Regional

Itapuí tem casarões do auge do café

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 7 min

Itapuí ainda era Vila Bica de Pedra quando o primeiro casarão foi construído. Um dos primeiros em alvenaria, uma vez que as residências, nessa época, eram de taipa ou barro. Foi erguido pelo imigrante português Manuel Rodrigues Ferreira, o mesmo que construiu a capela, em 1890. “A capela ficou pequena e em 1919 teve início uma nova construção, hoje matriz. A obra foi concluída em 1924 com a colocação dos sinos e do relógio.”


O imponente casarão hoje pertence ao grupo Itabom e não serve mais de moradia. Está fechado. O imóvel registra em seu “currículo” residência oficial de dois prefeitos. No município não há prédios tombados, mas segundo o historiador André Ruiz, o empresário Pedro Poli conserva o imóvel.


Pelo pouco que dá para observar de fora, o casarão da Praça da Matriz mantém sua arquitetura. No piso, ladrilhos hidráulicos que remetem à época do café, material altamente valorizado nos dias atuais. O desenho contido neles faz crer que foram importados de Portugal.


Esse casarão foi construído, de acordo com Ruiz, para que fosse moradia de José Antonio da Silva Fonseca, filho do fundador de Itapuí,  Antonio Joaquim da Silva Fonseca. Quando o imóvel ficou pronto, Antonio Joaquim da Silva Fonseca já havia morrido


Até 1914, o prédio serviu de moradia para José Antonio Fonseca e sua família. Depois da morte dele, o casarão mudou de dono. Foi comprado pelo fazendeiro  Antonio Ferraz Prado, que o reformou e ampliou, em 1928. O filho de Antonio Ferraz Prado, o Antonio Ferraz Prado Filho, foi prefeito da cidade por vários mandatos. Ele também tinha fazenda e na cidade, morava nessa casa. Na época, era residência oficial.


Na década de 40, esta mesma casa abrigou uma policlínica. Vários médicos atendiam no local, entre eles o ex-prefeito José Miraglia e o médico Álvaro Beltran de Souza. Dez anos depois, já na década de 50, o imóvel novamente mudou de proprietário. Francisco Cesnik passou a morar no imóvel. Ele também foi prefeito.


Francisco morreu e o imóvel foi vendido para o grupo Itabom. Pedro Poli é o atual dono. “Hoje, não mora ninguém na casa, que é preservada e conservada pelo próprio dono. Ele não mexeu no estilo”, comenta o historiador.


Do lado dessa casa, outro casarão foi erguido pelo mesmo construtor, Manuel Rodrigues Ferreira. “Era 1929 quando Ferreira comprou o terreno. Ele morava na fazenda e construiu a residência. A família dele morou muitos anos neste imóvel. Depois, passou a ser residência do médico Álvaro Beltran de Souza.”


Com a grande movimentação bancária, afinal era o auge do café, o Banco de São Paulo se instalou na cidade e um outro prédio, na mesma praça foi erguido. “Hoje, ele conserva a fachada, mas foram feitas reformas internas. O prédio abriga a Câmara Municipal de Itapuí.”

 

Estilo francês

O jardim central da cidade de Itapuí seguiu o estilo europeu, especialmente o francês, diz André Ruiz. Para construí-lo, em 1928, os cafeicultores arrecadaram dinheiro entre eles. “Á época era tudo terra. O calçamento foi feito a partir de 1941. Como ficava próximo da capela, o jardim uniu as duas praças, a da matriz e a do governador Pedro de Toledo. Em 1935 havia um coreto.”


Ao redor do jardim, o comércio se desenvolveu e o antigo mascate Jorge Chammas instalou seu comércio em 1894. Portas de ferro pesadas, janelas de madeira maciça e arquitetura imponente marcaram a época, relembra o historiador.


O prédio dos Chammas abrigou a loja dele. “Por muitos anos, o prédio abrigou toda a família libanesa. Após a morte do comerciante, a família foi embora de Itapuí para São Paulo e muita gente morou no prédio. Atualmente, ele está abandonado com perigo de desabamento, está muito rachado.”

 

Capital do calçado feminino tem mais de 400 imóveis preservados


Jaú é considerada a capital do calçado feminino e na região figura com uma das que mais preserva sua história através de imóveis. São 451 ao todo entre casas, praças, escolas e igrejas preservados por lei. A maioria está instalada na região central da cidade e serve de atrativo turístico. Há um roteiro que contempla a visitação externa.


“Oferecemos passeios gratuitos pela Secretaria de Cultura e Turismo. Nesse roteiro, destacamos nove construções”, explica Júlio César Polli, responsável pelo roteiro.


