Todos sabem que acidente não tem hora para acontecer, e se assim não fosse não seria um acidente, seria um evento previsível. Baseado nisso, precaução sempre. Dirigindo então, temos que redobrar os cuidados. Um carro a 120 km/h percorre 2 km por minuto ou mais de 33 metros por segundo, portanto uma bobeada por distração já nos tira da rota segura. É comum colocar-se a culpa dos acidentes pura e simplesmente na velocidade, mas isto não é sempre verdade. Pouquíssimas vezes a culpa é do carro, e na grande maioria das vezes, quase em sua totalidade, a responsabilidade é daquele componente que fica sentado sobre o banco do motorista. É ele quem toma as decisões, quem acelera, quem breca, quem troca de faixa de rolamento, pois o carro não anda sozinho. Cabe ao motorista ter consciência de sua capacidade e limitações antes de se aventurar no trânsito. Também cabe exclusivamente a ele manter o carro em condições ideais, com manutenção preventiva e corretiva, de forma que possa corresponder ao que foi projetado e que se espera dele como performance.
Mesmo com tudo em dia, manutenção perfeita, motorista preparado, ainda assim podem ocorrer os chamados acidentes inevitáveis, por isso é com os evitáveis que devemos nos ocupar. Tenho visto em viagens vários veículos capotados no canteiro central da estrada em plena reta, sem nenhum motivo aparente. Explicações sempre aparecem como “perdi a direção, faltaram os freios, furou um pneu”, sempre culpa do carro. Nunca é por “me distraí com o celular, abaixei para pegar uma caneta, cochilei na direção” ou coisas do gênero. Muito menos do tipo “deixei de fazer a manutenção preventiva da suspensão, os amortecedores estão vencidos faz tempo e relaxei na troca, deveria ter trocado os pneus quando atingiram a marca de aviso de desgaste”, que são reflexões mais honestas que ninguém assume.
Toda máquina sofre desgaste e precisa de manutenção, que pode ser desde um simples reaperto ou lubrificação até uma troca completa, de forma a continuar em funcionamento adequado. Um pivô de suspensão por exemplo é uma peça fundamental na segurança e deve ser periodicamente verificado, reapertado e lubrificado. Ao primeiro sinal de folga excessiva ou desgaste, deve ser substituído por uma nova e original, nunca por outra recondicionada. Se esta peça fica folgada, transmite trancos e barulhos para o carro, inclusive ao volante de direção. Em casos extremos, pode vir a quebrar por trabalhar sem o apoio e torque adequados. Agora me diga com sinceridade, quando foi a última vez em que checou estes pivôs? Tem “esperto” que usa o carro até cair um pedaço, só então encosta para dar um jeito. Outros só mantêm o trivial, como óleos, filtros e lavagem, e acham que agindo assim estão com a consciência limpa. Os verdadeiros sábios são aqueles que levam o carro em uma oficina de qualidade, com mecânicos treinados e pedem uma boa revisão geral antes de pegarem estrada, substituindo preventivamente os componentes que apresentarem desgaste. Desta forma, minimizam-se os acidentes evitáveis.
Dentro do leque de inevitabilidades, temos o furo de um pneu. Quando acontecer em uma roda traseira, é perfeitamente controlável, bastando reduzir a velocidade e parar no acostamento para troca da roda. Já um furo em um pneu dianteiro pode acarretar certo descontrole direcional, mas um motorista experiente saberá bem como manter o carro no alinhamento. Em primeiro lugar, nunca entrar em pânico. Manter a direção girada para a direção que se quer seguir e reduzir a velocidade gradativamente, não adianta meter o pé no freio e travar tudo que aí sim, vai rodar na pista. Aplique o freio moderadamente sem travar as rodas e conduza o carro ao acostamento apenas quando a velocidade for baixa. Usar esta mesma técnica em caso de perda de aderência em retas ou curvas devido a problemas de piso (chuva, lama, óleo, pedras, areia, etc.). A regra é nunca deixar de girar o volante para onde se quer ir, mesmo que precise entrar em ziguezague. Também nunca pise seco no freio até travar as rodas, vá reduzindo a velocidade gradativamente. Uma roda travada escorrega mais do que uma girando, em função do atrito estático ser menor do que o dinâmico. Cuidado sempre e boa viagem!
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* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.