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O Chalaça e a Independência do Brasil

Bruno E. Sanches
| Tempo de leitura: 3 min

Quando lemos uma biografia, temos a impressão (na maioria das vezes) que tanto o escritor quanto aquele que fala de si tem como proposição destacar as suas benfeitorias, os seus atos de heroísmo, além de traçar o caminho de toda a sua vida, para explicar quem ele foi, ou é. No caso deste livro de Torero (O Chalaça), a auto-biografia do conselheiro de D. Pedro I toma outra perspectiva: a do anti-herói. Francisco Gomes da Silva traça a importância da sua vida somente a partir do seu inusitado encontro com D. Pedro I,  quando ambos se encontraram em um botequim - precisamente em um duelo de cancioneiros bêbados.

Chalaça então põe-se a meditar, em seu diário (encontrado por Torero após localizar um baú de posse de sua tataraneta), sobre diversos assuntos, demonstrando em muitos momentos o porquê de seu apelido, "Chalaça". Segundo o Dicionário Houaiss: 1) dito ou feito espirituoso, zombeteiro; escárnio, gracejo, motejo. 2) dito ou gracejo de mau gosto; chocarrice.

Ou seja, há muitos episódios narrados pelo Chalaça que são motivos de riso, por quem está acompanhando a narrativa - nós, os leitores. Os motivos são diversos: o autor cita uma fase de sua vida em que está na França e tem um relacionamento com uma baronesa, que sofre um mau súbito e acaba falecendo. Chalaça acompanha todos os fatos posteriores à morte da baronesa, crendo ser um dos beneficiários do espólio. O que não ocorre, para a desventura de Chalaça, que estava em más condições financeiras, na época.

Outro episódio marcante (e que faz parte da História brasileira) é o episódio da Independência do Brasil. Através do livro de Torero, ficamos a par de alguns pormenores do dia em que foi decretada a Independência. Como alguns já sabem, neste fatídico dia (importantíssimo de nossa História) a comitiva de D. Pedro I seguiu até a cidade de Santos, "em parte para  visitar parentes do mesmo José Bonifácio [ministro de D. Pedro], em parte para averiguar o estado de algumas fortificações".

Ocorreu que a comitiva se fartou na casa dos parentes deste ministro de carne de porco, ocasionando uma enorme diarréia em boa parte dos homens que acompanhavam D. Pedro I, inclusive o próprio. A independência foi decretada, então, às margens do Riacho Ipiranga, intercalada com as diarréias. A idéia de D. Pedro I era declarar a Independência na capital da província (São Paulo), mas as contrações estomacais não possibilitaram tal feito.

Portanto, trata-se de um livro interessante, sobre um personagem bastante peculiar que viveu períodos no Brasil, Portugal e  França. Dada à comemoração da Independência do Brasil, creio ser uma leitura necessária, para que desmitifiquemos e desmistifiquemos a concepção positiva (concreta) da História, que apenas trabalha com datas e idéias fechadas sobre acontecimentos históricos.

Felizmente, através deste resgate do autor José Roberto Torero, podemos perceber que a História não é feita tão somente de datas, mas sim de vidas e particularidades - mesmo que excêntricas, como a do virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça. Bom para se pensar neste sete (7) de Setembro!


O autor, Bruno E. Sanches, é colaborador de Opinião - Msn: brunochair@hotmail.com - Blog?s - http://brunocadera.blogspot.com

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