O Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, que completa este ano 35 anos de atuação na previsão meteorológica com radar, passará a oferecer mais um serviço para a sociedade que permitirá detalhar o impacto da poluição e das queimadas sobre o meio ambiente e a atmosfera. Hoje, durante a comemoração do Dia Meteorológico Mundial, será lançado o Laboratório de Monitoramento Ambiental (Lapam), que faz parte de um projeto que visa medir a qualidade do ar em diversas cidades do Estado de São Paulo, incluindo Bauru.
O laboratório bauruense conta com um aparelho chamado Sodar, que mede os perfis verticais do vento através da emissão de ondas acústicas até a altura máxima de 800 metros. O equipamento emite um som que retorna ao atingir algum obstáculo e é captado por microfones especiais. Dessa maneira, é possível verificar as correntes de ar presentes nas camadas da atmosfera, suas velocidades, direções e se os fluxos são ascendentes ou descendentes, atualizando os gráficos do laboratório a cada 30 minutos.
De acordo com o coordenador de operação e responsável pelo Lapam, Gerhard Held, o aparelho oferece uma análise visual do formato das correntes de ar e possibilita um estudo mais aprofundado sobre a influência da poluição na atmosfera. “Através dos dados disponibilizados, poderemos detalhar de maneira mais eficiente o impacto que a poluição e as queimadas têm sobre o meio ambiente e a atmosfera”, destaca Gerhard.
Essas medições fazem parte do projeto “Implementação de um sistema de monitoramento atmosférico para o estudo dos impactos das queimadas na qualidade do ar e no clima”, que conta com incentivo de empresas do setor sucroalcooleiro e petrolífero interessadas em detalhar melhor o impacto de suas produções no meio ambiente e nas mudanças climáticas.
Além dos estudos sobre as correntes de ar, o Lapam permitirá outras análises que serão feitas por instituições parceiras envolvidas no projeto. Outro aparelho que faz parte das aferições sobre mudanças decorrentes das queimadas é o Lidar, que emite um feixe de raio laser em direção à atmosfera para medir a quantidade de partículas suspensas e gases para um amplo estudo sobre a poluição.
O projeto planeja realizar análises climáticas em diferentes cidades do Estado de São Paulo e reúne técnicos e estudiosos de instituições como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo (USP), Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Centro de Análise e Planejamento Ambiental (Ceapla) da Unesp de Rio Claro, e Centro de Ensino e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) da USP de Cubatão.
Hoje, na comemoração do Dia Meteorológico 2010, o IPMet terá, em sua sede, atividades especiais a partir das 14h. Integram o evento apresentação comemorativa dos 35 anos de atuação do IPMet e palestra com o tenente-coronel José Felix Drigo, diretor estadual da Defesa Civil no Estado. Ele vai falar sobre a importância das informações meteorológicas para as atividades de Defesa Civil. Em seguida será feita a abertura do Lapam e inaugurada a galeria dos ex-diretores do IPMet.
35 anos de análises climáticas
O IPMet foi o primeiro instituto na América Latina a fazer análise do clima com utilização de radar. Segundo a diretora do IPMet, Ana Maria Gomes Held, o instituto foi o primeiro da América Latina a trabalhar com a análise meteorológica baseada em dados emitidos por radar. O primeiro aparelho utilizado era chamado de Banda C, que funcionou de 1974 a 1978 com tecnologia analógica, passando para a digital e mantendo-se ativo em Bauru até 1992.
“Antes era um sistema analógico que rastreava a região de cobertura e o operador precisava desenhar as áreas de chuva. Depois, com a digitalização, passamos a ter imagens e poder acessar diretamente as informações sobre o clima, facilitando as análises. Então, em 2005, passamos a trabalhar com a previsão em tempo real com a chegada da tecnologia Titan”, destaca Ana Maria.
Titan é um sistema de software especializado no tratamento e aplicações das informações disponibilizadas por radares meteorológicos. O instrumento analisa os dados emitidos pelo radar meteorológico em determinada região e estabelece, de acordo com padrões pré-estabelecidos pelos técnicos do IPMet, onde estão as ocorrências climáticas e quais são as intensidades.
Ou seja, através do radar, o instituto capta imagens em tempo real dos fenômenos climáticos que ocorrem em toda a região central e oeste do Estado de São Paulo. Características da formação de chuvas são inseridas no programa e os técnicos acompanham o desenvolvimento dos fenômenos em tempo real, medindo a intensidade de cada um e seguindo seu trajeto para informar possíveis ocorrências climáticas mais graves, como fortes tempestades e chuvas de granizo.
