Quando os brasileiros viajam para a Europa, costumam ficar extasiados com os tesouros da humanidade que se encontram guardados nos museus do “Velho Continente”. Em cidades como Madri, Paris, Londres, Varsóvia, Amsterdã, Viena e Berlim, os museus estão entre as principais atrações turísticas.
Acusados de não cultivar a própria memória, brasileiros são capazes de pagar até seis euros (aproximadamente R$ 15,70) para apreciar as telas de Diego Veslásquez, no Museu do Prado, em Madri. Conhecer pessoalmente a “Mona Lisa”, de Leonardo Da Vinci, no Louvre , em Paris, é um passeio que chega a custar até 14 euros (cerca de R$ 36,70) - sem contar as filas intermináveis.
Em Bauru, os museus têm entradas gratuitas, mas dificilmente ficam lotados, a não ser quando recebem alguma excursão. Atualmente, a cidade conta com quatro espaços dedicados à preservação da memória local, sendo que três são mantidos pela prefeitura - o Museu Ferroviário, o Museu Histórico Municipal e o Centro de Memória Regional - e um pela Universidade do Sagrado Coração (USC) - o Núcleo de Pesquisa Histórica (Nuphis). Um quinto local, o Museu da Imagem e do Som (MIS), ainda se encontra em fase de montagem
Situado na quadra 13 da rua Antônio Alves, o Museu Histórico Municipal costuma registrar, em média, 110 visitantes mensais. O Ferroviário, localizado na quadra 1 da rua 1.º de Agosto, recebe entre 800 e 1.200 pessoas, todos os meses.
O perfil das pessoas que visitam os locais é variado: consiste em pesquisadores, estudantes, idosos interessados em reviver os tempos de juventude e até mesmo pessoas que passam pela calçada e resolvem dar uma espiada no passado. Via de regra, porém, o publico espontâneo costuma ser bastante reduzido nos museus da cidade.
“O brasileiro não tem o hábito de buscar a história nos museus”, avalia o diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Jair Aceituno. Na opinião do professor de história Alex Gimenez Sanches, falta à população uma “cultura de museu”.
“Muita gente ainda enxerga esses locais como uma espécie de sala de velharias ou mesmo um espaço de curiosidades”, pondera ele, que é diretor da Divisão de Pesquisa e Documentação da Secretaria Municipal de Cultura.
“Existe uma visão muito difundida, inclusive pelos meios de comunicação, de que o brasileiro não tem memória. Oras, poderíamos questionar: isso ocorre de fato ou é uma idéia que nos vem sendo imposta, de uns 40 anos para cá?”, provoca o agente cultural Ricardo Volpi Ortega, que trabalha no Museu Ferroviário.
Na visão dele, a tradição autoritária do País - que enfrentou duas ditaduras ao longo do século passado - contribui ainda mais para afastar o povo de sua memória. A historiadora e coordenadora do Nuphis, Terezinha Zanlochi, lembra que essa forma de lidar com o passado se reflete na própria forma como a história vinha sendo ensinada nas escolas.
“Por muito tempo, a aula de história era uma coisa chata, que consistia basicamente em se decorar datas e locais. Era algo separado do presente. Dessa forma, as pessoas não tinham como desenvolver o amor por aquilo que é antigo”, afirma.
De acordo com a pesquisadora, a forma como as pessoas encaram a história muda completamente na medida em que elas conseguem estabelecer uma relação entre os acontecimentos de ontem e de hoje. “O passado existe em interação com o presente. Por exemplo: para explicar a questão dos sem-terra, é preciso retornar às origens do patrimonialismo português, responsável pela enorme concentração fundiária em nosso País; para entender o problema do índio em nossos dias, temos, necessariamente, de analisar período colonial”, diz Zanlochi.
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Templo das musas
Vistos por muitos como meras casas de antiguidades, os museus funcionaram por bastante tempo como importantes espaços de produção e difusão de conhecimento (papel hoje desempenhado pelas universidades e centros de pesquisas).
As primeiras referências à palavra museu remontam à época do filósofo grego Pitágoras (570 a.C.-460 a.C.), responsável pela fundação de uma espécie de “confraria” de sábios dedicada às musas, deusas das artes e da ciência.
No período do imperador macedônio Alexandre Magno, Aristóteles fundou na Grécia o Liceu, espaço que já trazia em sua essência a idéia da cooperação entre os sábios na investigação científica do mundo.
Após a morte de Aristóteles, Teofrasto organizou no interior do Liceu uma estrutura denominada “Museiom”, com salas de aulas, alojamentos para professores e uma vasta biblioteca.
Durante o reinado de Ptolomeu I no Egito, o filósofo Demétrio retomaria a idéia de Teofrasto, ao fundar o Museu de Alexandria. Segundo estudiosos, o local era constituído por dez laboratórios de investigação (cada um dedicado a um assunto diferente), jardins botânicos, um jardim zoológico, salas de dissecação e um observatório astronômico. A instituição era comandada por um grande sacerdote das musas.