Polícia

Letreiro cai e mata mulher no Calçadão

Diego Molina (colaboraram Rita de Cássia Cornélio e Luciana La Fortezza)
| Tempo de leitura: 5 min

Uma bandeira publicitária da loja Pernambucanas, na quadra 5 do Calçadão da Batista de Carvalho, desabou ontem pela manhã, por volta de 11h40, e matou a merendeira Helena Maria Bíscoli da Silva, 52 anos. Um casal que passava pelo local também ficou ferido e algumas pessoas entraram em choque ao presenciar a tragédia. O acidente ocorreu em horário de grande movimento no Calçadão e aglomerou muitos curiosos, indignados e assustados com a estrutura de metal destruída, caída sobre a calçada e a notícia da morte de uma pessoa.

A loja possuía dois letreiros verticais semelhantes, fixados nas fachadas do Calçadão e da rua Agenor Meira. Ambos com aproximadamente seis metros de comprimento, 1,20 metro de largura e estavam fixados a cerca de dez metros de altura do solo. Após a tragédia, a loja decidiu retirar também o segundo letreiro, na fachada da Agenor Meira, procedimento que seria realizado ainda na noite de ontem. A loja permaneceu fechada durante toda a tarde de ontem, mas deve reabrir normalmente hoje. Os destroços do letreiro que caiu foram retirados do Calçadão ainda durante a tarde.

Estimativas do Corpo de Bombeiros indicam que a bandeira publicitária pesava cerca de 600 quilos. Ela possuía três pontos de fixação na fachada da loja, com seis parafusos, e caiu atingindo Helena que era servidora municipal e morava no Jardim Carolina.

Ela era merendeira da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) “Venâncio Ramalho”, localizada no Instituto Lauro de Souza Lima. Ontem, a vítima havia abonado o dia de trabalho e estava no Centro da cidade para acertar a documentação de um carro que havia vendido. Ela sofreu traumatismo craniano e morreu na hora.

O corpo de Helena está sendo velado na sala Redentor e será sepultado às 11h de hoje, no Cemitério Redentor. Ela era casada e mãe de dois filhos. “Eles (da Pernambucanas) estão ajudando (com o enterro). Nós sabemos e eles mesmos admitem que têm responsabilidade civil sobre o caso, mas agora nem estamos pensando nisto. Agora o que eu quero é confortar a minha família”, disse ontem durante o velório Alecsandro Aparecido Silva, 28 anos, filho mais velho da vítima.

Ele foi informado pelo irmão Tiago de Paula Silva, 23 anos, sobre a tragédia. “Minha vó (75 anos) ficou sabendo e me avisou. Não dá para acreditar numa coisa dessa”, comenta o filho mais novo de Helena.

De acordo com o professor de física Marco Antônio Jabur, a queda da estrutura, de altura aproximada dez metros, causou força de impacto de 6 mil newtons, que seria equivalente a uma massa de 840 quilos. “Em uma comparação, seria o mesmo impacto que uma pessoa receberia ao ser atropelada por um carro a 30 quilômetros por hora”, explica.

A merendeira Fátima Helena Aguiar, que trabalhava com a vítima, conta que todos os colegas levaram um choque quando souberam do acidente. “Ela era ótima pessoa. Antes já tínhamos trabalhado juntas em outra escola. A gente chorou e passou a tarde em clima de luto”, conta.

O casal Adão Marques de Oliveira, 41 anos, e Djanira Lopes Oliveira, 32 anos, fazia compras no Calçadão no momento do acidente. Eles foram atingidos por peças da estrutura. Eles contam que levaram um grande susto quando viram os ferros retorcidos caindo da frente da loja. “Eu e meu marido estávamos passando por aquela quadra quando ouvimos o barulho e em seguida vimos os ferros caindo”, diz Djanira.

Oliveira teve escoriações na cabeça, ombro e braço, e sua esposa, apenas no braço. Apesar dos ferimentos leves, ela conta que ficou nervosa e passou mal. “Tudo foi muito rápido. De repente, meu braço estava ferido e meu marido sangrando na cabeça. Foi um susto e tanto (...), uma situação pavorosa. Foi uma gritaria. Uma mulher morreu e na hora ninguém sabia o que fazer”, relembra. O casal passou pelo Pronto Socorro Municipal Central (PSM), foi medicado e, após os exames de praxe, ficou em observação.

A faxineira Vanessa da Costa Guimaro, 25 anos, ficou em estado de choque. Sem condições de falar sobre o assunto, ela foi medicada e liberada do PSM para repousar em sua casa. Segundo informações extra-oficiais, a jovem passava pelo local e teria assistido o letreiro cair sobre a merendeira.

____________________

Desespero

Célio Freitas Santos, que trabalha em uma cabine de venda de cartões telefônicos em frente à loja Pernambucanas, conta que viu quando o letreiro caiu sobre o Calçadão. “Foi aquele barulhão. De repente, eu só vi aquela peça caindo, que deve pesar uns 700 quilos e caiu bem em cima de uma mulher. Ela foi a primeira atingida e depois a estrutura ainda pegou mais pessoas que passavam pelo Calçadão”, relembra.

Ele comenta que não percebeu qualquer barulho estranho na estrutura momentos antes do acidente. “Não teve nenhum estalo que mostrasse que o letreiro fosse cair. Ele bateu na cobertura do Calçadão e as pessoas tentaram correr, desesperadas. Todo mundo ficou muito nervoso na hora”, aponta Santos.

O vendedor Alexandre Costa, funcionário de uma loja na quadra 5 do Calçadão, relata que também viu quando o letreiro desabou. “A gente estava aqui na frente da loja, mas não tinha ouvido nada antes. Todo mundo assustou, ficou apavorado, principalmente quando percebemos que havia pessoas machucadas”, comenta.

Ana Simone de Andrade, vendedora colega de Costa, ressalta que a estrutura balançava bastante e fazia barulho em dias de vento forte. “A gente que trabalha aqui no Calçadão via o letreiro balançado e estalando quando ventava e chovia. Desde que instalaram esse letreiro na loja, eu tinha medo de acontecer um acidente como ocorreu hoje (ontem)”, lamenta.

Em nota oficial distribuída à imprensa, a Pernambucanas informa que lamenta profundamente o acidente ocorrido em Bauru e que em 95 anos de atividade em todo o Brasil, esta seria a primeira vez que registra uma ocorrência desta natureza.

A empresa informa também que as causas do acidente estão sendo apuradas detalhadamente e que está prestando toda a assistência necessária à família da vítima. A Pernambucanas não apontou qualquer responsabilidade pelo acidente às empresas que projetaram ou instalaram as bandeiras publicitárias.

Comentários

Comentários