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Dengue hemorrágica: como escapar?

Vitor Oshiro
| Tempo de leitura: 7 min

Com as primeiras mortes de dengue hemorrágica na história de Bauru, a população está cada dia mais espantada com a doença. Entretanto, mesmo sendo considerada grave, duas medidas são decisivas para separar o quadro que evolui de forma até fatal e a cura do problema: observação e hidratação.

A infectologista Maristela Pastore Oliveira explica que a dengue hemorrágica nada mais é do que a evolução da dengue normal. "A forma hemorrágica, que é muito mais grave, é basicamente a dengue normal que não foi tratada ou curada. Assim, ela evolui em todos os sentidos e traz as consequências mais fortes".

Desse modo, os problemas consequentes surgem de um efeito determinante da doença: a perda de líquido dos vasos sanguíneos. Segundo a infectologista, "os vasos sanguíneos ficam mais porosos em pessoas com a dengue. Por isso, o líquido, que precisa fluir dentro do vaso, acaba saindo para o corpo".

O fato já ocorre na dengue normal, entretanto, na forma hemorrágica é muito mais intenso. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o médico Dráuzio Varela, explicou que a dengue é uma doença bifásica e repentina. De acordo com ele, os sintomas iniciais, como a febre e dor no corpo, aparecem "sem avisar" e de forma bastante intensa.

Então, o ideal é procurar o atendimento o médico assim que os sinais da dengue normal surgem. Porém, essa é apenas a primeira fase da doença. Na maioria dos casos, há um período de melhora que ilude o paciente. Depois desse tempo - geralmente três dias - há dois caminhos possíveis para a enfermidade.

O primeiro é a cura e o desaparecimento dos sintomas. Já o segundo é a evolução do quadro para a forma mais grave, a febre hemorrágica.

O secretário municipal de Saúde, Fernando Monti, que também é infectologista, aponta que verificar os primeiros sintomas da evolução é decisivo para evitar maior gravidade. "Os sinais de alerta são vários: dor abdominal, sede excessiva, desmaios e sonolência. O sangramento vem depois e acaba reforçando a suspeita. É um sangramento que pode ser tanto das vias aéreas quanto intestinal", explica.

De acordo com ele, a pele também deve ser observada. "Manchas vermelhas significam que há sangramento sob a pele. O mesmo ocorre quando as extremidades do corpo, como as pontas dos dedos, começam a ficar roxas". Percebendo o aparecimento desses sintomas, Monti afirma que é hora de procurar um hospital rapidamente. "Aqui em Bauru determinamos que o Hospital Estadual é a referência para concentrar esses casos".


Hidratação


A observação de cada um dos sintomas deve vir em conjunto com outra importante medida: a hidratação. Como a maioria dos efeitos da doença é causada pela perda de líquido dos vasos sanguíneos (leia mais abaixo), o ideal é tentar suprir esse desequilíbrio.

"Não existe um tratamento para a dengue. Não existe um remédio que a cure. O ideal é repouso e muita hidratação. O paciente deve beber bastante líquido para repor a parte líquida do sangue que é perdida para os tecidos. É algo decisivo para frear a evolução da doença e até mesmo um quadro mais grave, como uma morte", completa o secretário Fernando Monti.

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Exames laboratoriais


Em relação aos exames laboratoriais, o secretário municipal de Saúde, Fernando Monti, explica que eles podem apontar a presença de dengue, entretanto, como o resultado não é imediato ("muitas vezes a velocidade da forma hemorrágica é maior que a notificação"), o fundamental é se atentar aos sintomas clínicos.

"Há o exame de hemoconcentração, que analisa a concentração sanguínea e pode identificar o tanto de parte líquida que está sendo perdido do vaso, o que sinaliza a dengue. Também existe o exame das plaquetas, que mostra o número existente no sangue. Esses dois exames nos dão certeza do diagnóstico, porém, como não ficam prontos na hora, o decisivo é mesmo se atentar aos sintomas", completa Fernando Monti.

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Terceira morte ainda é suspeita


Dentro de apenas 15 dias, Bauru registrou as primeiras mortes confirmadas por dengue hemorrágica na história da cidade. A primeira vítima foi um homem adulto, morador da Vila Garcia, que esteve internado no Hospital Estadual (HE) do dia 14 até 21 do mês passado, quando morreu. Segundo o que a reportagem apurou, era um homem de 67 anos e a morte ocorreu durante a madrugada. O nome não foi divulgado.

O segundo óbito foi esta semana. A comerciante de 47 anos Fátima Aparecida Pereira da Silva, moradora do bairro Pousada da Esperança 1, morreu na terça-feira no Hospital de Base (HB) depois de uma semana do aparecimento dos primeiros sintomas.

