Bairros

Professora da USP vai para OMS

Bruna Dias
| Tempo de leitura: 4 min

Quioshi Goto

Segundo Marília, em 2012 será lançado um novo  manual de estudos em âmbito mundial

Desde a década de 70, estudos comprovam que o consumo de fluoreto - conhecido popularmente como flúor -, na infância pode gerar danos irreparáveis aos dentes. Foi se dedicando nesta área de estudo que a professora doutora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, titular de bioquímica e cariologia do departamento de ciências biológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da Universidade de São Paulo (USP) agregou-se a um grupo de estudiosos e foi convidada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para revisar um manual sobre a utilização da urina que tem como objetivo avaliar a exposição de crianças ao flúor, apesar de também ter informações sobre adultos.

A reunião para um rápido reajuste preliminar no antigo manual de 1999 aconteceu nos dias 1 e 2 de dezembro, na sede da OMS em Genebra, na Suíça. “Nós ficamos durante dois dias refazendo este manual que estava muito antigo. Agora durante 2011 iremos padronizar os estudos para que em 2012 seja lançado o novo manual de estudos”, disse.

Marília explica que grande parte dos estudos feitos do consumo de fluoreto são medidos pela análise da água de cada cidade. Entretanto, estados como a Paraíba, que possuem o fluoreto em grande quantidade naturalmente na água, o estudo é feito com a coleta de urina durante 24h (leia mais abaixo).

“Eu comecei os estudos na área desde 1999, quando fiz o meu doutorado. Desde 1970 começou a se discutir o acréscimo de flúor na água, já que o excesso do componente começou a causar diversos problemas de manchas, enfraquecimento dos dentes e até cáries”, acrescentou a professora. Desde 1974 Bauru possui um programa de fluoretação da água que fica sob a responsabilidade do Departamento de Água e Esgoto (DAE).

O convite para ser consultora da OMS foi uma surpresa, segundo a professora. “A gente sempre está em contato com professores do mundo todo em congressos internacionais. Acho que foi daí que eles conheceram meus trabalhos e então me chamaram para fazer parte da equipe de revisão do manual. Estou muito surpresa e feliz”.

 

Bauru

No ano de 2004 o laboratório de bioquímica da FOB começou a fazer o controle dos teores de fluoreto na água nos 20 pontos existentes na cidade. As datas das coletas são sorteadas no início do ano. São coletadas três amostragens em cada ponto. Os níveis de fluoreto devem estar entre 0,6 e 0,8 miligramas de fluoreto por litro de água. “As nossas análises mostram que entre 80 e 90% das amostras estão dentro do normal”.

O estudo da urina para saber a dosagem de fluoreto ingerida pelas crianças e adultos diariamente é utilizado já que alguns alimentos também contém o componente. “Cerca de 40% a 60% do fluoreto ingerido diariamente é excretado na urina, por isso é possível fazer esse estudo”, pontuou. O consumo ideal de fluoreto diariamente deve ser entre 0,05 e 0,07 miligramas por quilo de peso corporal.

 

Fluoreto x cáries

A professora, agora consultora da OMS, esclarece ainda que, em grandes quantidades, o fluoreto retarda o processo das cáries, que acontece quando as bactérias consomem o açúcar dos dentes produzindo um ácido que descalcifica o esmalte do dente.

A dosagem do fluoreto é importante para evitar problemas como a fluorose dentária, que só acontece em criança, sendo um defeito de desenvolvimento do dente, quando se tem uma ingestão excessiva de fluoreto no momento em que o dente está sendo formado, no caso da dentição permanente é de 1 ano até 7 anos de idade.

“Toda mancha nos dentes é um sinal de alerta, mesmo a mancha branca pode ser uma cárie. Por isso é importante consultar o dentista de seis em seis meses. Ele irá indicar o creme dental correto e fazer a reposição de flúor necessário”, ponderou a professora doutora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, titular de bioquímica e cariologia do departamento de ciências biológicas da FOB da USP.

 

Mundo

O manual da OMS será utilizado em todos os países do mundo que usam fluoretação sistêmica (colocam flúor em algum veículo de uso coletivo) para a implementação dos programas e depois monitorar se esses programas continuam sendo feitos adequadamente.

“Alguns países como o Chile e a Tailândia adicionam fluoreto no leite. Já a Jamaica, Suíça, Colômbia por exemplo, acrescenta no sal. Tem que ter o controle de ingestão porque não é só na água que tem flúor. Essa água fluoretada pode ser usada em alimentos, bebidas. Dentre os métodos de fluoretação coletiva, o mais apropriado mesmo é o da água”, frisou a professora doutora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, titular de bioquímica e cariologia do departamento de ciências biológicas da FOB da USP.

Nos locais onde a água contém fluoreto em excesso,  necessário fazer o processo reverso, a desfluoretação, processo caro, segundo Marília. Por isso, em regiões carentes, como a Paraíba, o índice de problemas dentários decorrentes do excesso de flúor são mais evidentes.

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