Fundada em 1931, a Vila Independência sagrou-se como um dos bairros mais tradicionais e importantes da cidade. Conquistou fama e respeito entre os bauruenses ao abrigar marcos importantes da história do município, como o templo da Igreja Tenrikyo, o cemitério São Benedito, a extinta fábrica da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (Sanbra), entre outros.
Porém, o que pouca gente sabe é que, mesmo convivendo lado a lado com o avassalador progresso que tomou conta da rua Felicíssimo Antônio Pereira e da avenida Castelo Branco, vias que delimitam o bairro, o interior da Vila Independência ainda permanece com as mesmas características de seus primeiros anos de existência.
Quem caminha por suas ruas não demora a perceber o contraste que tanto encanta os moradores do local. O interior do bairro é cheio de vias pacatas, com casas antigas que conservam fachadas quadradas, típicas do início do século passado. Muitas delas ainda são de madeira, e poucas aparentam ter sido reformadas recentemente.
O clima de boa vizinhança também chama a atenção e é fruto de anos de convivência. Isto porque a maior parte dos moradores da Vila Independência reside no bairro há mais de dez anos, de acordo com pesquisa realizada em 2001 por Lúcia Helena Sant’Agostino, e grande parte deles garante que não se mudaria por nada.
Por lá, não é difícil encontrar figuras como o aposentado Nélson Lourenço, 73 anos. Conhecido na região, ele é um homem apaixonado pelo lugar onde mora, e acompanhou de perto a construção de uma vila marcada por paixões e laços fortes.
Embora tenha herdado o nome de Independência, exceto o fato de ser uma homenagem, a história do bairro nada tem a ver com a famosa proclamação feita por Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. Portugueses e brados de ‘Independência ou morte’, definitivamente, não fizeram parte da criação da vila.
Em Bauru, foram os japoneses e a Cia. Moinho Santista que deram início à formação de nossa Independência. Relatos de membros da colônia nipônica apontam que os imigrantes da terra do sol nascente foram os primeiros a instalarem suas chácaras na vila. A escolha se deu por conta da existência do córrego Água do Sobrado, que, por oferecer água em abundância, era muito útil aos imigrantes na irrigação das suas plantações.
De acordo com a pesquisadora Lúcia Helena Sant’Agostino e com o pesquisador Irineu de Azevedo Bastos, outro expoente na formação do bairro foi a Cia. Moinho Santista, uma fábrica de grande porte, que mais tarde passou a se chamar Sanbra e hoje Bunge, e que proporcionou, com a criação de empregos, a transformação rápida do local.
Às vésperas de completar 80 anos, a Vila Independência detém o título de um dos bairros mais famosos de Bauru e esbanja charme e tradição. Para quem não mora na vila fica o convite para conhecer um pouco de suas ruas e histórias. Já para os moradores do bairro, resta o deleite.
Gigante por natureza
Pare e pense: quais são as ruas que delimitam a Vila Independência? Certamente, poucas pessoas darão a resposta correta. Isto porque o bairro tem a fama de ser bem maior do que realmente é.
Teoricamente, segundo as placas azuis que ficam pregadas aos postes, a Vila Independência é o território compreendido entre as ruas Felicíssimo Antônio Pereira, Luiz Gama, Chile e a avenida Castelo Branco. Mas, para a maioria dos bauruenses, a Independência é mais que isso: engole bairros como a Vila Nova Santa Ignez, Vila D’Aro, Vila Razuk, entre outros.
“Existem ainda os mais generalistas, que transformam o Jardim Ferraz, Vila Nipônica e o Jardim Terra Branca tudo em Vila Independência”, afirma o pesquisador Irineu Bastos, autor do livro “Falcão/Independência – Nossa gente e nossa história”.
Para Nélson Lourenço, morador da quadra 1 da rua Vasco da Gama, que ele faz questão de frisar que é legítimo território da Vila Independência, a generalização tem explicação. “Todo mundo quer ser da Independência!”, afirma.
E quando a reportagem pergunta se ele concorda com a classificação popular, Nélson é taxativo. “Não senhora! De jeito nenhum. Independência é só por aqui. Pra lá (apontando no sentido da avenida Castelo Branco) tem outro nome. Depois acontece crime lá para aquelas bandas e colocam no jornal que foi na Independência. Não concordo não”, explica, categórico.