Tem gente que não aprende. Para em qualquer posto sem bandeira nenhuma e enche o tanque com uma gororoba que pouco tem a ver com gasolina e ainda acha que fez um bom negócio, pois economizou R$10,00 em um tanque. Aí o carro engasga, falha, não pega e o cara acha ruim. Põe a culpa no carburador, no mecânico que não regulou direito, na bobina, nas velas, enfim, em todo mundo menos nele mesmo.
O que acontece é que o motor foi projetado para queimar determinada mistura de ar com combustível, devidamente misturados e injetados dentro da câmara de combustão para ser queimada, gerando potência. Se colocarmos um combustível diferente do especificado, com certeza alguma coisa não vai funcionar direito. Um motor a gasolina requer para queima uma mistura de 14 partes de ar para uma de gasolina, enquanto que um motor a álcool usa 9 partes de ar para uma de álcool. Isto devido às características físico-químicas diferentes entre os dois combustíveis, principalmente o calor específico (o do álcool é quase a metade do da gasolina). Agora, se o motor estiver preparado para queimar eficientemente uma gasolina boa, quando colocamos um “rabo de galo” de gasolina com álcool, solvente, thinner e xixi de vaca, não se pode esperar grande coisa. O mesmo acontece com o álcool, que é ainda mais fácil de adulterar, pois basta acrescentar água e diluí-lo. O posto vende água a preço de álcool e o cliente fica com o problema. O segredo é sempre escolher um bom posto de combustível, com bandeira confiável e pessoal treinado. Se sentir que a qualidade caiu, mude de posto e comunique a ANP (Agência Nacional de Petróleo) para avaliar o combustível e o posto.
De outro lado, temos aqueles que insistem em tentar “melhorar” o combustível, adicionando certos aditivos, produtos químicos ou perfumarias na esperança de aumentar a octanagem do mesmo. É o outro lado do “batismo”, desta vez praticado com a intenção de tornar o combustível mais potente e não mais barato. Uma das maneiras mais antigas e usuais de se tentar isso é adicionar bolinhas de naftalina ao combustível. O objetivo é aumentar a octanagem da gasolina, pois a bolinha contém naftaleno que é um hidrocarboneto aromático e que realmente possui octanas. Só que para obter um ganho perceptível seriam necessárias muitas bolinhas. Mas são raros os motores que se beneficiam de uma maior octanagem, pois não estão preparados para isso. Daí que usar gasolina Podium, Premium ou outra de alta octanagem em motor comum não ajuda em nada, só gasta dinheiro à toa. E ainda tem um efeito colateral da naftalina, os resíduos de queima que ficam nas câmaras de combustão que danificam as partes móveis do motor. Só se recomenda o uso das naftalinas se houverem baratas no seu tanque...
De uma forma ou de outra, o combustível já vem pronto da distribuidora para ser usado no seu motor sem que nada precise ser acrescentado a ele. Apenas o ar, a ser dosado na mistura, nada mais. Gasolina ou álcool comuns de boa procedência já tem tudo o que precisa para o motor funcionar direito. Os combustíveis aditivados, ao contrário do que alguns pensam, têm o mesmo número de octanas do combustível comum (91 octanas) mais a adição de detergentes para manter limpos os dutos e superfícies em contato com o combustível. Seu custo pouco maior compensa pela limpeza e manutenção preventiva que operam dentro do motor. A gasolina super, com 95 octanas, é indicada apenas para motores de alta performance que exigem este combustível. Seu uso em qualquer outro motor é desaconselhado por ser um combustível mais seco e caro. O mesmo se dá com a adição de outros produtos “aumentadores de octanagem” a venda nos postos. Alguns até tem tecnologia adequada no tocante ao aumento da octanagem, mas seu uso, volto a repetir, não trará benefícios práticos de aumento de potência porque o motor não responderá desta forma. Seu motor irá digeri-la da mesma maneira que foi projetado para fazê-lo. É dinheiro jogado fora. Resumindo, colocar gasolina de avião não fará com que seu carro voe.
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* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.