Principal combinação nas refeições brasileiras, o bom e velho arroz com feijão pode ter associação com a redução no risco de adquirir câncer oral, doença que responde por quase 3% de todos os tumores malignos no Brasil, de acordo com estudo conduzido na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
O trabalho, publicado na edição de março da revista “Cadernos de Saúde Pública”, investigou as associações entre a doença e a dieta de 835 habitantes da Capital paulista, sendo 366 pacientes com câncer oral e 469 indivíduos sem histórico da doença.
Os dados do trabalho foram extraídos de um inquérito de hábitos alimentares para investigação do câncer oral, realizado no Brasil pela International Agency for Research on Cancer (Iarc; em português, Agência Internacional para a Pesquisa em Câncer) entre 1998 e 2002. O questionário foi composto por 27 alimentos, sendo que para cada um foi estabelecida uma porção usual de consumo.
Os dados do inquérito foram trabalhados levando em conta medidas de probabilidade e risco da doença. Segundo a coordenadora do trabalho, a nutricionista Dirce Maria Marchioni, a pesquisa constatou uma tendência significativa de diminuição do risco de câncer oral com o aumento do consumo de arroz e feijão.
“Quanto mais as pessoas do estudo consumiram arroz e feijão, menor foi a probabilidade de elas pertencerem ao grupo dos indivíduos com a doença. Os indivíduos que consumiram mais de 14 porções de feijão por semana apresentaram um risco 60% menor de ter a doença. Para o arroz, esse índice foi de 40%”, explica Marchioni. Apesar de os pesquisadores desconhecerem as causas que poderiam explicar a proteção contra o câncer oral, uma suspeita são os baixos teores de gorduras saturadas e de colesterol desses alimentos. Quando consumidos juntos, o arroz e o feijão fornecem altos índices de proteínas, fibras e açúcares que poderiam contribuir para a redução do risco.
Quando comparados às pessoas do grupo controle, sem câncer oral, os indivíduos com a doença relataram, em geral, consumo menor de arroz, feijão, massas, vegetais crus e saladas.
A professora da Faculdade de Saúde Pública da USP ressalta que os resultados do trabalho devem ser encarados como hipóteses que representam a situação específica das 835 pessoas analisadas.
“Não há como afirmar que esses dados valem para a população brasileira em geral. Ainda que, desde a década de 1970, o conjunto de evidências de vários estudos internacionais tenha indicado o papel importante da dieta no desenvolvimento de diversos tipos de cânceres”, destacou.
Segundo Marchioni, o trabalho não verificou associações entre o câncer oral e o consumo de carne vermelha ou branca. Por outro lado, o consumo de ovos e batata teve associação estatisticamente significativa com a prevalência da doença.
O inquérito da Iarc incluiu também perguntas sobre cigarros e bebidas alcoólicas, cujo consumo foi mais freqüente entre os pacientes com câncer oral. “O fumo e álcool são os fatores de risco mais reconhecidos em todo o mundo para a doença”, lembra a pesquisadora.
Também participaram do trabalho pesquisadores e docentes do Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho e do Departamento de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis.
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Alimentos contra o cigarro
Leite, frutas e vegetais podem ajudar os fumantes a se livrar do cigarro, segundo pesquisa realizada por cientistas do Centro Médico da Universidade Duke, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, fumantes relataram que laticínios, frutas, vegetais e água ajudaram a piorar o gosto dos cigarros, enquanto álcool, café e carne melhoraram o sabor. Para os autores do trabalho, a descoberta poderá indicar caminhos para o desenvolvimento de dietas contra o tabagismo, ou de soluções do tipo goma de mascar, que torne cigarros menos palatáveis.
O estudo, apoiado pelo Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas, dos Estados Unidos, foi publicado na edição de abril da revista “Nicotine and Tobacco Research” (em português, Pesquisa sobre Nicotina e Tabaco).
O coordenador da pesquisa, Joseph McClernon, que é professor de psiquiatria médica da Universidade Duke, afirmou que algumas modificações na dieta podem tornar um pouco mais fácil a tarefa de parar de fumar. “Consumir itens que piorem o gosto do cigarro, como um cubo de leite congelado, pode ajudar significativamente”, diz.
Na pesquisa, 209 fumantes enumeraram itens que pioram ou melhoram o gosto de cigarros. Laticínios – principalmente leite e queijo – foram citados por 19% dos indivíduos como itens que pioram o gosto. Bebidas sem cafeína, como água ou suco de frutas, foram citadas por 14%, enquanto 16% indicaram frutas e vegetais.
As bebidas alcoólicas melhoraram o gosto dos cigarros para 44% dos fumantes. As bebidas com cafeína – chá, refrigerantes de cola e café – foram mencionadas por 45%. A carne foi apontada por 11%.
Os indivíduos que fumam cigarros mentolados reportaram com menos freqüência a associação de alimentos e bebidas com a alteração do gosto de cigarros. O fato sugere, de acordo com os cientistas, que o mentol esconde o gosto desagradável induzido por itens consumidos com os cigarros.
Os pesquisadores buscam agora formas para a utilização de acetato de prata, conhecido por alterar o gosto dos cigarros, para ajudar fumantes a deixar o hábito. O aditivo poderia ser consumido em forma de gomas de mascar ou de pastilhas como parte do tratamento para abandonar o tabagismo.
“Todo tratamento exige força de vontade. Essas soluções serão apenas auxiliares, mas não funcionarão sozinhas. Elas poderão tornar o cigarro desagradável, mas, se a pessoa não tiver vontade de parar, vai começar a fumar novamente”, avalia McClernon. (Agência Fapesp)