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Apocalipse traz mensagem de esperança

Rodrigo Ferrari
| Tempo de leitura: 3 min

Embora muitas pessoas associem a expressão “apocalíptico” à idéia de um futuro de dor e sofrimento, o Livro do Apocalipse - último dos que compõem a Bíblia cristã e escrito, provavelmente, pelo apóstolo João no final do século 1 d.C. - representa, segundo teólogos e líderes religiosos, uma mensagem de esperança para os cristãos.

“O objetivo do texto não é assustar, e sim dar uma idéia, por meio de símbolos, de como será o triunfo final de Cristo e o reencontro da humanidade com Deus”, explica o pesquisador de religião e jornalista Luís Henrique Marques, professor da Universidade do Sagrado Coração (USC).

O vigário-geral da Diocese de Bauru, padre Luís Antônio Carqueijo Sé, lembra que o Apocalipse foi escrito numa época em que os cristãos sofriam forte perseguição por parte do Império Romano. “O livro foi uma forma de animar o fiéis nos momentos de grande atribulação. É bem parecido com o que ocorreu no Brasil na época da ditadura, quando Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil costumavam utilizar metáforas e símbolos para escapar da censura”, explica.

De acordo com ele, mesmo a idéia de que a “besta” descrita no livro possa corresponder à pessoa de Lúcifer é duvidosa. “Esse termo se refere muito mais ao mal que assola a humanidade do que a uma entidade específica”, afirma.

A cifra 666, descrita como o número do nome da besta, equivaleria historicamente, de acordo com Sé, ao imperador romano Nero. “Na época em que o Apocalipse foi escrito, letras e números costumavam ter a mesma grafia no idioma hebraico”, salienta o padre.

666, nessa linha de argumento, corresponderia às palavras em hebraico “Nrwn Qsr” (Neron Cesar). “Ou seja, falava a respeito da figura que provocava o mal. Hoje, essa simbologia poderia ser associada a qualquer pessoa que dispõe de grande poder e se aproveita disso para prejudicar os outros”, diz Sé.

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Sempre alertas

Apesar de se mostrarem reticentes quanto à veracidade das mensagens sobre o fim dos tempos que circulam pela Internet, lideranças evangélicas pentecostais alertam aos fiéis para que se mantenham alertas para os sinais contidos nas escrituras sagradas.

“Primeiramente, temos de descobrir de onde surgiram essas mensagens, pois, a princípio, podem se tratar de meros boatos. Caso a história (dos chips de pagamento que estariam sendo implantados na mão direita e na testa das pessoas) seja verídica, podemos dizer que se trata de uma informação de extrema gravidade”, explica o pastor Carlos César Marquesi de Camargo, da Comunidade Evangélica Atos.

Na opinião dele, cristãos não devem aceitar, em hipótese alguma, submeter-se a implantes de qualquer natureza. “O corpo, enquanto templo do Espírito Santo, só pode ser habitado pelas coisas de Deus”, acredita.

O pastor da Comunidade Cristã Vineyard em Bauru, Nilton Paulo Lira Baro, lembra que é difícil, mesmo para um líder religioso, determinar quando os sinais do fim dos tempos começarão a se manifestar. “Não sabemos o dia e a hora em que Jesus irá voltar. O importante é que o cristão consagre sua vida a Deus e procure se santificar sempre”, recomenda.

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Estratégia de poder

Para a pesquisadora e professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru Dalva Aleixo Dias, e-mails e mensagens que versam sobre o fim dos tempos e a ação do demônio no mundo também integram estratégias de poder adotadas por determinados grupos religiosos.

“Hoje, nesse mundo de incertezas em que vivemos, ganha terreno quem for capaz de explicar, ainda que a partir de premissas falsas, o caos que toma conta da sociedade”, afirma. Estratégias semelhantes, lembra ela, costumam adotar os grupos extremistas muçulmanos, quando associam os Estados Unidos à figura do “Grande Satã”.

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