Outra morte ainda é investigada pela Secretaria de Saúde. O garoto Marcos Kazui Soga, de 4 anos, morreu anteontem com vários sintomas compatíveis à doença. "Ainda não confirmamos que essa morte foi em decorrência da dengue hemorrágica. Há indícios de que seja o terceiro caso, porém, estamos investigando", explica o secretário Fernando Monti.

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Hemorrágica não é ?segunda dengue?


Muitas pessoas acreditam que a dengue hemorrágica é aquela que é contraída pela segunda vez. Entretanto, o fato não é verdade. A infectologista Maristela Pastore Oliveira explica que "a dengue hemorrágica nada mais é do que a evolução da dengue normal. Por isso é importante ficar atento para que o quadro não evolua".

Ela informa que existem quatro vírus da dengue, sendo que, "quando o indivíduo pega um desses vírus, ele fica imune a ele. Porém, pode pegar qualquer uma das outras formas. Mas não quer dizer que, pela segunda vez, vai ser hemorrágica. Há uma prevalência maior que seja, porém, não é determinante".

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Uma pessoa a cada grupo de 128


Ontem, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou o registro de mais 118 casos autóctones da doença na cidade. Assim, Bauru já totaliza agora 2.671 ocorrências, sendo 2.665 autóctones e seis importados.

Considerando os dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Bauru é de 343.937 habitantes. Desse modo, a cada 128 pessoas pessoas na cidade, uma está contaminada com o vírus da dengue. Entretanto, conforme o próprio secretária de Saúde já adiantou, a quantidade pode ser bem maior, "uma vez que muitos casos não são notificados oficialmente".

Além de tomar medidas para evitar a proliferação do mosquito transmissor como manter os quintais limpos, a Secretaria de Saúde alerta para que todas as pessoas que voltarem de viagens ou mesmo as que permanecerem na cidade, ao apresentarem sintomas da doença, procurem pela Unidade Básica de Saúde mais próxima para realização dos exames e tratamento.

As equipes da Vigilância Ambiental permanecem com a operação Fura-prato em todas as regiões.

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Sintomas aparecem com a
desidratação do organismo


Além do mal-estar trazido pelo próprio vírus, a grande parte dos sintomas decorre da perda de líquido dos vasos sanguíneos. Isso já acontece na dengue normal, porém, na hemorrágica esse efeito é muito mais intenso.

Um dos sinais típico da dengue hemorrágica é a dor abdominal. "Essa dor ocorre porque esse líquido vaza de dentro dos vasos sanguíneos para os tecidos, como a barriga", fato que também explica o inchaço apresentado nas vítimas da doença.

Outro sintoma que também é consequência da desidratação é o sinal mais grave da dengue hemorrágica: os sangramentos. De acordo com Maristela Oliveira, isso pode ocorrer por dois motivos: pela própria "expulsão" do sangue ou pela precariedade na coagulação.

"Além do sangramento que ocorre principalmente nas vias aéreas, pode acontecer de a pessoa ter um leve corte e sangrar bastante. Isso ocorre porque há grande perda das plaquetas, que fazem a coagulação".

A sede excessiva é outro sintoma consequente da perda de líquidos. No caso da morte do garoto Marcos Kazui, de 4 anos, a família disse que ele só conseguia fazer um pedido: "água".

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Em mortes, Bauru já se iguala a todo o Estado


Com a confirmação das duas primeiras mortes em Bauru por dengue hemorrágica, a cidade já se igualou aos números oficiais de todo o Estado de São Paulo em 2011. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde do Estado, sem contar os números de Bauru, são apenas dois casos de morte confirmadas pela forma hemorrágica da doença.

Ainda de acordo com a assessoria, este ano, foram contabilizados 74 casos de dengue hemorrágica no Estado inteiro.

Outro número, no mínimo, estranho é a taxa de mortalidade. De acordo com o Ministério da Saúde, somente 5% dos casos de dengue hemorrágica são fatais. Entretanto, o secretário de Saúde de Bauru, Fernando Monti, afirma que essa proporção deve ser melhor analisada.

"A classificação de dengue hemorrágica é algo que varia muito. Alguns médicos consideram que determinado quadro possa ser definido como hemorrágico e outros não. Por isso, esses números podem ser ilusórios. Eles dependem do critério adotado. Aqui em Bauru, somos mais rigorosos. Consideramos dengue hemorrágica casos realmente graves, como foram os que resultaram em óbito recentemente. Desse modo, a porcentagem de mortalidade acaba sendo muito maior", completa Monti.

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