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Ninguém se banha no mesmo rio duas vezes

Wellington Balbo
| Tempo de leitura: 2 min

Heráclito, um dos filósofos pré-socráticos mais influentes afirmava que ninguém toma banho no mesmo rio duas vezes. O nobre pensador queria dizer com isso que tudo flui e segue seu ciclo natural. Os momentos são sempre únicos e as águas da vida não mais retornarão, porquanto já fluíram. Ou seja, os momentos não mais se repetirão, pelo menos não da mesma forma, pois serão diferentes uns dos outros. Daí a necessidade de vivermos intensamente cada segundo da existência, porque não voltaremos a tomar banho naquele rio que, não viveremos mais da mesma forma aquele instante que passou e naturalmente seguiu seu fluxo.

E quantas pessoas passam pela nossa vida. Quanta gente cruza nosso caminho fazendo-nos banhar nos rios de suas sabedorias, compartilhando conosco suas próprias vivências. Não fossem essas criaturas que pousam em nosso aeroporto existencial e muito provavelmente estaríamos estagnados, parados marcando passo na existência.

Aproveitar os momentos, portanto, equivale a dedicar atenção especial àqueles que estão ao nosso lado em determinadas circunstâncias. Porém, muitas vezes, esquecidos de que esse rio passa, nós não damos o devido valor ao momento. Atendemos ao celular em meio ao desabafo do amigo, passamos mensagens ininterruptamente sem perceber que em nossa frente está alguém que merece atenção e, não bastasse isso, olhamos várias vezes ao relógio, como se quiséssemos dispensá-lo, e a vida fosse um intenso correr, correr e fazer as coisas da forma mais rápida possível, para depois fazer mais coisas e mais coisas... Tornamo-nos, assim, em algumas ocasiões reféns do relógio. Há horário pra tudo: almoçar, jantar, ir pra escolar, trabalhar, mas certamente esquecemo-nos do que disse Heráclito: de que não tomamos banho no mesmo rio duas vezes. E lá se vão as oportunidades. E nossos amigos seguem seus destinos deixando saudades e provocando exclamações de nossa parte: "Ah, se eu soubesse que ele iria partir teria dedicado mais atenção, teria amado mais, me empenhado mais"!

Uma pena esquecermos de que a existência na Terra é curta, apenas um sopro que passa rapidamente, uma simples brisa na noite da eternidade. Quando percebemos, pronto, acabou-se o que era doce. E fica a saudade e o gostinho de que faltou alguma coisa. Talvez tempo, talvez um pouco mais de amor e dedicação ao próximo mais próximo... Ah, mas este rio já passou, suas águas fluíram e não mais retornam. Agora não adianta mais chorar o leite derramado, ou, melhor dizendo, não adianta mais chorar o rio derramado... Eis a vida e sua dinâmica própria, ensinando-nos a banhar-nos de corpo e alma nas águas que passam por nós; amigos, familiares, momentos felizes... eis as águas que nos lavam e proporcionam-nos o progresso. Vamos aproveitar esse rio?

O autor, Wellington Balbo - wellington_balbo@hotmail.com, é colaborador de Opinião

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