Bairros

‘Velhice não é sinônimo de doença’, sustenta especialista

Rodrigo Ferrari
| Tempo de leitura: 3 min

Assim como no restante do Brasil, Bauru tem registrado um aumento rápido no número de idosos. Uma coisa que logo vem à mente das pessoas são as doenças supostamente associadas à essa faixa etária.

Para Abrão José Cury Jr., presidente da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a visão é errônea. “Não existem moléstias ligadas à idade avançada, pelo simples fato que ser velho não significa ser doente”, afirma ele, que também é cardiologista.

Segundo Cury Jr., o que existe, na verdade, são limitações naturais, que podem ser superadas com os recursos que a medicina dispõe atualmente.

“Ninguém é obrigado a não enxergar, a não ouvir ou a sentir dores, apenas pelo fato de ter uma idade avançada. Existem diversos aparelhos e tratamentos que podem ao menos minimizar o sofrimento dessas pessoas”, garante.

Para o médico, associar idade avançada à doença é resultado da maneira excludente como a sociedade lida com os idosos. “As famílias encaram as pessoas dessa faixa etária como vasos que servem apenas para enfeitar a sala de estar”, acredita.

Na visão de Cury Jr., deveria haver maior estímulo para que os idosos tivessem um envelhecimento com mais qualidade de vida. “Mas isso é um processo longo. Se a pessoa cultivar hábitos saudáveis desde jovem, com certeza terá uma velhice com menos doenças”, garante.

Segundo ele, seria ideal que pessoas acima de 65 anos fizessem visitas regulares ao médico, como forma de prevenir problemas de saúde. “É como você ter um mecânico de confiança”, compara ele.

Muitos idosos de Bauru já seguem o conselho do médico e tentam superar os limites da idade na tentativa de levar uma vida normal. Aparecida Lúcia Bertonha, de 82 anos, freqüenta desde 1993 o Programa Municipal de Atenção ao Idoso (Promai) da Secretaria da Saúde de Bauru, que atende, atualmente, 5.000 pessoas na cidade.

Ela faz acompanhamento periódico de pressão arterial e diabetes na unidade de atendimento, que funciona na quadra 3 da praça Rodrigues de Abreu. Bertonha já sofreu dois infartos, que lhe trouxeram dificuldades de locomoção, mas leva uma vida normal.

“O médico disse para eu evitar caminhar em subidas, então eu ando nas descidas”, brinca ela, que mora no Mary Dota e costuma ir de ônibus ao Promai.

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Visita

Além do atendimento periódico a cerca de 5.000 idosos, o Programa Municipal de Atenção ao Idoso, da Secretaria da Saúde de Bauru, também realiza visitas domiciliares a 250 pacientes, que devido a limitações físicas não podem locomover-se até a unidade de atendimento do órgão.

São feitas visitas periódicas com médicos e psicólogos. A realidade existentes nos lares visitados é dura. Muitas vezes, a presença do médico representa apenas um ritual rotineiro que serve apenas para confortar as famílias dos doentes. Esperanças de cura são nulas.

É o caso de João Telli Netto, de 73 anos, que está há sete anos numa cama, vítima de mal de Alzheimer (doença cerebral degenerativa). Segundo a esposa, Amélia Telli, de 66 anos, Netto sofre da doença desde os 54 anos.

A evolução da moléstia fez com que ele ficasse preso à cama. “Na época ele ainda falava, só que coisas sem nexo”, afirma a esposa. Há cinco anos, Netto não se comunica. O membros estão contraídos e ele se alimenta por meio de sonda. A respiração é facilitada por uma traqueostomia.

Para a esposa, resta a tarefa diária de cuidar do marido, sabendo que jamais ele voltará ao normal. “Vivo por minha fé. Trato dele com carinho e espero...”, diz ela, com serenidade.

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