Toda máquina foi feita para ser usada, e com seu uso ela se paga. Na indústria isto é lei, pois com máquinas operatrizes se leva em conta a sua depreciação e financiamento e o quanto ela produzirá em sua vida útil, já prevendo sua troca daqui a 20 ou 30 anos. Com uma frota se dá o mesmo, pois o veículo é uma ferramenta para gerar renda.
Porém, com o automóvel particular deveria ser da mesma forma, mas é diferente na prática. Tem gente que roda pouco, fica 2 ou 3 anos e o vende com 20.000 km, trocando por outro novo. Seu carro anterior foi bastante depreciado financeiramente conforme a média de mercado, que não leva muito em conta o uso ou estado geral. E na compra de um carro novo, o cidadão precisou colocar uma boa diferença para ter quase o mesmo carro de volta. Prejuízo na certa! As pessoas precisam aprender que um carro foi feito para ser usado, para viajar, ir ao trabalho ou passeio, e não para ficar na garagem para mostrar aos outros.
No caso de uma pessoa realmente só usar na cidade e em trajetos curtos, faz com que a quilometragem seja baixa, mas pelo menos o veículo está se “exercitando” regularmente. O pior que pode acontecer com um veículo é ficar parado por muito tempo. Tudo que é metálico precisa de pintura ou outro tratamento qualquer para proteção superficial e de lubrificação para as partes móveis. Como tudo que está sujeito às intempéries e ações da natureza, com o passar do tempo tende a se deteriorar. É o caso de uma casa, por exemplo. Se a deixarmos fechada por 2 anos, quando a reabrirmos vamos encontrá-la mais limpa ou mais suja do que a deixamos? Mais novas ou mais velhas? As leis da natureza sempre conspiram para o caos, e isto é fato.
O mesmo se dá com as motos, aviões, bicicletas, barcos e qualquer outra máquina. Elas precisam rodar para circular seus fluidos (água, óleos e combustível) pelos dutos e mantê-los limpos e desobstruídos. A suspensão precisa ser movimentada para permitir que as juntas e articulações não se travem, que os amortecedores funcionem corretamente, que as borrachas não ressequem. Estes são apenas alguns exemplos.
Conheço diversos casos de pessoas que deixam carros parados durante uma viagem longa (mais de 6 meses, por exemplo), simplesmente estacionados na garagem. Isto é errado, pois alguns cuidados extras precisam ser tomados como: colocar o veículo sobre cavaletes para que os pneus não se deformem, ficando “quadrados” na parte achatada que ficou apoiada no chão; drenar todo o combustível do tanque e dos dutos de alimentação, para que este não se evapore e deixe resíduos, tais como gomas e lacas, que poderão entupir os dutos e filtros; trocar os óleos lubrificantes (motor e transmissão) por novos, aumentando o prazo de oxidação dos mesmos; substituir o líquido de arrefecimento por solução nova de água limpa com aditivo; engraxar todos os pontos de lubrificação, enfim, deixando o veículo em condições de ficar parado mas sem se deteriorar.
Daqueles casos que citei de pessoas que viajam por longos períodos e deixam seus carros na garagem como se fossem ali na esquina e já voltam, existem alguns que vão além, como me contou meu amigo Zé, que tem uma boa oficina de motos e é mecânico experiente. Um cliente deixou uma Suzuki (Boulevard ou Marauder, não me lembro) com apenas 4.000 km parada por mais de 3 anos, e quando se decidiu por vendê-la, abasteceu, carregou a bateria e saiu andando, viajando logo de cara. Não deu outra, o motor travou e fundiu por falta de lubrificação e refrigeração... É claro que depois deste tempo todo, a água do radiador na maior parte evaporou-se, oxidando a parte interna do sistema, travando a válvula termostática e entupindo o radiador. Já o óleo lubrificante oxidou-se pelo contato com o ar, perdendo a capacidade de lubrificação e travando o motor. Dá para imaginar o prejuízo numa moto nova?
O hábito de dar a partida no motor uma vez por semana em carro parado não é o suficiente, pois o certo seria dar uma volta pelo menos com ele para circularem todos os óleos e graxas, movimentando as peças móveis. Recomenda-se após longos períodos de inatividade que as borrachas sejam trocadas para evitar vazamentos e ruídos por ressecamento.
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* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.