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Lula critica privatização das ferrovias, mas privatiza


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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante inauguração da duplicação de 121 quilômetros da rodovia BR-060 que ligam Brasília a Anápolis (GO), na terça-feira (9/10), criticou a privatização de ferrovias nos governos anteriores. “Este país, durante 40 anos, não investiu em ferrovias e o pouco que a gente tinha foi privatizado. Em muitos casos, não se exigiu a responsabilidade daquele que privatizou para fazer os investimentos necessários”, disse Lula, no mesmo dia em que o governo federal fazia o leilão na Bolsa de Valores de São Paulo para privatizar cerca de 2.600 quilômetros de rodovias federais.

Ao citar obras inacabadas desde o governo Sarney, o presidente prometeu entregar, até o final do seu mandato, em 2010, 1.234 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul (até Palmas) e 1.900 quilômetros da Transnordestina, ligando Pernambuco, Ceará e Piauí, que também serão operadas por grupos privados. Nestes casos, a privatização é patrocinada pelo governo Lula. Desde quando assumiu o primeiro mandato, Lula tinha pleno conhecimento do “crime” em que se constituiu a privatização das ferrovias no país. Dispunha de todos os instrumentos legais e políticos para decretar a caducidade dos contratos de concessão, pois nenhuma das operadoras privadas os estavam cumprindo. O presidente que critica a privatização das ferrovias é o mesmo que editou medida provisória e patrocinou no Congresso a sua aprovação para extinção da RFFSA, atendendo desta forma os interesses dos grandes grupos financeiros e corporações que hoje controlam a malha ferroviária no país.

Ora, todas as ações adotadas pelo governo do presidente Lula em relação às ferrovias foram medidas complementares as adotadas pelos seus predecessores que privatizaram e destruíram qualquer possibilidade de num curto espaço de tempo o país de uma política de transporte equilibrada, onde o modal ferroviário possa crescer se integrando com outros modais, racionalizando custo e produzindo ganhos de competitividade e produtividade. A crítica de Lula é inócua, pois o seu governo tem sido um dos grandes financiadores dos operadores privados, sem que seja exigida nenhuma contrapartida social, como por exemplo a operação de trens de passageiros na média distância em vários estados do País. Isso seria o mínimo para um governo dá diariamente demonstrações inequívocas do seu compromisso com as políticas que atendem os projetos estratégicos do grande capital financeiro.

De nossa parte, vamos continuar a discutir e a propor a reestatização das ferrovias, que devem estar sob o controle direto do Ministério dos Transportes, para que o Estado recupere sua autonomia frente aos interesses do mercado, e seja capaz de produzir e aplicar políticas de transportes tanto para cargas e passageiros que atendam os interesses estratégicos da nação e da maioria do povo brasileiro.

O autor, Roque Ferreira, é coordenador geral do Sindicato do Ferroviários de Bauru, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso

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