As adoções no Brasil seguem um padrão mais ou menos pré-estabelecido: os pretendentes querem recém-nascidos do sexo feminino, sem problemas físicos ou mentais, brancos. Se as crianças tiverem os olhos claros, são preferidas.
Como o brasileiro é fruto de misturas de raças, esse tipo preferido de crianças é raro, o que ocasiona longas filas de espera. Em Jaú, por exemplo, o casal cadastrado espera, em média, cinco anos. Em Lençóis e Botucatu mais de um ano, com certeza.
Nas três cidades não há crianças com situação jurídica resolvida e prontas para adoção. O juiz de Lençóis Paulista que tem competência para atuar na área de Infância e Juventude, Mário Ramos dos Santos, explica que na comarca não há um banco de crianças disponíveis para adoção imediata. “Há crianças com situação indefinida, casos que estão sendo averiguados”, informa.
Para o juiz, a fila sempre existe e é causada pelo perfil da criança traçado pelo casal pretendente. “Para recém-nascida, loirinha, com situação jurídica definida, existe uma fila extraordinária de casais pretendentes. Negro com 8 anos de idade, filho de pai violento, ninguém quer. O tempo de espera depende desse perfil. Eu acho justo a escolha porque se eles estão adotando, a criança tem que se integrar a família dentro daquilo que os pais esperam”, opina Santos.
A cidade de Lençóis Paulista tem uma característica diferenciada em relação a outras cidades do Interior, na opinião dele. “A média de adoção anual é pequena. Lençóis tem uma condição econômica um pouco diferenciada em relação às demais cidades, pela quantidade de empresas que atuam aqui”, analisa.
Em Botucatu, a lista de espera por um recém-nascido tem 30 casais cadastrados e aprovados. Porém, os pretendentes podem aguardar por mais de um ano para levar um bebê para casa. Este ano a comarca não fez nenhuma adoção por falta de crianças.
A assistente social judiciária de Botucatu, Maria Cristina Chaguri Aria, explica que a maioria dos pretendentes quer crianças de até 6 meses de pele clara e sem problemas físicos ou mentais. Ela também constatou que diminuiu o número de crianças colocadas à disposição para adoção.
“As mães não estão doando. Não sei se diminuíram as gestações ou se as gestantes estão deixando as crianças com a própria família ou para pessoas que elas considerem de confiança, uma espécie de madrinha”, avalia Aria.
Quando isso acontece, a criança não é colocada para os casais cadastrados. “Se ficar na família não segue o cadastro. Outro fator que pode estar ajudando as famílias menos favorecidas são as ajudas do governo federal destinadas a famílias carentes”, acredita.
A assistente social frisa que na Comarca de Botucatu há crianças na fase transitória. “A destituição do poder familiar ainda não foi definido, vai depender do andamento do processo. Quando surge recém-nascidos, nós procuramos colocá-los rapidamente nas famílias cadastradas”, acrescenta a assistente social judiciária.
Os estrangeiros, especialmente os norte-americanos e italianos, têm proporcionado um novo destino para as crianças acima de 3 anos disponibilizadas para adoção em Jaú. “Os casos de crianças com idade mais avançada só adoção internacional. Já colocamos em adoção irmãos de 9 a 10 anos e eles aceitaram, é outra realidade, uma visão de mundo diferente. A procura já foi maior, hoje ocorre eventualmente, porque o procedimento é diferente”, aponta o promotor da Vara de Infância e Adolescência de Jaú, Alexandre Barbieri Júnior.