São 203 páginas que relatam pequenas biografias de 39 militantes políticos bauruenses - ou que tiveram alguma relação com a cidade - punidos pelo Estado Novo de Getúlio Vargas ou pela ditadura militar de 64, muitos dos quais lutam até hoje para verem seus direitos reconhecidos após terem sido perseguidos politicamente. Esse é o resumo do livro “Subversivos Anônimos”, de autoria de Antônio Pedroso Júnior, o popular “Chinelo”, que será lançado hoje, às 19h, na Jalovi Altos.
“A obra é um resgate da história de militantes dos movimentos populares punidos pelos regimes ditatoriais brasileiros que hoje são relegados ao esquecimento, transformando-se em subversivos anônimos perante a historiografia oficial. Daí o título fazer referência aos anônimos”, explicou o “Chinelo”. E acrescentou:
“Um dos mais cruéis exercícios da opressão é a espoliação das lembranças, com a tentativa de tentar jogar na vala comum do esquecimento as lutas travadas por estes brasileiros em busca da liberdade, da democracia e da igualdade social. Recordar as lutas passadas de militantes dos movimentos populares em tempos idos de opressão e tirania transforma-se em matéria presente. Os companheiros de ideologia política e suas lutas passadas somente deixarão de existir se esquecermos que existiram."
“Subversivos Anônimos” é a quarta obra de Pedroso Júnior, autor de outros três livros sobre as perseguições políticas coordenadas pelas ditaduras nacionais: “Subsídios para a História da Repressão em Bauru”, lançado em 1979 pela seção bauruense do Comitê Brasileiro da Anistia, do qual era o coordenador, “Porões Sem Limites”, que é a história da repressão em Bauru, e “Márcio Guerrilheiro”.
Além de relembrar a participação dos bauruenses contra a repressão ditatorial, “Chinelo” ressaltou que resolveu escrever o livro para auxiliar na reunião de provas a favor dos perseguidos. “Por mais que tenham sido punidos, o Ministério da Justiça vive pedindo mais provas de que eles foram punidos e perseguidos”, explicou.
Dos 39 militantes cujas histórias são relatadas na obra, pelo menos 13 ainda continuam vivos, como Análio Gilberto Smith, Arcôncio Pereira da Silva, Joaquim Mendonça Sobrinho e Milton Dota, e lutando para ter seus direitos reconhecidos contra a morosidade com que tramitam seus processos no Ministério da Justiça.
Entre as muitas passagens históricas contadas no livro, Pedroso Júnior considerou uma marcante protagonizada por João Batista Dias, o Pebá. “Levaram o Pebá para a câmara de tortura, em 1970, e dentro dela já estava torturado e mutilado o Raphael Martinelli, que está vivo até hoje e é o coordenador do Fórum Permanente de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo. Era tática dos torturadores deixarem duas pessoas sozinhas para escutar a conversa. O Martinelli disse ao Pebá que o que ele sabia devia abrir para os caras que um outro já havia entregado tudo. O Pebá queria bater nele dentro da câmara de tortura achando que o Martinelli tinha se vendido e passado para o lado da repressão e o estava induzindo”, contou o “Chinelo”, para depois completar:
“Precisou ter uma reunião nas celas, com todo mundo mutilado, arrebentado e torturado, para convencer o Pebá que ele podia falar porque um anterior já havia contado tudo o que ele também sabia e não adiantava ele apanhar para segurar uma informação que já era de conhecimento da polícia. Isso é de uma integridade e firmeza ideológica fora de série e foi um caso que marcou na história da repressão.”
Por fim, Pedroso Júnior destacou que o “Subversivos Anônimos” é o primeiro passo para o desenvolvimento de um projeto que conta também com o lançamento de um site e um documentário ainda este ano. “A idéia é lançar um site mais completo com mais pessoas e queremos ver se concretizamos para novembro um documentário. Já estamos com mais de 60 horas de fitas gravadas que estamos editando”, revelou.
• Serviço
A Jalovi Altos fica na rua Antonio Alves, 22-75. O livro “Subversivos Anônimos” custará R$ 32,00 e poderá ser encomendado pelo e-mail chinelo neles@hotmail.com, pelos telefones (14) 9701-6861 ou (14) 3227-0944 ou ainda pelo site www.all printeditora.com.br.