Um paciente do serviço de hemodiálise do Hospital de Base (HB) está internado desde a última sexta-feira na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), em estado grave. Ele passou mal durante a hemodiálise, na manhã de sexta, e seus familiares afirmam que ele adquiriu uma infecção durante o tratamento. A direção do hospital informa que não é possível afirmar se a contaminação do paciente ocorreu devido aos aparelhos.
Na segunda-feira, o serviço de hemodiálise do HB foi suspenso temporariamente devido a possíveis riscos para a saúde dos pacientes. Os 103 doentes renais crônicos atendidos estão sendo encaminhados para hospitais de cidades da região, como Jaú, Marília, Lins, Botucatu e São Carlos.
Rita de Cássia Machado Paes relata que seu tio, Archimedes Marins Machado, 75 anos, faz sessões de hemodiálise há cerca de seis anos, três vezes por semana, e passou mal. “Ele passou mal durante a sessão de hemodiálise, foi internado com muita febre e logo foi transferido para a UTI porque teve convulsões. Ele começou a ter esses tremores, e eles (funcionários do HB) não dizem nada, não comentam, eu não sei nem o que ele teve, se é uma infecção generalizada ou outra coisa”, questiona.
Até o final da tarde de ontem, o paciente continuava internado na UTI do HB, em estado grave. “Ele fez 75 anos domingo. Ele chegou bem na sexta-feira, estava tudo bem. Não tinha nada, foi fazer a hemodiálise e não saiu mais do hospital”, revolta-se a sobrinha.
Há cerca de 60 dias, a equipe da unidade de hemodiálise vinha recebendo queixas de pacientes reclamando de calafrios e tremores durante as sessões. Uma investigação foi iniciada pela Vigilância Sanitária e alguns problemas foram detectados na água utilizada para o processo, mas sem solução final para o problema.
A decisão da Diretoria Regional de Saúde de Bauru (DIR-10), em conjunto com a Associação Hospitalar de Bauru (AHB), responsável pelo HB, foi de suspender temporariamente o serviço de hemodiálise até que o problema seja identificado e solucionado. Algumas peças e filtros dos aparelhos de hemodiálise também serão substituídos com a interrupção do serviço.
Uma das médicas responsáveis pela unidade de hemodiálise do HB, Maria Regina Trotta Pinheiro, afirma que o fato de ter sido verificado problema na hemodiálise causa temor nos pacientes. “Qualquer paciente que for internado será questionado o motivo, pois é uma situação delicada”, diz.
Ela confirma que alguns pacientes já vinham apresentando calafrios durante as sessões e que o comportamento vinha sendo monitorado, em conjunto com a Vigilância Sanitária. “O senhor Archimedes realmente teve uma queda de pressão (durante a hemodiálise) e foi internado, e agora, uma série de coisas estão sendo investigadas. Nossos pacientes frequentemente se internam com infecções ou problemas vasculares, queda de pressão ou derrames”, declara Pinheiro.
No entanto, a médica afirma que não é possível determinar se a febre e a queda de pressão do paciente foram causadas por algum problema durante a hemodiálise. “Eu preciso primeiro colher exames até chegar a um diagnóstico. Sabemos que essa situação causa alarde e pânico, inclusive na equipe que trabalha aqui, mas temos de manter o pé no chão e cabeça fria para investigar”, afirma.
Sobre o paciente internado, ela comenta que seu estado realmente é grave e que ele faz hemodiálise há vários anos. “A sobrevida dos pacientes em hemodiálise não é muito longa. Ele (Archimedes Machado) tem 75 anos, mas ainda estamos investigando. Não queremos enganar ninguém e interditamos o serviço justamente porque achamos que não devíamos correr risco nenhum nem colocar os pacientes em risco”, diz Pinheiro.
O administrador da AHB, José Cardoso Neto, declara que cinco pacientes da unidade de hemodiálise morreram no último mês. “Temos uma alta rotatividade das pessoas que fazem o tratamento. Quase todas as mortes (do mês passado) foram causadas por problemas pulmonares, provocadas pela queda da temperatura do corpo durante o tratamento”, esclarece.
Cardoso comenta também que as três médicas responsáveis pela unidade são especialistas na área, e uma delas sempre está presente durante as sessões.
____________________
Entenda o processo
Os rins têm a função de balancear o conteúdo de água no corpo, filtrar os resíduos de substâncias no sangue, além de auxiliar no balanço da pressão sangüínea. Com a perda das funções dos rins (doença renal crônica), é necessária a utilização de uma terapia renal substitutiva.
A hemodiálise é um tratamento intermitente, realizado normalmente a cada três dias, em que o paciente permanece ligado através de uma veia a um aparelho chamado de rim artificial, por cerca de quatro horas.
Nesse período, com a ajuda de uma bomba, o sangue do paciente passa a circular pelo aparelho, dentro de um dialisador - membrana artificial que promove a filtragem do sangue. A remoção das substâncias tóxicas e excesso de líquidos são eliminados do sangue, que retorna limpo para o corpo do paciente.
____________________
Leia mais sobre este assunto
• Contaminação preocupa familiar