Uma aeronave de pequeno porte caiu, no final da tarde de ontem, matando o piloto, poucos quilômetros após a decolagem no Aeroclube de Bauru. O avião, um King Air B100 de fabricação norte-americana, fez um abastecimento na cidade e, logo após a decolagem, caiu em uma área entre Bauru e Agudos, próximo ao condomínio Recanto dos Nobres, na rodovia Marechal Rondon. O piloto, que foi identificado por amigos como sendo Antônio Carlos Mendonça Campos, 53 anos, muitos deles dedicados à aviação, morreu com o impacto.
As informações obtidas no local com amigos do piloto é que Campos, que mora em Santo André, trouxe a aeronave dos Estados Unidos, onde foi fabricada. Antes de chegar ao Aeroclube de Bauru, ele teria feito uma parada em Campo Grande (MS). Em Bauru, ele abasteceu o avião e seguia em direção a Sorocaba, onde deixaria a aeronave. As informações preliminares é de que se tratava de um avião novo.
Raphael Neves, 19 anos, foi uma das últimas pessoas a conversar com Campos. “Eu fechei a porta do avião dele”, diz. O rapaz teria até recusado o convite para acompanhar o amigo até Sorocaba. O piloto Leandro Cerraipa, 25 anos, conta que também estava no Aeroclube quando Campos levantou vôo. “Nós vimos ele decolando e, algum tempo depois, a fumaça, mas não imaginávamos que fosse ele”, diz.
O acidente aconteceu por volta das 18h20. Informações extra-oficiais dão conta que o King Air bimotor turbohélice, prefixo N525SZ, sofreu uma pane na decolagem. O avião perdeu altitude, bateu em algumas árvores e caiu no meio da mata. Com o impacto, os destroços se espalharam em um raio de mais de 20 metros. Alguns pedaços da aeronave ficaram pendurados nos galhos das árvores. Uma das hélices ficou presa em um tronco. Como o avião estava com seus tanques cheios, o local da queda pegou fogo.
Minutos depois, o helicóptero Águia da Polícia Militar (PM) chegou ao lugar da queda, que fica próximo à rodovia Marechal Rondon, seguido por viaturas do Corpo de Bombeiros, PM e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Após o incêndio ter sido apagado, começaram as buscas pela vítima.
O corpo de Campos foi encontrado cerca de uma hora e meia depois do impacto.
As informações obtidas com os amigos do piloto é que ele trabalhava para o setor de aviação executiva de uma companhia aérea. Campos também fazia serviços autônomos, como o de ontem, levando aeronaves para seus compradores.
O tenente PM Fernando Queiroz Trujillo, que coordenava as ações no lugar, informou que o avião ficou completamente destruído. “Antes de cair, ele bateu e quebrou algumas árvores. Só conseguimos o prefixo porque telefonamos para o Aeroclube”, conta. A Polícia Científica foi acionada para periciar o local. A delegada de plantão, Marilda Pinheiro, foi até a área. De acordo com a PM, a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) deverá averiguar o caso.
Queda assustou moradores
Pessoas que moram próximo ao local da queda, uma área com muitas chácaras, contam que se assustaram. “Eu estava pescando aqui perto e ouviu o barulho. O pessoal disse que um avião estava caindo e, de repente, teve a explosão”, conta Luís Fernando Olivier, 23 anos.
O empresário Brunno Guedes foi um dos primeiros a chegar ao local. “Ouvimos o barulho e depois um estrondo, um tremor. Em seguida começou a subir fumaça e fomos de carro até lá. Quando chegamos, já tinha umas oito pessoas pelo local, mas elas também tinham acabado de chegar. Uns três minutos depois, apareceu o (helicóptero) Águia e mais uns dez minutos, as primeiras viaturas”, conta.
O adestrador de cavalos Sérgio Luiz Arena Alvarez conta que estava em seu rancho quando viu a aeronave voando em baixa altitude. “Ela estava a uns 30 ou 40 metros de altura. Dava para ver que tinha alguma coisa errada. Em seguida, vimos a explosão e uma nuvem de fumaça”, relata. Ele foi até o local, a cerca de um quilômetro de sua propriedade, mas não conseguiu chegar muito perto. “O incêndio estava muito forte e a fumaça também”, conta.
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Jovem recusou carona
Raphael Neves, 19 anos, conta que ele e um amigo foram convidados pelo piloto do King Air, Antônio Carlos Mendonça Campos, para acompanhá-lo até Sorocaba. “Fui o último a conversar com ele por aqui. Ele é muito amigo de nossa família, é praticamente meu tio”, conta.
De acordo com Sônia Neves, mãe do rapaz, no início da tarde, Campos telefonou para seu marido, que também é piloto, para avisar que estava em Bauru. “Mas meu marido explicou que estava na Capital a trabalho”, diz. Então, Campos teria chamado Raphael e outro amigo para a viagem. “Recusei, por conta do trabalho. Mas não sinto alívio”, diz o jovem, lamentando a perda do amigo.
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Acidentes aéreos em Bauru
O último acidente grave com aeronave na região de Bauru havia sido registrado em novembro de 2006. Na ocasião, um avião monomotor, utilizado em vôo de instrução, caiu em uma área rural próxima ao antigo Trevo da Eny. Apesar do impacto, o piloto Manoel Fernando de Oliveira teve apenas ferimentos leves, enquanto o passageiro, Thiago Querino Cespedes, nada sofreu.
O monomotor era de modelo Cessna 150 PT-OYF, pertencente ao Aeroclube de Bauru, e era utilizado principalmente para a realização de treinamento e instrução de pilotos.
Em dezembro de 2002, um avião bimotor Seneca, prefixo PT-FXZ, de uma empresa de táxi aéreo, aterrissou no Aeroclube “de barriga”. Sem trem de pouso, o avião percorreu cerca de 800 metros na pista. Apesar do susto, os três tripulantes não sofreram ferimentos.
O acidente aéreo mais grave registrado na região de Bauru foi a queda do avião Fokker 27-500, da TAM, próximo à Praça Portugal, no dia 12 de fevereiro de 1990. Gisele Savi Seixas Pinto, 29 anos, e seu filho, Guilherme, 4 anos, que passavam de carro pela rua na hora do acidente, morreram. A aeronave caiu sobre o carro ocupado por eles.
O avião, que fazia o vôo entre São Paulo e Marília, caiu após uma tentativa de pouso no Aeroclube. Havia 36 passageiros na aeronave, sendo que 14 deles tiveram ferimentos leves. O piloto do avião ficou preso nas ferragens e foi retirado do local inconsciente, após uma hora.
Gisele e seu filho transitavam em uma perua Santana Quantun na quadra 1 da rua João Poletti, entre a avenida Getúlio Vargas e a rua Antônio Alves, onde o avião caiu. O Fokker tentou um pouso no aeroporto, mas arremeteu porque apresentou problema, caindo logo em seguida. A queda do avião, além das duas mortes, provocou grande estrago.
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Aeronave
Considerada uma das melhores aeronaves de sua categoria, o King Air é fabricado pela empresa americana Beechcraft.
De acordo com uma pessoa ligada ao ramo da aviação, esse avião também se destaca por ser um dos mais seguros do segmento. Em Bauru, há pelo menos duas aeronaves desse modelo.