Bairros

Potencial agrícola de Bauru é subaproveitado

Wanessa Ferrari
| Tempo de leitura: 4 min

A zona rural de Bauru produz laranja, cana-de-açúcar, alface, rúcula, gado de corte e de leite, abacaxi, ovos, e mais uma variada porção de alimentos enquadrados na categoria de hortifrutigranjeiros. Produz e, muitas vezes, deixa estragar.

O cenário é triste, mas é fruto da pouca valorização das atividades realizadas na zona rural da cidade, que corresponde a 70% do território total do município, abriga 758 propriedades produtoras e desfruta de localização privilegiada do ponto de vista logístico.

Os motivos para o subaproveitamento do potencial agrícola de Bauru são muitos e vão da falta de informação, incentivo e mão de obra qualificada à dificuldade na hora de escoar a produção.

A primeira batalha começa no momento do plantio, em que o agricultor deve estar munido de informações suficientes para realizar os procedimentos da maneira correta, com os melhores produtos e maquinários, já que o solo de Bauru é arenoso e precisa de cuidados especiais.

Depois, é o momento de manter-se vigilante, de olho nas pragas e na possibilidade de intempéries, que colocam em risco toda a produção. Dependendo do tipo de cultivo, a guerra é composta por muitas batalhas e só tem fim quando o produtor consegue vender toda sua produção a um preço considerado justo.

"A cada nova colheita é um desânimo. Nós não temos incentivo nenhum para produzir e, muitas vezes, somos obrigados a vender por menos do custo para não ter cem por cento de prejuízo", reclama José Nilton Campilho, gerente de uma fazenda produtora de laranja que chegou a vender a caixa da fruta pela metade do preço de custo para evitar desperdícios.

Na opinião do presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde, a venda é a etapa mais complicada para os produtores da cidade, especialmente os pequenos. Isso porque, para tornar-se um fornecedor de qualquer grande rede de supermercados as exigências são muitas e o retorno financeiro muito pequeno.

"Na hora da venda, é exigido do produtor qualidade do produto, regularidade no fornecimento e preço baixo. Como atender a tantos requisitos se o agricultor tem de caminhar com as próprias pernas, sem ajuda de ninguém? Falta interesse e investimento político na zona rural de Bauru", critica Maurício.

Um exemplo dado por ele para ilustrar a situação é o caso da merenda escolar. Recentemente, ficou determinado por lei que pelo menos 30% dos alimentos utilizados na merenda deveriam ser provenientes da produção de agricultores familiares do município.

"Teoricamente, a notícia era boa. O que os agricultores não esperavam é que os preços que o governo queria pagar pelo alimento fossem tão incompatíveis com a realidade", conta.

Adagmar Grimm Streger, produtora de ovos e leite orgânicos, chegou a participar de uma das reuniões sobre o projeto da merenda escolar, mas desistiu logo no início.

"Não tem condições. Eu vendo uma dúzia de ovos orgânicos grandes por R$ 4,50. O município queria pagar pouco mais de R$ 1,80. É absurdo!", reclama, indignada.

Outra reclamação por parte dos agricultores e a falta de mão de obra qualificada. Na opinião deles, o governo deveria incentivar e investir na formação de profissionais para atuar na zona rural das cidades.

"Em Bauru, a cultura é outra. O foco é na zona urbana e a zona rural é deixada de lado. Quando deveria, no mínimo, haver um equilíbrio, já que a zona rural corresponde a 70% do município", pondera Lima Verde.

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Se plantando...


Já diz o ditado: se plantando, tudo dá. Em Bauru, não é diferente. A cidade tem tudo para ser destaque no Estado na produção de hortifruti, mas, por falta de incentivo, a produção é limitada e considerada mediana.

Uma das culturas que tem destaque na cidade é a de laranja. Atualmente, Bauru tem aproximadamente 1.300.000 pés da fruta o que significa que enfileiradas, as árvores somam 2.600 km, distância entre Bauru e Maceió, Capital de Alagoas.

Outro cultivo em destaque na cidade é o de cana-de-açúcar. Embora cresça a passos mais lentos que o plantio de eucaliptos, ela está em constante evolução. Ao todo a cidade produz 153 mil toneladas do produto. Se toda a produção de cana de Bauru for transformada em etanol, será possível encher 5,5 piscinas olímpicas. Se for transformada em açúcar, corresponde a 18.360.000 quilos do produto, número suficiente para abastecer 360 mil brasileiros durante um ano.

As pastagens também são significativas. Elas ocupam 37 mil hectares dos 56 mil hectares que compõem a zona rural da cidade. Ao todo, são 45 mil animais destinados à pecuária de corte e 2 mil de leite.

De acordo com o secretário municipal da Agricultura e Abastecimento (Sagra), José Carlos Zito Garcia, em Bauru a produção de hortaliças é, em maior parte, feita por pequenos produtores, mas ainda assim é expressiva.

"Bauru tem deficiência apenas no segmento de tubérculos, que são legumes e raízes. Esta produção não é suficiente nem para abastecer a cidade. Creio que os produtores não arriscam por medo de não ter mercado, o que não é verdade. A Sagra quer investir em ciência e tecnologia para ampliar este cenário", explica Zito.

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