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Bom sono depende de disciplina e não dos ponteiros do relógio

Luiz Beltramin
| Tempo de leitura: 5 min

Todos os dias é a mesma "tortura". Sair da cama, faça chuva ou faça sol, para muita gente, não é tarefa fácil. Mesmo com o fim do horário de verão, muitas pessoas continuarão sofrendo para despertar.

Entre as crianças e adolescentes que há algumas semanas retomaram a rotina escolar, entre outras atividades ao longo do dia, deixar para trás o aconchego do travesseiro torna-se o primeiro leão a ser enfrentado, ainda mais quando o período transitório entre férias e dias letivos ainda é acompanhado pelo hábito de dormir tarde.

Alento para alguns, indiferente para outros, o fim do horário de verão - quando o relógio é atrasado em uma hora - em tese, oferece um "bônus" de 60 minutos a mais de sono. Contudo, o retroceder dos ponteiros é inócuo para um pouco mais de descanso, se a hora de contar carneirinhos continuar adiantada.

"Eu prefiro o horário ?de inverno?, dá para dormir mais", elege o estudante Rafael Ferraz Daher Miranda, de 13 anos. O garoto, que considera acordar cedo um martírio diário, conta usar certos macetes para driblar o sono e minimizar o "impacto" causado pela mudança de rotina logo após o término das férias escolares. "Sempre enrolo um pouquinho e fico dormindo mais. Dá certinho o horário, é tudo calculado", assegura o adolescente. O problema, ressalva o estudante, é quando o aconchego para uma soneca é notado mesmo longe da cama. "Aulas com projetor, com a luz apagada, são um perigo", brinca Rafael. "Durmo porque gosto. Falam que eu poderia aproveitar o tempo para outras coisas, mas acho muito bom dormir e não acho perda de tempo", considera.

Quem também passa apertado na tentativa de espantar o sono é a estudante Amanda de Almeida Magalhães, de 16 anos. Aluna do terceiro colegial, ano que antecede ao estresse do vestibular, ela admite que ainda não desapegou de certas manias das férias, principalmente a da Internet. "Fico no celular, na Internet, até o sono chegar. Acabo dormindo bem tarde e não consigo chegar no horário nunca", relata a jovem. Contando que vai deitar ? o que não significa, necessariamente, descanso ? por volta das 23h.

Se a questão é o relógio, o novo horário em vigor a partir desta madrugada não é preponderante para mais e, principalmente, boas horas de sono, atestam médicos. O mais importante para se dormir, de acordo com especialistas, é não trocar o dia pela noite e aproveitar o período para fazer o que nosso corpo está naturalmente programado, ou seja, simplesmente dormir, receita José Knoplich, médico da Sociedade Brasileira do Conforto ao Dormir.

"O organismo humano tem dois ciclos: o da vigília, relacionado à luz do sol, e o do sono, direcionado à noite. Na claridade, o organismo está preparado para receber informações e trabalhar. Se a pessoa não dorme, pelo menos, entre seis e oito horas, algo que varia muito de um organismo para outro, e gasta esse tempo na Internet, com televisão ou música alta, não conseguirá atingir o chamado sono reparador", observa.

O estado fisiológico citado, necessário para garantir o perfeito funcionamento do organismo como um todo, só é atingido, acentua Knoplich, com garantia de silêncio e escuridão mínima no ambiente de repouso. Horas a menos, barulho e luminosidade, enfatiza, resultam em sono agitado e consequente cansaço no dia seguinte.

"A pessoa fecha os olhos mas não dorme bem. Tem pesadelos, inquietações, falta de ar. Sente sonolência e dificuldade para acordar na hora em que estava programado. Quando vai para a escola não consegue aprender o que está ensinado. São resultados do desequilíbrio no relógio biológico", acentua.

Irritabilidade e até mesmo fragilidade ? "se a criança pratica algum esporte, por exemplo, a musculatura e reflexo ficam alterados, tornando-a mais vulnerável, acrescenta o médico, que é reumatologista -, são outros reflexos negativos da precariedade do sono, em qualquer idade, reforça. "Com operários há maior risco de acidentes", exemplifica.

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Bola x cama


Para garantir a pontualidade dos alunos e, principalmente, mantê-los atentos em sala de aula, tem escola que adota sistema de tolerância zero, seja no horário de entrada, seja em relação aos cochilos dentro da classe. É assim no colégio COC de Bauru, atesta o professor de Matemática e diretor da instituição, Antônio Ângelo Schiavinato. "Focamos o vestibular e disciplina é tudo", garante.

Apesar da rigidez sobre atrasos ou sonecas, o educador lembra de situações engraçadas que testemunhou envolvendo a turma do cochilo. "Assim que percebemos que um aluno quer dormir, pedimos para que lave o rosto", assegura. "Mas teve uma vez que um aluno dormiu mesmo, cheguei a tirar a turma inteira da classe e ele continuou lá, num sono profundo", recorda.

Para ele, um dos principais "vilões" do acordar cedo durante a semana deve atuar especificamente nas noites de quarta-feira. "Não posso comprovar isso, mas observo que o dia em que o pessoal mais se atrasa e tem sono é a quinta-feira, dia seguinte ao futebol na televisão", supõe.

Atualmente, as partidas na televisão aberta começam na casa das 22h e terminam cerca de duas horas mais tarde. Caso o aluno seja um torcedor fanático, certamente estará na adrenalina do jogo, independentemente da tristeza por uma derrota ou euforia pela vitória do time do coração, algo também prejudicial na hora de ir para a cama, atestam médicos.

O ideal para uma boa qualidade do sono é buscar o relaxamento gradual cerca de duas horas antes de dormir. Por isso, recomenda a endocrinologista Cibele Cabogrosso, atividades como a Internet, por exemplo, dificultam ainda mais para que a pessoa desligue da "tomada".

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