Tribuna do Leitor

Um Chico Buarque incomoda muita gente


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Como são as análises a respeito das atividades do Chico, conforme aparecem em algumas das opiniões veiculadas no JC? Numa aparece o “argumento de autoridade”. O Millôr Fernandes disse que o Chico é um analfabeto político, portanto, tudo que o Chico disser sobre política está invalidado. Segundo essa falácia (ou sofisma), ninguém precisaria analisar o conteúdo de uma posição política do Chico, pois qualquer que seja esse conteúdo, ele estaria liminarmente desautorizado pela suposta autoridade que foi atribuída ao Millôr. Noutra aparece o “argumento contra o homem”.

O Chico é um preguiçoso que vive fora da realidade, só escreve um livro a cada dois anos, portanto, tudo o que o Chico escrever é literatura de baixo nível. Segundo essa falácia (ou sofisma), ninguém precisaria analisar forma e conteúdo literário de uma obra artística do Chico, pois tudo que ele elaborar literariamente seria mera futilidade, dado que uma suposta preguiça intelectual lhe foi atribuída.

Uma falácia (ou sofisma) é “qualquer enunciado ou raciocínio falso que entretanto simula a veracidade” (Dicionário Houaiss). Um dos mecanismos para simular a veracidade é colocar tal tipo de enunciado, de passagem, num texto, relativamente longo, que trate de vários assuntos ao mesmo tempo. Espera-se daí que o leitor não indague sobre a necessidade de se demonstrar, objetivamente, que os “atributos” utilizados como premissas têm base real efetiva. A rigor, a utilização de fa-lácias (ou sofismas) não atinge o seu objetivo de denegrir, mais amplamente, a pessoa contra a qual o falso argumento se dirige, apenas denota a pouca densidade intelectual da argumentação perpetrada.

Afinal de contas, a análise de um conteúdo elaborado exige um nível de formação cultural e política, bem como um esforço analítico que, via de regra, está fora das possibilidades dos perpetradores de falácias (ou sofismas). Mas é precisamente esse esforço que deve ser exigido dos perpetradores de falácias (ou sofismas). Demonstrem, objetivamente, que tal ou qual obra literária, ou que tal ou qual posição política do Chico Buarque carece de fundamentação, rigor e elaboração. (Geraldo A. Bergamo)

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