Embora não seja uma nação independente, a Escócia é um país antigo, cuja história é marcada pela resistência ferrenha aos invasores estrangeiros. Os primeiros registros escritos sobre a região remontam ao século 3 d.C. “O norte da Grã-Bretanha foi uma das poucas regiões que os romanos não conseguiram conquistar”, explica a coordenadora do curso de história da Universidade do Sagrado Coração (USC), professora Nair Leite Ribeiro Nasrala.
Um dos motivos colocados pelos romanos para o fracasso na tentativa de dominar a região estaria nas duras condições naturais existentes no lugar. Duas etnias de origem celta habitavam a Escócia, naquela época: os pictos e os scots. Foi por causa dos últimos que a região passou a ser denominada da forma como hoje é conhecida.
“Embora não tenham sido capazes de conquistar a região, os romanos certamente conseguiram manter algum contato com os povos que ali moravam. É provável que tenha até ocorrido miscigenação entre eles e os celtas”, afirma.
No século 6, a Grã-Bretanha passou a receber levas de germanos oriundos da Europa central. Três séculos mais tarde, a região seria invadida pelos normandos, que começaram a estabelecer alianças com nativos celtas. Foi a partir de uma dessas alianças entre clãs normandos e celtas que surgiu o primeiro reino da região, chefiado por Kenneth I, no ano 843. Seguiu-se então uma tentativa frustrada de se unificar as tribos escocesas, que se prolongou por toda a Idade Média.
Por séculos, a Grã-Bretanha esteve ora sob domínio dos ingleses, ora sob domínio dos escoceses. “Com o desenvolvimento do capitalismo inglês, no século 17, os escoceses não tiveram como suportar a concorrência, uma vez que ainda viviam em um estágio feudal de produção”, explica Nasrala.
Em 1707, os escoceses assinaram os Atos de União com os ingleses, dando origem ao Reino Unido da Grã-Bretanha. Isso não impediu que o país preservasse seu próprio sistema de direito e de ensino. Além disso, a região manteve sua própria identidade cultural e nacional. Em 1998, o Parlamento Escocês foi reaberto.
A união com a Inglaterra permitiu que a economia escocesa desse um salto de qualidade, avançando em pouco tempo do feudalismo para o capitalismo industrial. Tanto que grandes nomes do nascente modelo econômico - o teórico liberal Adam Smith e James Watt, inventor da máquina a vapor - são escoceses.
A economia do país entrou em um período de decadência após a Segunda Guerra Mundial, do qual só conseguiu sair recentemente. “Hoje, a Escócia é um dos lugares que mais se destacam no setor de tecnologia de ponta”, afirma o coordenador do curso de geografia da USC, José Carlos Rodrigues Rocha.
Além disso, o país é grande produtor de cereais e batata. A Escócia também se destaca na pecuária bovina e ovina, na pesca e na extração de carvão e petróleo. “Sem contar as centenas de destilarias de uísque - as mais famosas do mundo - espalhadas no pequeno território de pouco mais de 78 mil quilômetros quadrados”, lembra Rocha.
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O ‘escocês bauruense’ em família
Embora a mãe e as irmãs do operador de máquinas Antônio da Silva Menezes, 34 anos, sentissem orgulho das supostas raízes escocesas da família, nem todos na casa se deixaram levar pelo modo de vida típico do país britânico.
“Meu irmão, Paulo, que mora no Jaraguá, nunca aceitou usar o kilt. Apesar disso, sempre gostou de mim. Já meu pai tinha um jeitão meio conservador, mas sempre aceitou numa boa o fato de eu usar o saiote”, garante Antônio.
Ele pretende se casar um dia e, se possível, ter filhos. “Não sei se eles aceitarão seguir minha cultura. Não irei obrigá-los, mas se quiserem ser como eu, ficarei feliz.”
Fã de saladas e de carne branca, define-se como um “homem moderno, avançado... diria mais: do futuro”. “Ainda existem muitos preconceitos pelo mundo afora, mas acredito que, em breve, eles serão exterminados. Tempos atrás, as mulheres não tinham espaço na sociedade, mas depois conseguiram se liberar. Hoje, elas se encontram mais evoluídas que os homens”, afirma.
Na opinião de Antônio, os homens precisam começar a inovar, caso queiram atingir o mesmo grau de evolução alcançado pelo “grupo feminino”. Atualmente, ele cursa o equivalente a 7.ª e 8.ª séries no Centro Estadual de Educação Supletiva de Bauru (Ceesub). Nunca usou a Internet e jamais viajou para fora do País; tudo o que sabe sobre a Escócia foi aprendido em livros, jornais e revistas. “Gostaria muito de conhecer a ‘Terra dos Gladiadores’. Esse é meu maior sonho”, diz.
Antônio garante ser a favor da independência do país. “Hoje, a Escócia vive muito à sombra dos ingleses. Se ela se separasse do Reino Unido, passaria a ter um destaque maior no cenário internacional”, acredita.