A casa da rua Major Prado, 564, é um imóvel muito importante para o patrimônio histórico e arquitetônico da cidade. Seu estilo é eclético, com forte influência neoclássica. “Sua distribuição no lote é tradicional – a velha casa com porta central que dá para a rua e distribui a dois cômodos principais. Na fachada, chama a atenção os frisos com características do neoclassicismo, e as janelas que tem motivos nos vidros desenhos tipicamente “art noveau”, com excesso de cursas. A casa mantém apenas a fachada preservada seu fundo foi inteiramente reformado abrigando hoje a Casa Paroquial da Matriz Nossa Senhora do Patrocínio.”


Um chalezinho com telhado muito inclinado com forte influência europeia é uma construção rara e uma das mais antigas na cidade. A Casa de Constantino Fraga fica na rua Campos Salles, 183. “No Museu Municipal há uma foto de 1888 onde ela aparece imponente, embora dentro do ecletismo é uma edificação tipicamente de países alpinos. Casas como essa podem ser encontradas ainda no Rio de Janeiro, mas são raras. Atualmente, o prédio está sem utilização.”


 A arquitetura eclética de predominância neoclássica marca o imóvel localizado na rua Edgard Ferraz, 547, a Casa Edgard Ferraz. “Ela foi construída na primeira década do século 20. Na janela central existe uma pequena sacada onde é possível observar dois suportes para mastros de bandeiras.”


O casarão da rua Edgard Ferraz, 579, a Casa de Osório Ribeiro de Barros Neves, sofreu alterações durante a sua existência. “A varanda, que era de ferro e vidro, foi substituída pela atual, feita em cimento. Como quase todas as casas do centro histórico, é uma construção de arquitetura eclética do início do século 20.”


A antiga agência do Banco do Brasil, na rua Amaral Gurgel, 387, é outro prédio preservado. Segundo Poli, seu estilo é clássico, com influência neoclássica. “Originalmente, possuía um torreão – espécie de torre ou cúpula no alto do edifício – utilizado para destacar os prédios de esquina. Ressalta-se ainda como riquezas do prédio as colunas em capitel compósito, um arremate heterogêneo que mistura o jônico e o coríntio – tem as colunas embebidas em parede e a bossagem imitando pedra em sua parte inferior. É um prédio com decoração contida, muito aristocrática.”

Lençóis Paulista ainda conserva prédios históricos

 

Na cidade de Lençóis Paulista também há prédios históricos preservados. Um deles é o que atualmente está ocupado pelo museu Alexandre Chitto, explica o diretor de cultura, Nilceu Bernardo. “O prédio é um dos mais históricos da cidade e a data de sua construção se perde no tempo. Por suas características arquitetônicas, supõe-se ser remanescente, da virada do século 20. Ele foi construído perto do rio Lençóis. A frente ficou voltada para a rua Tibiriçá, hoje Coronel Joaquim Anselmo Martins, numa localização privilegiada, no centro da cidade.”


O imóvel pertenceu a várias famílias tradicionais da cidade, o que vale o destaque  do estilo de sua construção, com cômodos espaçosos, terraços, portas de madeira ornadas com vidros claros e curvaturas que enriquecem o acabamento. “Essas portas estão em perfeito estado de conservação e são destaques no Museu.”


Segundo Bernardo, na parte externa ainda se conservam molduras em alto relevo, como balaustres, contornos no alto dos vitrôs, medalhões e rococós. “Em 1932, na gestão do prefeito Raul Gonçalves de Oliveira, o prédio passou a ser sede da Prefeitura Municipal justamente por possuir muitas dependências e salas espaçosas.”


O poder municipal continuou ali instalado até 1980, quando o prefeito Ézio Paccola construiu uma nova sede para a prefeitura, na Praça das Palmeiras. Em 1996, no mandato do prefeito Adimilson Vanderlei Bernardes, o Museu Histórico e Cultural Alexandre Chitto, que desde a data de sua inauguração, em 23 de abril de 1988 fora abrigado na sede da antiga destilaria,  foi transferido para este prédio, que inicialmente foi uma casa de família, paço municipal oficina de artesanato e, hoje, a sede do museu, uma velha aspiração do Patrono.



Em 2003, na gestão do prefeito José Antonio Marise, o prédio do museu passou por grande reforma, o que valorizou ainda mais os espaços que passaram a ser adaptados aos usos e necessidades dos tempos atuais.


“Os espaços ficaram assim definidos: salão principal, sala do patrono, sala, quarto, sala sacra, sala do comércio e, em um espaço anexo adaptado, a sala dos médicos. No mesmo espaço estão objetos de uso na cozinha como fogão, geladeira, peças de ferro etc. Em um andar mais abaixo, um espaço que abriga peças diversificadas como uma coleção de mineralogia, ferramentas antigas de uso geral, um cantinho para recordações da escola e do esporte.”



 

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