Existem alguns componentes de segurança instalados no veículo que poucos se dão conta de sua existência ou mesmo de importância. Um destes é a válvula equalizadora de freio. É um dispositivo relativamente recente, que veio originalmente dos veículos de carga. Imagine uma picape carregada com uma tonelada de carga na caçamba, freando bruscamente. Agora imagine a mesma picape vazia, freando igualmente. O comportamento de ambas será completamente diferente. Como o peso está mais concentrado na frente na configuração vazia, a tendência é da traseira travar as rodas e sair pulando, perdendo a trajetória. Aí é que entra a válvula equalizadora. Sua função é regular a intensidade da carga de frenagem nas rodas traseiras de acordo com a carga do veículo. O conceito de seu projeto é capacitar o freio a brecar o veículo no menor espaço possível na situação mais crítica de peso, portanto sempre com a brecada mais forte possível. Quando o veículo estiver com pouca ou nenhuma carga, a regulagem do freio para carga máxima se torna inadequada e então a válvula libera a pressão para frear menos na traseira.
Ao aplicar a mesma pressão em todas as rodas, a frenagem é mais equilibrada e evita o travamento das rodas traseiras e conseqüentemente a perda de dirigibilidade. Como o atrito dinâmico é maior do que o estático, se a roda não travar o carro parará em menor espaço. Este é o mesmo conceito usado pelo sistema ABS, porém com princípios funcionais diferentes.
Percebemos que quando se freia bruscamente a tendência do veículo é abaixar a frente e levantar a traseira, devido à transferência de peso para frente durante a frenagem. Se tivermos qualquer roda derrapando enquanto as outras estiverem freando, haverá uma tendência a instabilidade direcional por desbalanceamento de forças dinâmicas, com perda de trajetória e aumento da distância de frenagem. A válvula equalizadora é também conhecida como válvula corretora de frenagem sensível à carga e vai controlar a pressão do fluido de freio nas rodas traseiras. Em um automóvel, esta variação de carga gira em torno dos 500 kg, entre o carro vazio e carregado. Imagine em um veículo de carga, que pode ter uma variação maior de 10 toneladas no eixo!
Como funciona esta válvula? O corpo dela é fixado ao chassi do veículo. Este corpo é ligado à suspensão traseira através de uma haste e de uma alavanca e também é conectado ao circuito de fluido de freio. Quando o veículo é carregado, a carroceria abaixa e a suspensão reage, acionando a alavanca sobre a haste e mudando o posicionamento do pistão interno do corpo da válvula, alterando desta forma a pressão exercida sobre o freio traseiro. Por dentro do corpo, o sistema tem duas válvulas, sendo uma para cada roda. Quando o carro estiver com carga máxima ou parado, o pistão fica pressionado contra o fundo da válvula permitindo que a pressão do fluido tenha passagem livre e proporcione frenagem total. Com pouca carga, a pressão do fluido é maior do que a resistência do pistão. Portanto, ao pisar no freio, a pressão empurra o pistão para cima, fazendo com que a esfera interna seja pressionada e vede a passagem do fluido.
Com o carro em movimento, a suspensão oscila naturalmente devido aos desníveis do piso, acionando a alavanca e a haste da válvula e assim alterando o regime de deslocamento do pistão interno que regula a pressão do fluido. Isto faz com que as rodas traseiras não se travem ao passar por uma lombada, por exemplo.
Com esta flexibilidade de regulagem da pressão do fluido de freio, se consegue aumentar ou diminuir a pressão relativa que o fluido exerce sobre o eixo traseiro, aumentando ou diminuindo proporcionalmente a força de frenagem nas rodas dianteiras por conseqüência.
É sabido que a capacidade de frenagem tem que ser maior na frente do que atrás, devido à transferência de peso durante a desaceleração. Como alguns veículos podem ter a carga útil colocada de forma aleatória no compartimento de carga ou mesmo variar a carga de zero até o limite de peso, a válvula equalizadora tem uma função primordial no tocante à segurança dinâmica. Sua função é de equilibrar o veículo em qualquer situação de rodagem.
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Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.