Ainda que não esteja vivendo seu melhor momento, a indústria bauruense ampliou suas relações comerciais com a Bolívia no último ano e elevou em 41% suas exportações para aquele país. O resultado é reflexo direto do aumento da comercialização de barras de ferro e aço, especialmente pela distribuidora de uma das maiores empresas produtoras de aço da América Latina, a Arcelor Mittal Brasil.
Instalada no Distrito Industrial 3, a distribuidora local responde, sozinha, pelo maior volume de exportações para a Bolívia em todo o território nacional, à frente de empresas como a Petrobras em Araucária (PR), Dedini e Caterpillar (ambas em Piracicaba), entre outras. Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento Industrial brasileiro, a Arcelor Mittal também é responsável por grande parte dos US$ 45,213 milhões exportados de Bauru aos bolivianos entre janeiro e maio deste ano.
No mesmo período do ano passado, o montante não ultrapassou os US$ 32,048. Além da distribuidora siderúrgica, figuram como principais negociadores locais junto à Bolívia a Tilibra, a Plasútil, a Oest-Fer (comércio de metais), a Tudor (baterias) e a Bionnovation (produtos biomédicos).
De acordo com o levantamento da Secex, o volume remetido à nação sul-americana é, sozinho, maior do que a soma de tudo o que a cidade exporta para os demais países. Ao todo, as remessas ao redor do mundo renderam US$ 86,261 milhões à indústria bauruense entre janeiro e maio de 2012.
O dado curioso é que o município não possui tradição no ramo de siderurgia – ao menos em fábricas voltadas ao setor. Mas, por sua posição geográfica estratégica, acaba por atrair distribuidoras de empresas interessadas em enviar suas mercadorias para países da América Latina por meio da ferrovia.
“E, por mais que o produto não tenha sido fabricado em Bauru, como sai do país por aqui, a exportação acaba sendo registrada com o CNPJ da empresa local”, explica o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Bauru, Andrey Valério. Ontem, o JC contatou a Arcelor Mittal para questionar o motivo do crescimento das exportações, mas a reportagem foi informada de que a empresa não poderia de manifestar sobre o assunto, neste momento, por questões estratégicas.
Ao todo, a cidade exportou US$ 36,506 milhões em barras de ferro e aço nos cinco primeiros meses de 2012, valor 34% maior do que o obtido no mesmo período de 2011. Mas, enquanto o setor de siderurgia comemora os resultados, o setor industrial como um todo caminha a passos lentos no município.
Entre janeiro e maio, o ritmo de exportações cresceu apenas 9,8%, enquanto o de importações caiu 15,3%. “De maneira geral, o mar não está para peixe”, lamenta o diretor do Ciesp de Bauru, Domingos Malandrino.
Exporta x importa
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento Industrial brasileiro, os principais compradores dos produtos da indústria bauruense são Bolívia, Paraguai, Argentina, Holanda e Argélia. Já os maiores países fornecedores de insumos para a cidade são Argentina, México, Estados Unidos, China e Itália.
Os principais produtos exportados são, pela ordem, barras de ferro e aço, baterias, gomas de mascar, carnes desossadas de bovino e abacates. As mercadorias mais importadas são produtos a base de borracha para fabricação de gomas de mascar, gomas de mascar sem açúcar, mentol, maquinários e chapas para fabricação de baterias.
Para Ciesp, entraves de alguns países devem impedir crescimento
Mesmo diante de um cenário otimista por conta da alta do dólar e das medidas anunciadas pelo governo federal para aumentar a competitividade da indústria nacional frente aos produtos importados, o diretor do Ciesp de Bauru, Domingos Malandrino, acredita que alguns entraves impostos por países da América Latina devem impedir que o setor cresça até o final deste ano.
“Pode ser que Bauru tenha uma certa recuperação, mas poderemos ter dificuldades com alguns dos nossos principais países de destino, como é o caso Argentina, que impôs uma política agressiva contrária às importações brasileiras”, cita.
Além das barreiras criadas pelo governo argentino, segundo o diretor, o momento político delicado pelo qual atravessa o Paraguai também pode acarretar consequências à indústria de Bauru. “O Paraguai é outro importador muito importante para a cidade (figura atrás somente da Bolívia) e este cenário ruim poderá gerar reflexos na nossa balança comercial”, observa.