Cultura

Eclipse: as escolhas de Bella


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Pode soar estranho, mas Bella Swan (Kristen Stewart) nunca se sentiu tão sozinha como neste “Eclipse”, terceira parte da bem-sucedida saga “Crepúsculo”, que estreia hoje nos cinemas, inclusive em Bauru.

A culpa não é do vampiro galã Edward Cullen (Robert Pattinson), que se mantém ao lado dela o tempo todo, nem tampouco do musculoso lobisomem Jacob Black (Taylor Lautner), que a ama incondicionalmente. O motivo é simples: ela começa a duvidar se deve ou não se transformar em vampira -decisão tomada no longa anterior, “Lua Nova” (2009).

Contra ela, pesam a opinião de Jacob, seu fiel amigo e por quem Bella nutre uma paixão (o problema é que, como a própria garota afirma, o amor por Edward é maior), a história de vida da vampira Rosalie Hale (Nikki Reed) e até mesmo um discurso cheio de clichês feito em sua formatura. Sem contar, é claro, o comportamento “conservador” de Edward, que diz preferir o momento certo - no caso, o casamento - para transar pela primeira vez com Bella.

Tudo isso aproxima a personagem de grande parte dos fãs da série (escrita por Stephenie Meyer), em sua maioria adolescentes que colecionam tudo o que se refere aos astros Kristen, Pattinson e Lautner.

Paralelamente a esses dilemas, a mocinha de “Eclipse”, dirigido por David Slade (“30 Dias de Noite”), continua sendo a principal ameaça à tranquilidade da pacata cidade de Forks.

A vampira ruiva Victoria (Bryce Dallas Howard) segue em sua busca incansável por Bella para se vingar da morte de seu companheiro James (Cam Gigandet). Desta vez, porém, ela contará com a ajuda de um exército de vampiros recém-criados, liderado por Riley (Xavier Samuel).

Se essas novas criaturas provocam muita desordem em Forks e em Seattle -eles estão por trás de uma série de assassinatos na região -, Riley, Victoria e companhia serão responsáveis por mudanças cruciais na relação entre os lobisomens e a família vampiresca Cullen. Tudo para proteger Bella, claro.

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Atrizes darão vida a roqueiras

Assim como aconteceu em “Lua Nova’’ (2009), a atriz Dakota Fanning também faz uma pequena participação em “Eclipse”, que estreia hoje. Em ambos os filmes, ela é a poderosa vampira Jane, do clã Volturi, que se incomoda por Bella (Kristen Stewart) não ser um deles. As duas atrizes voltam a contracenar no filme “The Runaways”, no qual abandonam o universo vampiresco da saga “Crepúsculo” e mergulham no cotidiano de sexo, drogas e rock’n’roll da década de 70.

O longa narra a formação e o sucesso meteórico da Runaways, a primeira banda de rock formada só por mulheres - no caso, garotas com menos de 16 anos. Enquanto Kristen dá vida a Joan Jett, Dakota é Cherie Currie. Dirigido por Floria Sigismondi, “The Runaways” deve estrear no Brasil em setembro.

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Com mais erotismo e ironia, “Eclipse’’ é primeiro da série com a qualidade que justifica sucesso

A questão foi colocada de forma simples no título de uma coletânea de Elvis Presley de 1959: “50 milhões de fãs não podem estar errados”.

Em outras palavras, o sucesso popular não deveria admitir contestação crítica. De tempos em tempos, surge um fenômeno para relativizar, ou ridicularizar, a frase. Backstreet Boys, Justin Bieber, “Todo Mundo em Pânico”, “Crepúsculo”...

A julgar pelos dois primeiros episódios da série baseada nos livros de Stephenie Meyer, milhões de fãs adolescentes podem, sim, estar errados. Mas “Eclipse’’, terceiro filme da franquia, mostra que ao menos eles não estão redondamente enganados.

A defasagem entre popularidade e qualidade torna-se aqui muito menor. Esse talvez seja o primeiro episódio da série que se justifique como um blockbuster. O novo filme não elimina certos problemas dos anteriores. Os diálogos pomposos, os cenários new age, o estilo de direção básico (para não dizer primário) ainda marcam presença, mas de forma atenuada.

Por outro lado, há mais autoironia, mais erotismo, mais suspense. O terceiro episódio tem a sabedoria de preservar o “coração” da série: menos a construção de um novo olhar sobre o filme de vampiro e mais a aposta em um ultraromantismo antiquado, que não admite cinismo.

Aqui, ganha contornos definidos o triângulo amoroso entre Bella (Kristen Stewart), o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomen Jacob (Taylor Lautner).

Ela terá de escolher entre o amor casto do primeiro e a atração sexual exercida pelo segundo. Enquanto isso, Edward, Jacob e os respectivos grupos se unem para defender Bella de um exército de novos vampiros.

O vampiro Kaká

Como os episódios anteriores, “Eclipse’’ faz uma defesa não muito velada da abstinência (simbolizada por Edward), uma opção que encontra eco na sensibilidade “emo’’ de milhões de adolescentes do mundo em tempos de conservadorismo sexual. Se Edward fosse um futebolista, e não um vampiro, ele seria Kaká -admirado por tantas jovens por ter se casado virgem. Conseguir metaforizar alguns dos problemas essenciais da adolescência em um filme de gênero e ainda sintonizar a sensibilidade de uma faixa etária e de uma época não são tarefas desprezíveis. Talvez Elvis não estivesse tão errado assim. (Ricardo Calil)

• Serviço

Saga Crepúsculo: Eclipse

Direção: David Slade

Elenco: Robert Pattinson, Kristen Stewart e Taylor Lautner

Classificação: 12 anos

Avaliação: regular

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