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Tropa de Elite... reflexão social


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A aparente invencibilidade do crime leva a população, órfã de lideranças e sem esperança, à necessidade de ídolos em que possa confiar e, até, proteger-se. Lançado nesse terreno fértil, o filme “Tropa de Elite” virou febre nacional e suposto modelo de solução no combate à corrupção e à violência. Seus personagens são vistos como paladinos do quilate dos de Hollywood e outros centros cinematográficos, no folhetim da luta vitoriosa do bem contra o mal.

A idolatria aos métodos violentos merece profunda reflexão. Demonstra, no mínimo, que o povo já não vê a solução pacífica dos problemas, acreditando que para não morrer tem de matar. Pode levar à institucionalização da violência como imperativo da ordem pública, com sérios danos à sociedade e ao futuro do próprio país.

As autoridades têm de atuar no controle eficaz da explosão social. No Rio de Janeiro – cenário do filme – vive-se há muito o regime de pré-guerra civil, com zonas da cidade controladas por facções criminosas, milícias e grupos “mafiosos”. Em proporções pouco menores, mas não menos atuante, a violência se faz presente em São Paulo – onde o PCC barbariza – e em outros centros importantes, onde todos os dias ocorrem mortes decorrentes da luta entre grupos de criminosos, latrocínios, balas perdidas e outros acontecimentos anti-sociais.

O povo não agüenta mais ver tanta violência e ouvir as autoridades dizendo que tudo está sob controle ou que “há muito não vivíamos um momento bom como este”. A insegurança e a desesperança levam a população a “adotar” outros protetores e, com isso, o Estado perde e a sociedade naufraga.

No meio policial costuma-se dizer que “a polícia do cinema é uma e a polícia de verdade é outra”. Os paladinos das telas resolvem os problemas e tudo termina bem, com a vitória do bem sobre o mal. Na vida real, nem sempre é assim. Se o bem não estiver adequadamente estruturado, vence o mal e este torna-se cada dia maior.

A obra do diretor José Padilha é louvável por conduzir à reflexão forte do caos da segurança pública brasileira. Mexe com as massas a ponto de provocar discussões das mais variadas e aplausos ao final de toda exibição no cinema. Toda essa reação deve ser compreendida, analisada e encaminhada rumo à paz, não à guerra. Há que se dizer, especialmente à juventude, que a violência não deve ser combatida com a violência, mas com a firmeza da autoridade e métodos que garantam ao cidadão as condições mínimas de viver em comunidade, para que possa trabalhar, estudar, divertir-se e progredir Do contrário não haverá razão para se viver .

O autor, Dirceu Cardoso Gonçalves, é tenente e dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo - e-mail: aspomilpm@terra.com.br

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