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Desilusão leva veterinário a se tornar andarilho

Juliana Franco
| Tempo de leitura: 3 min

Ele é médico veterinário. Era proprietário de uma clínica em Franco da Rocha, e professor de uma universidade privada em Marília. Era casado, é pai de quatro filhas e era dono de uma vida social agitada. Atualmente, ele é depressivo, alcoólatra e morador de rua. A trajetória parece enredo de novela, mas é a história real da vida do bauruense Marcelo Carlos de Almeida, 42 anos.

Há seis anos na rua, adotou como lar uma casa abandonada localizada na quadra 11 da rua Bandeirantes, no Centro de Bauru, há três meses. Sujo e descabelado, ele ainda calça os antigos sapatos brancos da época em que exercia a profissão e carrega em uma mochila todos os seus documentos, entre eles o diploma universitário e a carteira profissional com registro de professor universitário.

Emocionado e com a esperança de uma vida melhor, Marcelo aceitou contar um pouco de sua história para a reportagem do JC. O motivo da reviravolta em sua vida foi o fim de seu casamento. “Quando me separei, entrei em depressão e logo em seguida me entreguei ao alcoolismo”, conta. “Hoje, minha família tem vergonha de mim e me virou as costas. Quando eu tinha dinheiro, tinha a clínica, eu valia alguma coisa para eles. Depois que perdi meu poder aquisitivo, não sirvo mais”, acrescenta.

Pai de quatro filhas – entre 9 e 23 anos – ele pede ajuda para largar o vício e voltar a ser médico veterinário. “Não posso contar com minha família. Procuro eles até hoje, mas não consigo nada. Eu ainda quero dar muito para minhas filhas, mas quando alguém chega na situação em que eu estou, é muito difícil sair daqui e ir para outro lugar”, revela. “O que mais dói é o preconceito da sociedade. Eles acham que a gente não é nada. Como eu não sou nada? Eu sei que tenho alguma coisa para dar ainda e sei que alguém pode aprender comigo”, complementa Marcelo, chorando muito.

Ele conta que procurou uma casa abandonada após não ser mais aceito no albergue da cidade. “Eles dizem que o albergue é para quem está andando e eu sou morador de Bauru. Então, nas minhas andanças, notei que esta casa estava abandonada e resolvi entrar”, conta.

Marcelo permanece o dia todo na residência, que no período da noite recebe, diariamente, cerca de 10 pessoas usuárias de droga. “Eu sei que em casas abandonadas os policiais encontram usuários de crack, como acontece aqui, mais eu não sou um deles. Eu me deixo fotografar, conheço a realidade e quero sair desta vida”, afirma.

Para comer, ele conta com a solidariedade dos vizinhos e de outros bauruenses. “Eu como muito pouco e peço sem vergonha. Comida o povo dá, não recusa”, revela.

O médico veterinário disse que está escrevendo um livro intitulado “Mendigo de Luxo”, em que conta a sua história. “Mas não tenho nada aqui porque deixo com um amigo aqui perto, tenho medo que roubem”, revela

Apesar de abandonado, o imóvel foi limpo há poucos dias. Inclusive, a caçamba com o entulho retirado da casa ainda está na frente da casa. Marcelo não soube informar quem fez o serviço. Antigamente, a casa funcionava como um escritório de advocacia.

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