Lençóis Paulista - O servente de pedreiro Josemar Alves Ramos, 26 anos, pode dar uma pista exata da pessoa que coordenou seu espancamento no último dia 13 em um canavial de Lençóis Paulista (43 quilômetros de Bauru). O seqüestro-relâmpago do servente e posterior agressão por um grupo de pessoas está sendo investigado pela Polícia Civil da cidade. Na semana passada, o delegado titular de Lençóis Paulista Luiz Cláudio Massa afirmou ao JC que pretende esclarecer o crime até por não “admitir justiça pelas próprias mãos”.
Décio da Silveira Corrêa Neto, advogado de Ramos, disse, ontem, que ainda não está certo o depoimento de seu cliente ao delegado hoje. Ao JC, ele declarou, na última quinta-feira, que no espancamento não teria participação de policiais. “Realmente não tenho elementos e não vejo a possibilidade que isso tenha sido feito por policiais.”
O advogado Corrêa Neto concedeu várias entrevistas, na semana passada, em programas das rádios e jornais da cidade em que passou detalhes do seqüestro-relâmpago. Ao JC, ele afirma que a policial que viu Ramos ser colocado em um automóvel poderia reconhecer o homem que coordenou o seqüestro. “A pessoa da delegacia deu detalhes da característica física dessa pessoa que era exatamente a pessoa que Ramos identificou na hora do espancamento”, sustenta o advogado
Seqüestro
Enquanto tentava usar um orelhão em frente à Delegacia de Polícia, o servente de pedreiro Josemar Alves Ramos foi rendido e colocado em um Monza, acompanhado por um outro veículo. Corrêa aponta que entre oito pessoas levaram seu cliente para um canavial na estrada vicinal conhecida como Rio Claro. No local haveria um terceiro veículo no aguardo com mais dois homens. Segundo o advogado, uma das pessoas coordenava o espancamento de Ramos, que permaneceu o tempo todo amarrado. Na versão apresentada pelo advogado trata-se de tortura para que Ramos identificasse o seu parceiro na tentativa de roubo e as duas mulheres que estavam com ele em um bar da Estação Rodoviária. “Teve as partes íntimas queimadas e perdeu a consciência depois de uma hora de tortura”, relata Corrêa, com a história apresentada pelo cliente. Em seu relato o advogado fez questão de frisar uma frase contada por Ramos: “Isso é para você nunca mais apontar um revólver na cara da filha dos outros”.
Segundo o advogado, os homens colocaram o servente de pedreiro no carro e avisaram que ele seria atropelado.
A ameaça de morte não foi cumprida e restou na memória de Ramos um detalhe marcante em relação ao homem que coordenou o espancamento. Segundo seu advogado, seus agressores avisaram que se ele falasse, morreria. Corrêa destaca que seu cliente tem emprego, referências e residência fixa.
Por suspeita de ter participação em uma tentativa de roubo, Ramos foi parar no DP para averiguação e reconhecimento sexta-feira (dia 13), por volta das 18h. Uma hora e meia depois, quando já havia deixado o DP, Ramos desapareceu e virou vítima em um inquérito policial que investiga lesões corporais, investigação a mando do Ministério Público (MP) do Estado de São Paulo. Suspeito num inquérito e vítima em outro, o que vem tirando o sono da polícia é como alguém deixa a delegacia como suspeito e é seqüestrado na frente do DP, território de segurança pública.
Por volta das 22h05, ele entrou no Pronto-Socorro do Hospital Nossa Senhora da Piedade, onde foi atendido pelo médico plantonista que atestou na Ficha de Atendimento Ambulatorial (FAA) “vítima de espancamento”. Décio da Silveira Corrêa Neto, advogado de Ramos, tratou de apresentar uma queixa crime ao MP, que determinou a instauração de um procedimento de investigação, a cargo do delegado titular de Lençóis.