Esportes

O que é que só o Silvio Luiz disse

01/06/2008 | Tempo de leitura: 6 min
Gabriel Pelosi

Pelas barbas do profeta!! Um dos mais irreverentes narradores esportivos da história da televisão, Sylvio Luiz Perez Machado de Sousa, o Sílvio Luiz, esteve, na última sexta-feira, em Bauru para uma palestra de encerramento do 3º Seminário de Comunicação Esportiva, que ocorreu na Unesp. Na oportunidade, o narrador da TV Badeirantes concedeu entrevista coletiva. Antes de iniciar-se na narração esportiva, Silvio Luiz - dono de alguns dos mais famosos bordões da narração esportiva - foi rádio-ator, repórter e até árbitro de futebol.

Hoje com 85 anos, Silvio é descendente de espanhóis e filho da famosa locutora Elizabeth Darcy, que por muitos anos trabalhou na Rádio São Paulo, TVs Paulista, Cultura e Tupi, de São Paulo. Silvio conheceu cedo os meandros do rádio. Começou como ator de novelas radiofônicas e seu primeiro papel foi de um carteiro no programa “Teatro das 5 Horas”, do novelista Waldemar de Morais, na Rádio São Paulo. Teve atividades variadas, mas fez sucesso mesmo na locução esportiva.

Em Bauru, Silvio Luiz lembrou de passagens curiosas de quando ainda era o “dono” do apito, falou de sufocos enquanto narrava e comentou o “imbróglio” com Milton Neves, que gerou uma divisão entre os “grandes” da imprensa esportiva. Olho no lance!! Veja a seguir os melhores momentos da entrevista com o jornalista e locutor:

Imprensa - Como você começou na narração esportiva?

Silvio Luiz - Antes de ser narrador fui repórter e antes de ser repórter fui rádio-ator. Acho que essa profissão nem existe mais. Isso me ajudou muito a conseguir vocabulário. Mas o que mais me ajudou na narração esportiva foi exatamente o curso de árbitro que fiz. Aliás, teve até um fato importante que ocorreu comigo em Bauru. Saí preso do estádio (Alfredo de Castilho). Vim apitar um jogo da Segunda Divisão entre o Ferroviária de Araçatuba e o Noroeste. E, por coincidência, o departamento de árbitros da Federação havia me escalado para apitar um jogo, uma semana antes, em Araçatuba, onde estava estreando o Aimoré Moreira como técnico do Corinthians. Era um jogo amistoso e faltou perspicácia por parte da direção de árbitros para me mandar fazer um jogo e, na semana seguinte, me mandar para cá. A Ferroviária, dirigida por João Avelino, fez um gol aos 17 minutos do primeiro tempo e ninguém do Noroeste se conformava com isso. O resultado final foi 1 a 0. Estava descendo para o vestiário para tomar banho e me jogaram uma cadeira lá de cima. Deve ter sido o Amantini (ex-diretor do Noroeste). A minha sorte foi que escorreguei em um degrau e a cadeira espatifou em uma porta de vidro que tinha lá. Não contente, estava tomando banho e os caras soltaram rojões lá dentro do vestiário. Mas são coisas que ocorrem na vida do árbitro.

Imprensa - Como foi você voltar a narrar depois da cirurgia nas cordas vocais?

Silvio Luiz - Não cheguei a fazer um jogo inteiro depois do problema. Fiquei quase um ano sem narrar. Peguei uma fonoaudióloga errada que quase acabou estragando tudo que o médico fez. Para voltar realmente comecei a pegar as fitas dos jogos e narrar sozinho. Ficava até com medo de gritar gol com medo de que acontecesse algo mais sério. Mas no final fiquei bem e hoje não tenho mais problema nenhum.

Jornal da Cidade - Qual o gol mais difícil de narrar até hoje?

Silvio Luiz - Não tem gol difícil. Outro dia estava fazendo um jogo pela Bandsports, entre Mogi Mirim e Oeste de Itápolis, aquele que repetiu depois de uma marmelada que eles fizeram. Ficou na minha subconsciência o primeiro jogo, quando o Oeste estava de vermelho e o Mogi de branco. No segundo jogo, houve uma inversão de camisas e, quando ocorreu o segundo gol do Oeste, me vi gritando o nome do ponta esquerda do Mogi. O que eu fiz? Pedi desculpas e disse que deu pane. Vou dizer o que? A melhor coisa que você pode usar com o público é dizer a verdade. Não há necessidade de mentir. E não sou o único que erra e nem vou ser o último.

JC - Você é dono dos mais conhecidos bordões da narração esportiva. De onde tira inspiração para isso?

Silvio Luiz - Também não sei. Isso vem. Procuro fazer da transmissão uma conversa. Hoje em dia você tem uma gama de informação tão grande que em uma conversa você pode explicar muito. Alguma parte do público que me assiste é de presença feminina. Que na maioria das vezes, as femininas não entendem muito de futebol, eu procuro levar o futebol para aquele cotidiano que ela costuma estar presente. O que elas entendem quando digo “azedou o molho”? “Desandou a maionese na cozinha”? Isso significa que algo deu errado na área. Nesse caso, a área é a cozinha. Para o homem eu digo: “Espirrou o taco”. Quem nunca jogou sinuca? Para não deixar o negócio chato faço isso. Você não pode transmitir jogo para “cego”. Não gosto de dizer o que está acontecendo. Prefiro legendar o lance. Isso ameniza a chatice da narração. Isso deixa a transmissão mais descontraída.

Imprensa - Quando transmite, por exemplo, em uma Olimpíada, esportes pouco conhecidos como hipismo. O que faz para que o público entenda o esporte?

Silvio Luiz - Arrumo um bom comentarista. Faço qualquer coisa, mas me coloquem um comentarista bom que vou embora.

JC - Você deve ter narrado diversos jogos do Noroeste em Bauru. Se lembra de algum lance pitoresco?

Silvio Luiz - Narrei diversos, mas lances pitorescos me lembro de quando apitava. Apitei um jogo amistoso aqui, acho que entre Noroeste e Francana numa quarta-feira à noite, com chuva, não tinha ninguém no estádio. Tinha um cara na rádio transmitindo lá em cima na cabine e tudo o que ele falava eu fazia. Ele falava, “falta”, eu apitava falta (risos). Tudo o que ele falou eu fiz. Era um jogo amistoso e a Federação me mandava eu vinha. Esse tipo de jogo de quando não tem torcida no campo é muito chato.

JC - Já passou algum apuro enquanto narrava, como vontade de ir ao banheiro por exemplo?

Silvio Luiz - Nas Olimpíadas de Barcelona, fomos fazer uma narração que seria de vôlei ou basquete em uma cidade chamada Badalona. Chegamos uma hora e meia antes de entrar na cabine e fui comer um cachorro quente. Meu amigo, vou lhe dizer o que aconteceu. Começou o jogo, eu falava para o Edvar, que era o comentarista: “Segura aí que eu já venho”. Isso acontecia a cada dez minutos. Para falar a verdade, me deu uma caganeira que não foi brincadeira. Não consegui narrar o jogo.

JC - Você pode explicar o imbróglio com Milton Neves? É verdade que você levou um chute na bunda?

Silvio Luiz - Prefiro não tocar nesse assunto, mas fui agredido covardemente pelas costas por esse... (soltou um palavrão).

JC - Você torce para qual time?

Silvio Luiz - Não tenho time. Perdi o tesão de torcer. São 56 anos de janela, já vi muita coisa no futebol que não tenho mais tesão em torcer.

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