Começa hoje em Londres, na Inglaterra, mais um encontro da Organização Internacional do Café (OIC). Uma das principais discussões será a possibilidade de os Estados Unidos voltarem a fazer parte da organização, o que pode estimular o setor. Mas o que continua preocupando os produtores brasileiros é o baixo preço da saca de café, atualmente comercializada a cerca de US$ 60. Isso ocorre em função de haver um excesso do produto no mercado mundial.
A explicação é do vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde, que desta vez será o único representante oficial dos produtores brasileiros no encontro da OIC. Ele representará a Federação Nacional da Agricultura.
De acordo com Lima Verde, o “fantasma” do preço baixo deve continuar assombrando os cafeicultores durante os próximos quatro anos, aproximadamente. Isso porque para 2005 está prevista a terceira maior colheita - 40 milhões de sacas - de todos os 270 anos de história da cafeicultura no Brasil. O problema é agravado pela safra recorde de 2001/2002, quando foram colhidas cerca de 45 milhões de sacas de café no País.
“Com o excesso do produto no mercado, os preços de venda caíram muito. A situação já foi pior, porque o valor chegou a ser de US$ 45 (por saca). Mas na média, deveria custar em torno de US$ 90 para a venda. Isso gera uma grave crise social para os produtores de café, principalmente em Estados onde a cafeicultura é muito forte, como Minas Gerais, Espírito Santo e uma parte de São Paulo”, observa Lima Verde.
Excesso
Desde a safra recorde de 45 milhões de sacas de café, várias tentativas de retirar o excesso de circulação no mercado já foram feitas, inclusive durante os encontros da OIC realizados em 2002 e no ano passado. Para Lima Verde, é necessário um ordenamento do mercado, o que poderia ser alcançado com os Estados Unidos - maior consumidor de café do mundo - voltando a fazer parte da organização.
“Eu costumo dizer que, se conguíssemos fazer com que cada chinês tomasse uma xícara de café por dia, estaria resolvido o problema do excesso de sacas no mercado, já que a China tem uma população em torno de 1,4 bilhão de pessoas. Mas o consumo de café tem diminuído ao longo dos anos, e os produtores precisam de medidas urgentes.”
O Brasil é o maior produtor mundial de café. Ao todo, a OIC - pertencente à Organização das Nações Unidas (ONU) - congrega 96 países, entre produtores e consumidores, que estarão representados no encontro que será realizado de hoje até o próximo sábado.
“No Brasil, existem cerca de 10 milhões de pessoas que dependem direta e indiretamente do café para sobreviver, ou seja, ele tem um peso político muito grande. Atualmente, na pauta de exportações do País o café ocupa a 12.ª posição, sendo que já foi o primeiro por muito tempo. Então, o peso econômico não é grande, mas social e politicamente é enorme (o peso)”, destaca Lima Verde.
Segundo ele, no mundo todo são produzidas aproximadamente 108 milhões de sacas por ano e consumidas em torno de 103 milhões. “Isso significa que, se houver uma política interna e externa adequada, há um espaço muito grande para o Brasil neste setor. Soma-se a isso o fato de que a Colômbia (segundo maior produtor mundial de café) está falida em todos os aspectos. Temos que saber aproveitar isso”, conclui.
Segundo dados do Sindicato dos Produtores Rurais de Campo Belo (MG), atualmente existem no Brasil 300 mil cafeicultores, 10 milhões de pessoas na atividade cafeeira e 1.850 municípios que dependem do café. Além disso, o setor é responsável por cerca de 8 milhões de empregos no meio rural.