Nosso amigo leitor Paulo César Simões regularmente nos brinda com perguntas interessantes para uma grande parcela de outros leitores, por isso gosto de responder nesta coluna e não diretamente. Diz ele: "Gostaria que comentasse sobre aperto de porcas de rodas. Outro dia, levei o fusca de minha filha para rodízio, alinhamento e balanceamento num lugar da quadra 2 da Castelo Branco, aqui em Bauru e um dos pneus baixou. Não dava nem para chegar até um borracheiro. Resolvi trocar em casa. Rapaz do céu, o que é aquela maldita pistola pneumática, cheguei a estragar 6 porcas das rodas pois não havia o que soltasse as benditas, tive que subir em cima da chave de roda e olhe Marcos, peso 80 kg. O que acontece, isso é normal? Rapaz, quando você vai a um borracheiro, ele usa uma chave de roda cruzeta com um extensor soldado, será que esses caras acham que vai cair uma porca? Por isso, quando vou na Felivel, meu amigo chefe de oficina Miltão usa um torquímetro. Acho que poucas pessoas conhecem esta ferramenta..." Reproduzi textualmente um trecho da carta do Paulo César como recebi, por demonstrar o que muitos sofrem quando precisam trocar eles mesmos uma simples roda.
Tem gente que pensa que quanto mais apertado, melhor. Não é bem assim, de jeito nenhum. Todo elemento de fixação rosqueado é calculado para ter um torque ideal de aperto, que é aquele que permite que as partes a serem fixadas por ele permaneçam firmes e juntas e que o torque não danifique o corpo do próprio elemento de fixação nem sua rosca. Os engenheiros e projetistas definem qual o torque necessário para fixar uma coisa na outra e depois dimensionam o parafuso e a porca para suportar aquele torque.
Voltando às porcas de roda, é claro que elas devem ter um aperto tal que não permitam que as mesmas se soltem e, por conseqüência, a roda que estão segurando. Também nos parece claro que estas rodas devam ser trocadas manualmente com as ferramentas que acompanham o veículo (macaco e chave de roda) e que não seja mandatório usar ferramentas pneumáticas ou hidráulicas para tal. Senão, como fica trocar uma roda na estrada, sozinho e à noite?
Com este raciocínio em mente, vemos que é totalmente irracional que alguns pseudomecânicos possam imaginar que a força que eles aplicaram nas porcas de roda, usando alavancas ou tubos de extensão nas chaves, possa ser repetida na estrada por um motorista normal e sua chave de roda manual. Aí não tem outro jeito, é pedir ajuda a um caminhoneiro com suas chaves maiores e xingar quem te colocou naquela situação...
O fato de apertar demais as porcas, ou melhor, a rosca (pois muitos veículos usam parafusos ao invés de porcas), pode causar um problema muito sério que é espanar os fios da rosca e perder o poder de fixação. O correto é fixar o elemento (porca ou o parafuso) com as mãos e depois apertar com a chave de roda até ficar duro, dando um reaperto de mais ¼ de volta para travamento final. Só isso e mais nada, e tudo com suas próprias mãos apenas. A borda de contato de aperto geralmente é cônica e fornece um atrito tal que impede a soltura natural do elemento porca ou parafuso, desde que ele esteja corretamente apertado.
Outro erro crasso de alguns borracheiros é de colocar a porca com a pistola pneumática e não com as mãos. Como a ferramenta tem muita força, se a rosca entrar errado o fio será danificado e estragará toda a rosca. Por isso insisto que todo elemento de fixação deva ser fixado inicialmente com as mãos para sentir se "pegou a rosca" corretamente e depois, apertada como quiser. Aliás, a pistola pneumática não é a vilã da história e sim, o seu operador. A pistola pode e deve ser regulada para fornecer o torque ideal, e não deixada no máximo para um aperto estúpido, que ninguém consegue soltar depois. Qualquer boa oficina usa ferramentas pneumáticas em quantidade e sem causar problemas, desde que usadas corretamente. Vejam as trocas de pneus em boas lojas e borracharias profissionais. Faço questão de elogiar o serviço de algumas, como uma revendedora Michelin da esquina da Aureliano Cardia com a Rodrigues Alves. Quando troquei os pneus de meu carro, balancearam as rodas, colocaram-nas no lugar apertando os parafusos inicialmente com as mãos e depois com ferramenta pneumática e finalmente, um funcionário conferiu cada um dos parafusos com um torquímetro, garantindo a exatidão do torque. É assim que se faz, e que sirva de exemplo a todos os concorrentes.