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Ex-interno é preso e denuncia padre

Por Kleber Tomaz | Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min

São Paulo - O ex-interno da Febem Anderson Marcos Batista, 25 anos, acusado de extorsão pelo padre Júlio Lancelotti, 58 anos, disse à polícia de São Paulo que manteve um relacionamento homossexual com o padre por até oito anos anos em troca de dinheiro e negou que tenha extorquido dinheiro do religioso por três anos.

A informação foi dada pelo advogado de Batista, Nelson Bernardo da Costa. Batista foi detido na noite de anteontem, juntamente com sua mulher, Conceição Eletério, 44 anos, e Evandro dos Santos Guimarães, 28 anos -irmão de Everson dos Santos Guimarães , 26 anos, preso em flagrante no dia 6 de setembro, também sob acusação de extorquir dinheiro.

A prisão preventiva dos quatro acusados havia sido decretada pela Justiça no dia 9 de outubro. As detenções da noite de anteontem aconteceram no centro de São Paulo. Segundo denúncia do padre à polícia, Batista o chantageava e o ameaçava com denúncias falsas de pedofilia. Lancelotti disse ter sido extorquido em cerca de R$ 80 mil - na versão inicial, eram R$ 50 mil - e afirmou ter entregue o dinheiro por medo de ser agredido e por acreditar que “poderia mudar as pessoas que o extorquiam”. “(Batista) Tinha uma amizade que se tornou um relacionamento sexual (com o padre). Desde a Febem. Isso se iniciou quando ele (o preso) era menor ainda”, disse anteontem o advogado de Batista.

A reportagem não teve acesso aos depoimentos dos três acusados, mas policiais confirmaram a versão do advogado sobre as declarações de seu cliente.

De acordo com Costa, seu cliente afirmou que as relações sexuais com o padre passaram de um abuso, durante a adolescência, para um consentimento, no início da fase adulta. “Ele (o ex-interno) disse que aos 16, 17 anos foi abusado sexualmente pelo padre. Ele disse isso taxativamente”, relatou Costa.

Segundo o advogado, seu cliente aceitou fazer sexo com o padre porque passou a ser assediado por ele. Ainda segundo o advogado, Batista declarou que mantinha relações sexuais com o padre após as missas celebradas por Lancelotti e dentro da própria igreja do pároco.

“Ele afirmou que, muitas das vezes, até dentro da própria igreja. Nos fundos da igreja, num quartinho. Inclusive ele até citou os móveis que lá existem. A Conceição confirmou que muitas vezes até acompanhava (Anderson) nas missas e ficava surpresa porque ele (Anderson) entrava junto com o padre e demorava. E muitas vezes o padre saía daqueles quartos furioso, destratando ela. Ou seja, ela sempre era um incômodo na vida do padre, relatou isso”, afirmou o advogado.

Segundo o advogado, seu cliente relatou ainda ter conhecimento de que o padre mantinha relações sexuais com outros adolescentes. Batista, ainda de acordo com o advogado, nega ter extorquido dinheiro do padre Júlio e alega que a acusação foi feita por ciúmes do religioso em relação a Conceição. O advogado afirmou que o dinheiro que Batista recebia do padre era “de bom grado”. “Era tudo presente. No começo, ele (padre) fornecia roupas, algumas coisas”, disse o advogado.

Costa disse ainda que a quantia repassada pelo padre a seu cliente foi de R$ 600 mil a R$ 700 mil em oito anos - e não os R$ 80 mil relatados por Lancelotti à polícia. O advogado afirma que, com esse dinheiro, seu cliente comprou carros de luxo e uma casa. “Chegou a comprar uma Pajero, um Audi, um Toyota. Sempre carros importados. Anderson não soube detalhar de onde vinham esses rendimentos (do padre). Ele não fazia questão”, disse o advogado.

Vítima

O advogado e ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, que deve assumir a defesa do padre Júlio Lancelotti, disse hoje que ele é uma “vítima” e deve ser tratado com a presunção de inocência. “Ele é vítima de um processo de extorsão. Temos que sopesar se vamos dar guarida à palavra de um bandido ou à do padre Júlio”, declarou.

O padre também foi procurado pela reportagem mas não respondeu aos pedidos de entrevista. “Acredito na inocência do padre, confio em seu trabalho há 30 anos e na Justiça”, afirmou Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar de São Paulo.

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