Articulistas

'Custos Vigilat'


| Tempo de leitura: 3 min

Hoje, na Câmara Municipal, por uma propositura do vereador Leandro e com a aprovação unânime dos senhores vereadores, será realizada a entrega da medalha “Custos Vigilat” ao amigo e técnico da seleção de basquete feminino, o professor Antônio Carlos Barbosa. Honraria esta concedida àqueles que, com seu trabalho, levam o nome de nossa cidade além de suas fronteiras. Hoje, o Barbosa coloca definitiva e merecidamente o seu nome nos históricos anais da Câmara. Essa premiação ao Barbosa me leva a fazer as seguintes considerações. Primeiro, a denominação da medalha, “Custos Vigilat”.

Muitos, por eu ter sido professor de latim, perguntam-me sobre a pronúncia correta da expressão latina e o seu real significado. Essa denominação foi extraída do nosso brasão. Aliás, os brasões de muitos estados e cidades trazem frases latinas, as quais nos retornam aos romanos. Eles, como os gregos, souberam sintetizar em pequenas frases, grandes pensamentos. Lembro o brasão do Estado de São Paulo, “non ducor, duco” (não sou conduzido, conduzo), e o de Minas Gerais, “Libertas quae sera tamen”(Liberdade, embora tardia). A tradução em português pode ser “o guarda está vigilante”. O guarda vigia.

Alguns costumam tropeçar na pronúncia. Para a leitura e pronúncia do primeiro termo “Custos” (e não custus) não há dificuldade, pois, em latim, palavras de duas sílabas são sempre paroxítonas (sílaba tônica é a penúltima). As palavras com mais de duas sílabas são paroxítonas ou proparoxítonas (sílaba tônica é a antepenúltima), dependendo da penúltima sílaba. O acento (sílaba tônica) recai na penúltima sílaba, quando esta é longa: “vigiláre”, “dubitáre”. Cai na antepenúltima, quando a penúltima é breve: vígilat, dúbitat.

No latim não há acento gráfico para indicar a tonicidade da sílaba, costuma-se usar hoje o sinal macro (mácron) para vogal longa (-) que seria a tônica e o sinal bráquia (u) para a vogal breve, sílaba átona.

Concluindo, a expressão latina na sua pronúncia correta é: “cústos vígilat”. Os acentos foram colocados para ajudar a pronúncia.

Quanto ao significado, “custos” tem sentido de guarda, protetor e o sentido figurado de pedagogo, defensor. (...)

O segundo elemento e “vígilat”. A raiz desse verbo está no substantivo feminino “vis” para indicar força. Daí, temos violento, violar, inviolável. Com essa raiz, chegamos a “vigilare”. “Vigil, vigilis”, como adjetivo, significa bem vivo, que não dorme, que vigia, está alerta. Vigilante. Como substantivo masculino, significa sentinela, vigia, guarda-noturno. O sentido próprio de “vigilia, ae” é a falta do sono ou um dos períodos em que os romanos dividiam a noite, em quatro partes. Aplicou-se depois ao sentido religioso. Temos a Vigília Pascal. É bom lembrar que, em português, temos o verbo “viger” no sentido de estar em vigor, que só se conjuga quando aparece o “e” depois do radical “vig”. Vige a norma jurídica, isto é, está em vigência, é vigente.

O nosso amigo Barbosa, como aluno do ginásio, no Instituto de Educação Ernesto Monte teve aulas de latim com este humilde repetidor de aldeia. Mas o forte do Barbosa nunca foi o latim, mas o esporte, principalmente o basquete.

Nesse esporte, como técnico ele foi e é um mestre. Um vitorioso. Descobridor de talentos. Projetou para a história do basquete mundial: Hortência, Paula, Marta, Vânia Teixeira, Branca, Suzete e outras. (...)

Aliás, uma das suas grandes virtudes é a lealdade. Mesmo nos momentos difíceis desta cidade, Barbosa sempre apoiou os amigos. Pelos seus valores e por ter no sangue a política, herança, talvez, de seu tio, o inesquecível ex-prefeito desta cidade, o Nicola Avalone Júnior, o popular Nicolinha, está sendo cogitado a ser candidato a prefeito de Bauru. Tanto na política, como no esporte, estaremos torcendo pelo seu sucesso, em especial nas Olimpíadas, em agosto, em Atenas, Grécia, o berço dos jogos. Boa Sorte! Parabéns pela premiação.

O autor, Gino Crês, é professor.

Comentários

Comentários