O instrumentista, compositor e cantor Toquinho deixa de ser uma estrela da música brasileira, um astro intocável, a cada vez que sobe em um palco. Avesso a rótulos musicais, ele surpreendeu os jornalistas bauruenses, na última terça-feira, ao falar do sucesso do hit Rebolation, composto e interpretado pelo vocalista Léo Santana, do grupo Parangolé. Antes de fechar a série Grandes Nomes “Era de Ouro”, do Alameda Quality Center, o cantor concedeu uma entrevista coletiva em Bauru.
Aos 63 anos, Toquinho faz a mulherada ficar atenta a seu papo com um estilo apaixonado ao falar das suas escolhas. Seus olhos brilham ao comentar sobre futebol, música, arte, relação com palco, projeto de vida, sucesso e Rebolation. Do fenômeno de mídia que projetou Léo Santana, Toquinho fala que merece todo o respeito. “Não tem papo. Depois você pode analisar como você quiser. Se é tecnicamente, não sei como. Se intelectualmente, não sei como. Se está uma coisa engajada ou não. Isso é uma outra conversa. O sucesso, qualquer tipo de sucesso, tem que ser respeitado. Porque tem uma comunicação popular. Conquistou uma coisa”, analisa Toquinho sem medo algum de parecer demagógico por estar falando para a inprensa. Para o cantor, a bossa nova foi um movimento muito preconceituoso.
Citou que é de uma geração pós-bossa nova, movimento musical iniciado no final dos anos 50 nos bem decorados apartamentos do bairro de Copacabana. “Não faço bossa nova. Faço música brasileira”, sentencia. Ele acrescenta que a mistura samba tradicional, canções brasileiras, com resquícios do que o influencia: bossa nova, fado, tango, samba canção e do rock’n’roll. Para desgrudar o que é bom daquilo que é medíocre, Toquinho comenta da música composta com Kabelo: “É um rapper e fizemos uma coisa parecida. Você pode fazer uma coisa bem feita em qualquer língua, estilo. Tudo, o Rebolation ou o que for, pode ser bonito. E pode ser uma coisa vulgar e repugnante. Depende de quem faz e da qualidade de quem interpreta. Tem sertanejos maravilhosos, afinadíssimos. Muitos são chatos, agudos. E axé também. Tem um negócio que fala de garrafa.”
Desafinar
Ele comenta que estuda violão todos os dias para não “desafinar” na companhia dos músicos Ivâni Sabino, no baixo, e Pedro Paulo D’Lia, bateria. “Tô tocando direitinho. Baixo, violão e bateria é a formação que eu mais adoro tocar”, comenta.
Toquinho é do tipo que não tem receio de público. Ele desembarcou em Bauru para um show mais intimista vindo de uma apresentação para não menos do que 6 mil pessoas que lotaram o estádio Luna Park, em Buenos Aires, capital Argentina.
“Você não ouve uma mosca voar e quando fala em ginásio pensa em gritos. Foi uma coisa incrível e um sucesso estrondoso”, cita em tom de comemoração. Em seguida, o cantor confessa sua preferência: “Tem uma emoção do público grande. Mas eu prefiro, às vezes, fazer um show para um lugar menor. Para mim, show é show. Se tocar aqui violão, talvez tenha mais prazer do que lá no show hoje (terça-feira no restaurante).” O produtor de Toquinho, Genildo Fonseca, adiantou que o cantor deve voltar para outro show em palcos argentinos brevemente. Toquinho acrescenta que se emocionou na Argentina, onde se apresentou ao lado de Maria Creuza, uma antiga conhecida de palcos dos idos dos anos 70 ao lado de Vinícius de Moraes, parceiro em diversas composições. “A sensação de ser aceito pela plateia de outro país, de pé e aplaudindo é o reconhecimento de um outro povo de uma coisa que você fez. E você está ali representando o seu passado”.
Deformar o espetáculo
Do astro do Luna Park a um simples crooner, Toquinho se sente muito à voltade com o público que aprendeu a reconhecer o seu valor. “Tem uma regra que fala: ‘o público deforma o espetáculo’. Eu deixo o público deformar o espetáculo”, discorre. Experiente, o músico sabe que há composições suas que não saem do set list das apresentações.
Toquinho está pronto para ser surpreendido. Ele comenta que há shows em que rola até música instrumental. Outros, o cantor assume a performance de um crooner quando a plateia levanta da mesa e começa a dançar. “Tem que estar preparado para tudo. Tem que estar com a antena ligada para ter essa percepção e para poder fazer o que a circunstância pede”, define.
O cantor inaugura a série “In Concert”, do projeto Hebraica para Todos, amanhã. O projeto homenageia grandes compositores brasileiros, com a participação da Orquestra Filarmônica Brasileira, regida pelo maestro León Halegua. Nesta apresentação, Toquinho canta as composições de Vinicius de Moraes. Toquinho é produtivo. Com Paulo Ricardo, ele gravou músicas de Vinicius, com arranjos atuais e em fase de mixagem. Com o escritor chileno Antonio Skármeta, ele irá gravar um CD em espanhol e italiano com composições inéditas, com lançamento previsto para este ano pelo selo Biscoito Fino. Com previsão para o segundo semestre, o artista desenvolve um projeto que inclui a gravação do CD e DVD Toquinho e MPB4 - 40 Anos de Música.
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Corintiano
Toquinho está entusiasmado com a nova fase do Corinthians pela boa impressão que teve da nova diretoria do clube do Parque São Jorge. O Timão comemora seu centenário com ações de marketing. Toquinho e banda fizeram três shows no Navio Costa Concórdia, na programação do cruzeiro comemorativo dos 100 anos do Corinthians. “Torcendo para o Corinthians ganhar a Libertadores, que é o ponto máximo do desejo da família corintiana.”
Ao comentar sobre o momento espetacular do Santos, o corintiano Toquinho disse que o sucesso do time de Vila Belmiro é um baita problema da história para o Dunga, técnico da Seleção Brasileira. “O time do Santos é um acontecimento. Ele (Dunga) tem que levar o Ganso e o Neymar. Não tem que explicar”, finaliza.