“Temos a observação em tempo real em grande parte do Estado, faltando apenas cobrir uma faixa ao leste de São Paulo. Agora, fazemos uma varredura em tempo real de áreas de precipitação, proporcionando uma alta definição espacial e temporal das chuvas. A cada sete minutos e meio, em média, é apresentada uma nova análise sobre o clima da região abrangida”, explica a diretora do IPMet.
Ana Maria revela ainda que o próximo projeto do instituto é cobrir toda a área do Estado de São Paulo com a análise climática em tempo real. O serviço de meteorologia do IPMet está disponível a todos os interessados através do site da instituição (www.ipmet.unesp.br), podendo ser acessado através do link Boletim do Radar, que oferece informações detalhadas pelos técnicos capacitados, apresentando inclusive imagens do desenvolvimento de atividades climáticas atualizadas constantemente.
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Cobertura vegetal cresce, mas estaria mascarada
O novo inventário florestal paulista, que mede a cobertura vegetal do Estado de São Paulo, mostra um aumento de 4% na área verde estadual e de 2% em Bauru na comparação com os resultados apresentados em 2001. Entretanto, parte da diferença pode ser resultado do uso da tecnologia de análise utilizada este ano.
Depois de 15 meses de trabalho por parte da equipe do Instituto Florestal, o relatório sobre a cobertura vegetal no Estado de São Paulo em 2010 apontou um crescimento na área verde de 886,3 mil hectares em relação aos levantamentos de 2001. Isso significa que as áreas verdes passaram a representar 17,3% do solo paulista, enquanto o resultado de nove anos atrás somava 13,9% de vegetação.
O satélite utilizado nos estudos de 2001, o sino-brasileiro CBERS, foi substituído pela tecnologia japonesa do ALOS, que proporcionou imagens inéditas. Por exemplo, o CBERS não conseguia captar imagens de áreas menores que dois hectares, fazendo fotografias borradas que dificultavam a visualização e análise. Por outro lado, o ALOS consegue captar variações a partir de 0,25 hectare, possibilitando melhor análise de uma área mais ampla.
Com esta implementação na tecnologia, o Estado de São Paulo contou com a “descoberta” de 184,5 mil novos fragmentos florestais que formam 445,7 mil hectares de novas áreas verde que não eram avistadas pelas imagens do satélite usado em 2001. Esse número apresenta aproximadamente a metade da nova cobertura vegetal registrada em território paulista.
Além disso, as novas vegetações encontradas durante o recente estudo também evidenciam 94,9 mil hectares de áreas em regeneração, o que sugere a possibilidade de uma redução no desmatamento paulista. Vale destacar que São Paulo é o primeiro Estado brasileiro a ter imagens de satélite nessa escala.
Para titular da Semma, aumento da área verde é real
Sobre os dados revelados pelo estudo do Instituto Florestal (IF), sobre a cobertura vegetal no Estado de São Paulo que apresentaram um crescimento de aproximadamente 2 % na área verde de Bauru, que passou de 8,8% em 2001 para 10,2% este ano, o secretário municipal do Meio Ambiente, Valcirlei Gonçalves da Silva, atribuiu o fato aos projetos realizados tanto pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) quanto pelas diversas Ongs bauruenses que lutam pela preservação.
“Estamos fazendo um trabalho muito grande aqui na cidade, incentivando os proprietários a preservarem suas áreas de floresta, além de discutir o reflorestamento com aqueles que não possuem áreas verdes. Isso sem esquecer dos trabalhos realizados pelas Ongs da cidade”, destaca.
Sobre a possibilidade do aumento na cobertura vegetal de Bauru ser resultado de uso de tecnologia de análise via satélite, Valcirlei afirma que o crescimento das florestas é algo fácil de se notar na cidade. “Tenho notado o aumento da área verde não apenas em análise, mas também pela procura que temos por parte de proprietários de terrenos nas áreas urbana e rural que querem realizar parcerias de replantio e recuperação de áreas”, garante.
Analisando os resultados dos estudos do IF, o secretário municipal do Meio Ambiente não considera 10,2% da área total de Bauru o percentual ideal de cobertura vegetal, mas acredita que a cidade está no caminho certo. “Saímos de um período em que a cobertura vegetal estava diminuindo na cidade e agora começamos a crescer. Isso é algo que a gente vê com bons olhos mas admito que ainda não é o ideal. Esperamos alcançar um valor bem acima disso no futuro, quem sabe chegar a 20%”, informa.
Para atingir esse percentual, Valcirlei conta com a constante realização de replantios e, principalmente, o auxílio da população, que está colaborando bastante e demonstrando maior consciência sobre a necessidade dessas áreas florestadas, segundo ele.