizando um pouco mais de meia dúzia. A explicação para a emissora agir assim, ainda modestamente, talvez seja pelas suas congêneres norte-americanas que esbanjam afro-americanos, orientais e outros grupos nas bancadas dos telejornais.

Heraldo Pereira, Glória Maria, a repórter Ana Davis, Maria Helena Santos, que nos anos 70 era apresentadora dos telejornais regionais de Minas Gerais e teve algumas aparições no Jornal Hoje, cobrindo Leda Nagle, que era a apresentadora titular, são alguns nomes que fizeram história nos telejornais. Outros foram se perdendo na história.

Mas Heraldo não é o primeiro negro apresentador. A TVE, do Rio de Janeiro, possui um. Em tevês a cabo regionais, Bauru tem Ademir Elias, da TVFIB. Mas o caso de Heraldo repercutiu tanto porque o Jornal Nacional ainda é o carro-chefe da emissora e vem se perpetuando como a marca do jornalismo televisivo.

As mudanças nesse telejornal podem ser classificadas como antes de Cid Moreira e depois de Cid Moreira. Celeuma semelhante ocorreu quando Lílian Witte Fibe, a primeira mulher a apresentar o Jornal Nacional, sentou-se na bancada, considerada quase sagrada. Agora é Heraldo, representando os mais de 70 milhões de negros brasileiros, o que faz do Brasil o segundo País mais negro do Planeta, perdendo apenas para a Nigéria. (O autor, Ricardo Alexino Ferreira, é jornalista e professor de Jornalismo Especializado da Universidade Estadual Paulista - Unesp)

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