Polícia

Mulher mata o marido queimado

Vitor Oshiro e Mariana Cerigatto
| Tempo de leitura: 6 min

Em meio a paredes chamuscadas e uma cama queimada, uma vida consumida pelas chamas. Foi o que restou de um relacionamento iniciado há seis meses e que terminou em tragédia na noite de anteontem. Na ocasião, o borracheiro José de Oliveira Silva, de 73 anos, morreu carbonizado em sua residência, localizada no Jardim TV, em Bauru. O caso ganha contornos mais trágicos, uma vez que, após inventar uma história "fantasiosa", a própria esposa da vítima, a dona de casa Solange Cabral do Nascimento, 31 anos, confessou ter ateado fogo no marido. A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), investiga a possibilidade de o crime ter sido motivado por dinheiro.

O incêndio ocorreu no imóvel localizado na quadra 1 da rua Seredonio Francisco Marques Prado. Após as chamas se propagarem, quem pediu socorro foi a própria Solange do Nascimento. Entretanto, já nesse momento, as suspeitas começaram a recair sobre ela. Segundo a polícia e testemunhas, antes de pedir ajuda para salvar o marido, ela pediu que retirassem primeiro o carro da garagem.

O Corpo de Bombeiros foi acionado, porém, a vítima já havia sido completamente carbonizada. Solange chegou a ser socorrida e encaminhada ao Pronto-Socorro Central (PSC), onde foi medicada e liberada.

Para a reportagem do JC e para os policiais, ela alegou inicialmente que a casa havia sido invadida por uma dupla, que portava um maçarico. Segundo sua versão, o marido e ela dormiam em quartos separados. "Eu acordei com o José gritando socorro. Aí, na hora que eu abri a porta do quarto, já estava pegando fogo pela casa toda e ele disse para eu correr", relatou a mulher, contando ainda que um dos suspeitos segurava a vítima.

De acordo com a esposa de José, os dois desconhecidos teriam fugido do local escalando e pulando o muro dos fundos da residência.

Foi exatamente essa história que levantou inúmeras suspeitas na polícia. Segundo o delegado Cledson do Nascimento, da DIG, além de o fato da mulher ter pedido "socorro" primeiro para o carro, toda a versão inicialmente apresentada estava repleta de incongruências.

"Na casa, não havia sinais de arrombamento e ninguém viu qualquer suspeito no local. Ela disse que os suspeitos fugiram pulando o muro. Ele é cercado de uma forte proteção de arame, que estava intacta após o ocorrido. O muro também não apresentava nenhuma marca, apesar de o local ser de terra e ele ser branco, o que indicava não ter sido escalado por ninguém", explica.


Reviravolta


Já durante a madrugada no PSC, os policiais entrevistaram Solange, que sustentava a primeira versão para o ocorrido. Pela manhã, ela foi conduzida à DIG, onde, no meio da tarde, confirmou as suspeitas da polícia e confessou o crime.

"Durante o curso das investigações, depois de ter recebido conselhos de duas irmãs, ela confessou que a história inicial havia sido inventada. Revelou que esperou o marido dormir, forrou o quarto com jornal e ateou fogo no cômodo", conta o delegado.

Segundo Cledson do Nascimento, apesar de as investigações não descartarem motivação financeira, Solange alega que o motivo foi o intenso apetite sexual do marido, de 73 anos. "Ela diz que queria a liberdade. Disse que o marido queria manter várias relações sexuais e que ele não aceitava quando ela se recusava. Também afirmou que várias vezes ele a ameaçava de morte".

Anteontem, segundo o que consta na confissão de Solange, José Oliveira teria dito que, no dia seguinte, ao chegar do trabalho, iria manter relações sexuais com ela de qualquer maneira. "Ela contou que a vítima, logo que percebeu o fogo, tentou fugir, porém, acabou caindo. Foi quando ela saiu da casa", completa o delegado da DIG, Cledson do Nascimento.

Foi expedido o mandado de prisão temporária para a acusada e, ainda ontem, ela foi conduzida para a Cadeia Pública de Avaí.

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Esposa já tentou matar
o idoso, suspeita família


Para os familiares de José Oliveira, o crime certamente fora premeditado. E, segundo eles, essa não seria a primeira tentativa de matá-lo. Eles acreditam nisso pois a vítima foi intensamente agredida por dois homens no último dia 3.

Na ocasião, o idoso, que caminhava de volta para a casa com Solange do Nascimento após ter ido a uma igreja no bairro, foi abordado e agredido. "Um desconhecido me segurou e também começou a bater nele, agredi-lo, pedindo dinheiro e celular, mas não levaram nada", relatou a própria Solange ao JC, antes de confessar o crime na tarde de ontem.

Entretanto, os familiares acham que essa agressão já teria sido uma tentativa de homicídio premeditada pela mulher. "No dia em que ele foi morto (anteontem), conversamos com ele e levantamos essa suspeita. Na ocasião, ele queria ir de carro, porém, a Solange insistiu para irem a pé para a igreja. Ele estava com R$ 400,00 e não levaram nada. Acho que somente não o mataram ali pois um carro passou", afirma Agnaldo Alexandre Silva, 41 anos, filho de José Oliveira.

Os familiares também afirmam que ela seria garota de programa, entretanto, a polícia não confirma o fato. "Achamos que meu pai ficou ?endeusado? por ela e não percebeu o que estava ocorrendo. Ele tinha dado várias joias para ela, inclusive um cordão de R$ 7 mil. O crime certamente foi premeditado e motivado por dinheiro", completa o outro filho da vítima, Reginaldo Silva, 39 anos.

A Polícia Civil vai investigar se a agressão ocorrida há dez dias tem relação com o homicídio. Caso confirme, é provável que outros suspeitos sejam presos.

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Investigação não descarta que dinheiro
pode ser a principal motivação do crime


O fato de Solange do Nascimento ter pedido aos vizinhos que retirassem o carro da garagem antes mesmo de solicitar socorro ao marido foi o início de todas as suspeitas sobre a veracidade da versão apresentada pela mulher. Esse ponto também pode indicar verdadeira a motivação do crime: dinheiro.

Apesar de ela alegar que ateou fogo no marido após ter sido ameaçada de morte e para se "libertar" do ávido apetite sexual da vítima, a polícia não descarta que haja causas financeiras. O carro que foi salvo, um Ford Ka, placas EVZ 1894, de Bauru, havia sido comprado recentemente e registrado em nome de Solange.

"Também há outros indícios que estamos investigando. Ela havia aberto uma conta bancária recentemente e há suspeitas de que estava fazendo pequenos desvios do dinheiro do marido para essa conta bancária", explica o delegado da DIG, Cledson do Nascimento.

O advogado de Solange, José Roberto de Mattos, disse que o fato de ela ter inventado uma história fantasiosa não a complica. "Vamos pedir a liberdade, porém, ela mesma confessou o crime. Vamos atuar na defesa, mas é um crime hediondo e que foi confessado", conclui o advogado.

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