Ciências

A ciência e os tapetes persas


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Na antiga Pérsia, atual Irã, se fabricam os melhores tapetes. Um grupo de turistas visitou uma fábrica e no final da linha de produção reparou que tapetes prontos eram levados para um grande salão, onde alguns funcionários promoviam alguns defeitos ou imperfeições com estiletes.

Intrigados perguntaram: por que os funcionários "estragavam" os tapetes, depois de conferir se estavam perfeitos. O guia explicou:

- Nada que o homem possa fazer, será perfeito! Toda obra humana tem defeito, senão não será humano, a perfeição apenas Deus atingirá! Os tapetes persas podem ser lindos, bonitos, caros e quase sem defeitos, mas perfeitos nunca !

Como toda atividade humana, a ciência não poderia ser uma exceção e tem inúmeros defeitos e limitações. Na ciência, como em qualquer ramo, prevalece interesses, vaidades e dinheiro.

Qualquer cidadão interessado em fazer um trabalho científico pode, nem precisa ser doutor. Para ser cientifico, o trabalho deve ser publicado em revista especializada e têm se milhares delas. Para publicar tem que descrever o que foi feito de forma clara e objetiva, dividindo-se o texto: introdução, objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões. Este formato permite que em qualquer parte, reproduzindo-se as mesmas condições, possa-se chegar aos mesmos resultados. Quando isto acontecer, indica que os resultados podem ser chamados verdadeiros.

Se um trabalho não foi publicado não pode ser considerado científico, pois não terá condições de ser conferido e confirmado por outros pesquisadores. Parece simples fazer ciência, mas vários obstáculos são colocados para quem quer exerce-la.

O primeiro obstáculo: quem vai comprar os equipamentos, produtos e salários das pessoas que irão fazer o trabalho. O cientista e técnicos vão ter que sobreviver. O pesquisador vai ter que pedir para financiar. Vários órgãos financiam, mas exigem projeto com planilhas de custos e cronograma para aprovar e liberar o dinheiro. Para alguém fazer este pedido, os órgãos financiadores como a FAPESP, FINEP e CNPq exigem que o solicitante tenha o título de doutor. Se não for doutor, não posso fazer ciência? Pode, mas vai ter que se autofinanciar!

Ao enviar o trabalho, a revista quer saber: onde foi feito e quem financiou? Tens emprego de pesquisador, professor, e a qual grupo de pesquisadores pertence? Depois de analisarem o trabalho como muito bom, devem publicar.

Os órgãos que financiam pesquisas são do governo e este investimento não precisa ser devolvido pelo pesquisador e nem se paga imposto de renda por ele. Resumindo: cada cidadão com seus impostos paga as pesquisas no país, com raríssimas exceções. A taxa tributária é elevada, mas várias coisas são pagas com ela, como as pesquisas. É muito dinheiro! E não devemos esquecer que os salários dos pesquisadores, técnicos e funcionários são pagos pela mesma taxa tributária.

Em torno da ciência tem um sistema industrial muito poderoso como industrias químicas, farmacológicas, de equipamentos, viagens, editoras e publicidade. Se as pesquisas diminuem, cai o faturamento, a produtividade e as industrias fecham e perdem-se empregos.

Sobre a publicidade e comunicação de resultados ainda preliminares sobre os bósons de Higgs de forma "midiática" como as partículas "de Deus", uma leitora atenta perguntou: por que os cientistas reuniriam a imprensa para comunicar sobre algo que ainda não passa de teoria ou que ainda se tem dúvidas? As razões são:

1ª) a competitividade entre os cientistas é muito grande, mesmo dentro do próprio CERN, tem equipes diferentes pesquisando a mesma coisa!

2ª) algumas evidências podem ou são os bósons de Higgs, mas precisam continuar pesquisando ao longo dos anos para confirmar e requer-se muito dinheiro. A crise europeia está colocando em risco as pesquisas no CERN e o emprego de cerca de 10 mil pessoas.

Querem fazer disto uma prioridade que não deveria ser cortada dos orçamentos dos governos. Se a sociedade está curiosa e motivada pela partícula "de Deus" para entender como nos fizeram no início do universo, os governos não cortarão as verbas. Tem muito dinheiro em jogo e seguir as regras clássicas de publicação demoraria muito e a mídia e sociedade não seria motivada a tempo, pois ela se move quase sempre por coisas sensacionalistas anunciadas de forma fantástica!

Nada é perfeito: nem tapetes persas, nem a ciência!

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