Regional

Dificuldades motivaram fundação de Templo

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 5 min

A construção do templo Budista de Cafelândia foi motivada pelas dificuldades que os primeiros imigrantes nipônicos encontraram na empreitada feita na região. O surto de malária, o fenômeno da seca, os ataques de gafanhotos, a perda do líder e do apoiador fez com que a colônia voltasse sua atenção para a união, solidariedade e para a parte espiritual a fim de driblar o desolamento e prosseguir na luta, especialmente porque não tinham comunicação com a Pátria.

Após várias reuniões, os interessados resolveram construir o Templo (Oterá) Budista para fazer os cultos e pedir a proteção divina. O terreno foi doado por Matsujiro Shiguemoto e por meio de um mutirão foi construído um imóvel de madeira que media 6x10, inaugurado em 1933.

Batizado de "Shinshuji", o templo se tornou pequeno para tantos adeptos e os membros da Organização Budista da colônia resolveram construir um outro local. Em 1950 foi inaugurado o novo local de orações. É o mesmo que existe até hoje, "Heianzan Komiyoji".

Instalado no bairro das Três Barras, o templo encanta pela beleza de suas linhas arquitetônicas externas e pelo capricho e cuidado com que são tratados os adereços interiores. Ele atrai adeptos da religião e turistas que desejam buscar um pouco da história dos nipônicos no Brasil.

O atual presidente da Associação Budista de Cafelândia, Massakatu Iano, frisa que para visitar é necessário agendamento, uma vez que o templo fica fechado e somente a diretoria pode assessorar as visitas. "Um resort de Lins, cidade vizinha, costuma agendar visita de turistas. Nos próximos dias eles vão realizar um festival de karaoquê e já agendaram visitação turística."

O presidente avisa que o templo abre quando tem os ?ofícios? (missa) e em comemorações anuais, como a data de nascimento de Buda, falecimento do fundador do budismo no Japão, dentre outras. "No budismo temos cerimônias pontuadas, como estas que citei. Temos o batismo que chamamos iniciação. Aqui não fazemos meditação."

Japoneses e descendentes são os adeptos à religião

Na época da fundação do templo de Cafelândia a frequência era grande. Com o passar dos anos, os filhos dos japoneses estudaram e foram embora da região, a maioria para a Capital. Hoje, o número de frequentadores é bem menor, explica o presidente da Associação Budista de Cafelândia, Massakatu Iano.

"Naquele tempo, os japoneses que moravam na zona rural frequentavam. Eu mesmo conheci o budismo através de meus pais, mas meus dois filhos não seguem a religião. Eles se formaram e foram trabalhar em São Paulo. Não frequentam e não seguem, embora eles tenham ido ao templo na infância. O público jovem e criança são minoria nas cerimônias do templo."


Desapego marca a história de Buda

Buda era Siddhart Gautama. Nasceu no século VI a.C., em Kapilavastu, norte da Índia, hoje Nepal. Nasceu príncipe e foi levado por seus pais a um templo, a fim de ser apresentado aos sacerdotes. No momento da apresentação surgiu um homem que tinha dedicado toda a sua vida à meditação. Ele tomou o menino em seus braços e profetizou: "este menino será um grande entre os grandes."

Nas palavras do sábio, Siddahart seria um poderoso rei ou um mestre espiritual que ajudaria a humanidade a se ver livre dos sofrimentos. A fim de livrar o filho das profecias, os pais superprotegeram a criança e afastaram-a dos estudos filosóficos.

Ainda adolescente, aos 16 anos, o príncipe casou com a prima Yasodhara com quem teve seu único filho, Rahula. Curioso para saber como era a vida além dos portões do palácio, aos 29 anos ele decidiu sair e descobriu que o povo sofria muito.

Então, ele foi buscar uma resposta para aquele sofrimento. Abriu mão da família e fundou o budismo, a doutrina que ensina o homem a buscar respostas em seu interior. "O budismo nasceu quando Buda saiu do palácio e viu as mazelas de seu povo. Ele foi procurar saber o porquê de tantas doenças e sofrimentos. Ele se transformou com a iluminação. Procurou a meditação para salvar o ser humano", explica o presidente da associação budista de Cafelândia, Massakatu Iano.

Para ele, os sofrimentos nascem do desejo. "O ser humano deseja muita coisa. Eliminar o desejo é sinônimo de felicidade. É a possibilidade de ser feliz. Sem ele é possível ter saúde. É difícil eliminar. Alguns estudiosos chegaram a conclusão que é impossível. Mesmo assim, com muito esforço é possível minimizar os desejos e viver bem."


Local sagrado

Três altares montados no centro do templo demonstram o respeito e a devoção dos budistas de Cafelândia pela religião. No altar central, principal, está a figura de Buda, a sua direita está o altar do príncipe Shotoku, um budista fervoroso a quem foi atribuída a frase: "Nada é real, somente o Buddha". Do lado esquerdo, uma homenagem aos fundadores do local.

Massakato Iano frisa que no início, o budismo não era bem aceito no Japão e somente após a atuação do príncipe é que passou a ser melhor vistos pelos japoneses, mas até hoje não é a religião oficial. Para subir ao altar é necessário tirar os sapatos, segundo Iano. A imagem de Buda feita em madeira e pintada em dourado chama a atenção do visitante. É a mesma desde a fundação do templo. "Muitas acreditam que as imagens e as peças são em ouro. Tivemos até um furto. Uma das peças está faltando um pedaço. O ladrão acreditou que era o metal precioso."

Comentários

Comentários