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Dr. Automóvel: Pára-choques

Consultoria: Marcos Serra Negra Camerini*
| Tempo de leitura: 4 min

Antigamente, os carros tinham pára-choques bem definidos, com personalidade e que muitas vezes impunham suas características próprias ao design dos carros. Nas décadas de 40 a 60, os pára-choques eram enormes, quase sempre cromados e cheios de curvas. Já na década de 20, eram como lâminas de molas simples, porém estilizados. De qualquer forma, sua função básica sempre foi a de proteger o veículo em caso de batida frontal ou de ré. A idéia era agüentar pancada, sem se danificar muito. Mas, agindo assim, não respeitavam uma lei física muito importante: não dissipavam energia e transferiam toda a quantidade de movimento para os pobres ocupantes do automóvel. Isto, numa época em que ainda não existiam cintos de segurança nem parabrisas laminados, era um desastre. Após uma forte batida frontal, o parachoque apenas de torcia um pouco ou nem isso, protegendo a carroceria, mas os ocupantes dentro do carro eram arremessados para frente de cabeça em direção ao painel e ao parabrisa, geralmente estilhaçando os três.

Da década de 70 para cá, a engenharia automobilística desenvolveu outro conceito de segurança, a chamada segurança passiva. Os pára-choques passaram a ser mais envolventes, sem proeminências metálicas cortantes e com uso intensivo de plástico nas ponteiras, o que influenciou muito os designers até os anos 80. Os pára-choques mais finos e leves eram também mais frágeis em caso de colisão e se danificavam bastante, porém eram feitos exatamente para isso. Com a deformação plástica, tornavam-se mais absorventes e dissipavam melhor a energia do impacto, não a transmitindo aos ocupantes. Tinha gente que achava que eram muito fracos e davam uma “reforçadinha” por dentro, colocando um cano ou uma cantoneira atrás do pára-choque. Isso só prejudicava o efeito, pois algo tinha que quebrar em seu lugar quando submetido àquela pancada, geralmente causando um dano muito maior (e mais caro, lógico) ao esperto proprietário.

Hoje em dia temos parachoques que quase nem se nota, de tão envolventes. Pintados na mesma cor da carroceria, fazem parte do design com suas linhas curvas e delicadas. Parecem meras cascas de plástico de acabamento, montados sobre uma camada de espuma de poliuretano injetado de alta densidade. Esta espuma tem a finalidade principal de ser o agente absorvedor e dissipador de energia em caso de impacto. A própria carroceria tem uma estrutura deformável (capô, paralamas e painel frontal) que se retorce em uma batida, preservando o habitáculo. Muita gente reclama que seu carro desmanchou em uma batidinha, mas pelo menos estava vivo para reclamar. Antigamente, os carrões que sofriam batidas ainda podiam ser usados sem conserto pelo restante da família para ir ao velório dos infelizes ex-ocupantes...

Mas nem tudo são flores. Os bonitos pára-choques atuais são muito frágeis mesmo para pequenos arranhões em paredes de garagem, por exemplo. Outro dia, tive o parachoque dianteiro de meu Mondeo trincado por que algum humanóide deu uma ré sem o devido cuidado e seu engate pegou bem na quina próxima do rebaixo da placa e pronto, quebrou a casca de plástico. Existe conserto (uma solda plástica pelo lado interno e depois, camadas de massa e tinta), mas nunca mais será o mesmo. Aparecerão trincas na pintura com o passar do tempo e não terá a mesma resistência do original. A troca por um novo original é muito cara, e os “alternativos” que tem no mercado não inspiram confiança.

Claro que um carro não foi feito para bater, mas se bater deverá sobreviver com o menor custo possível. Os parachoques plásticos atuais precisam de cuidados maiores do que os antigos, pois se danificam facilmente. Nem sempre é culpa nossa, mas alguém que faça uma manobra mal feita em um estacionamento já pode causar um belo prejuízo ao nosso bolso. Mas este detalhe ou “característica construtiva” não é nada, se comparado à função primordial do parachoque, que é absorver a pancada da batida e nos deixar vivos para falar mal dele depois.

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Sugestões para a coluna e perguntas à seção Correio Técnico devem ser enviadas ao e-mail automerc@jcnet.com.br ou à redação do Jornal da Cidade, na rua Xingu, 4-44, Higienópolis. É obrigatório informar nome completo, RG, endereço e contato (telefone ou e-mail).

* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.

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